Senado exige a verdade que Trump prometeu esconder sobre o caso Jeffrey Epstein

O pedido é a mais recente tentativa dos democratas e alguns republicanos no Congresso de pressionar o governo Trump a divulgar os chamados arquivos de Epstein após descumprir promessas de fazê-lo / Getty

Senadores exigem que o governo Trump cumpra a promessa de abrir os arquivos de Epstein, alimentando uma batalha por transparência que envolve nomes intocáveis


Em mais um capítulo da saga envolvendo o polêmico caso Jeffrey Epstein, um grupo de senadores democratas recorreu a uma lei pouco conhecida para exigir do governo Trump a liberação imediata dos arquivos relacionados às investigações sobre o traficante sexual. A pressão aumenta sobre o Departamento de Justiça, que até agora resistiu às promessas anteriores de transparência feitas pelo presidente Donald Trump.

Na manhã desta quarta-feira (30), o líder da minoria no Senado, Chuck Schumer (D-NY), liderou uma coletiva de imprensa no Capitólio para anunciar a nova iniciativa. Juntamente com outros sete democratas membros do Comitê de Segurança Interna e Assuntos Governamentais, Schumer enviou uma carta oficial à procuradora-geral Pam Bondi, exigindo que todos os documentos relacionados a Epstein sejam entregues até 15 de agosto.

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O pedido se apoia em uma seção específica da lei federal que obriga uma agência executiva a fornecer “qualquer informação solicitada a ela relacionada a qualquer assunto dentro da jurisdição do comitê” quando requerida por cinco membros do painel. A carta assinada pelos senadores afirma: “Após erros e promessas não cumpridas do seu Departamento em relação a esses arquivos, é essencial que o governo Trump forneça total transparência”.

A iniciativa surge semanas após o Departamento de Justiça frustrar as expectativas de congressistas e da opinião pública ao não divulgar os tão prometidos arquivos de Epstein. A pressão tem aumentado ainda mais após declarações recentes do próprio Trump, que afirmou que seu ex-amigo Epstein “roubou” funcionários do spa do clube Mar-a-Lago, incluindo Virginia Giuffre, que posteriormente foi vítima de abusos sexuais.

Promessas não cumpridas e frustração no Congresso

A carta dos senadores destaca que, durante sua campanha presidencial em 2024, Trump afirmou publicamente em uma rede social que desclassificaria os arquivos de Epstein. Na época, ele disse: “Quando questionado novamente se divulgaria uma lista de clientes de Epstein, o presidente Trump respondeu: ‘Sim, certamente daria uma olhada. […] Eu estaria inclinado a divulgar a lista de clientes de Epstein. Não teria problema algum com isso’”.

A promessa foi reiterada após Trump assumir o cargo, quando Pam Bondi, nomeada como procuradora-geral, afirmou que a lista de clientes de Epstein estava “em minha mesa agora mesmo para revisão”. No entanto, até o momento, nada foi tornado público.

Uma porta-voz do Departamento de Justiça confirmou ter recebido a carta dos senadores, mas se recusou a comentar o conteúdo ou a possível resposta do governo.

Justiça divulga parte dos documentos, mas conteúdo é limitado

Na tentativa de aliviar parte da pressão política, o Departamento de Justiça solicitou, na última terça-feira, a diversos juízes federais a liberação parcial de transcrições dos depoimentos do grande júri coletados durante as investigações contra Epstein e sua cúmplice, Ghislaine Maxwell. Os documentos foram apresentados ao Tribunal Distrital dos EUA em Manhattan, com a justificativa de que “há, sem dúvida, um interesse claramente expresso pelo público nos crimes de Jeffrey Epstein e Ghislaine Maxwell”.

No entanto, especialistas e legisladores afirmam que essas transcrições representam apenas uma pequena fração das informações existentes. O que o Congresso e a sociedade civil desejam são os arquivos completos mantidos em sigilo pelo Departamento de Justiça — documentos que podem conter nomes de clientes, detalhes financeiros e outros dados sensíveis que nunca foram revelados.

Epstein morreu em agosto de 2019 em uma cela da prisão federal de Manhattan, semanas após ser indiciado por tráfico sexual de menores. Maxwell foi condenada em 2021 a 20 anos de prisão por seu papel no esquema de recrutamento e abuso de jovens.

Virginia Giuffre e o legado das acusações

A tensão entre Trump e Epstein ganhou novos contornos após a revelação de que Virginia Giuffre, uma das principais vítimas do caso, trabalhava no spa do clube Mar-a-Lago quando foi abordada por Maxwell aos 17 anos. Giuffre, que mais tarde denunciou ter sido forçada a manter relações com Epstein e outros homens poderosos, cometeu suicídio em abril deste ano, aos 41 anos.

Na terça-feira, Trump disse aos repórteres que Epstein “roubou” funcionários do spa, o que teria sido o estopim da ruptura entre os dois. A declaração só aumentou o interesse público sobre o conteúdo dos arquivos que o governo ainda se recusa a divulgar.

Para os senadores democratas, a luta pela transparência não é apenas política — é uma questão de justiça. “O povo americano tem o direito de saber a verdade completa sobre os crimes de Epstein e todos os envolvidos. O governo Trump não pode continuar escondendo informações que pertencem à história e à justiça”, declarou Schumer durante a coletiva.

Com o prazo estabelecido na carta se aproximando, os olhos do país estão voltados para o Departamento de Justiça — e para uma decisão que pode redefinir os limites da transparência governamental em um dos casos mais sensacionais da história recente dos Estados Unidos.

Trump teria escrito carta “obscena” para Jeffrey Epstein em aniversário de 50 anos, revela WSJ

Uma revelação bombástica veio à tona na noite de quinta-feira (17), quando o Wall Street Journal publicou que o presidente Donald Trump teria enviado uma carta “obscena” ao notório traficante sexual Jeffrey Epstein em comemoração ao seu 50º aniversário, em 2003. A informação foi baseada em documentos analisados pelo jornal, incluindo um álbum de cartas de aniversário que Epstein teria recebido da amiga e cúmplice Ghislaine Maxwell.

A carta, assinada por Trump, teria sido escrita 16 anos antes de Epstein ser formalmente acusado pelo Departamento de Justiça por tráfico sexual infantil — crime que resultou na prisão do bilionário em 2019 e sua subsequente morte em agosto daquele ano, em uma cela da prisão federal de Manhattan, em circunstâncias consideradas suicídio.

A revelação surge em um momento delicado para o governo Trump, que enfrenta crescente pressão do Congresso para divulgar documentos relacionados às investigações sobre Epstein. A procuradora-geral Pam Bondi tem sido alvo de críticas por não cumprir promessas anteriores de transparência.

Segundo o Wall Street Journal, a carta continha “várias linhas de texto datilografado emolduradas pelo contorno de uma mulher nua, que parece ter sido desenhado à mão com um marcador grosso. Um par de pequenos arcos denota os seios da mulher, e a assinatura da futura presidente é um ‘Donald’ ondulado abaixo da cintura, imitando pelos pubianos”. A mensagem finalizava com: “Feliz aniversário — e que cada dia seja outro segredo maravilhoso”.

O conteúdo da carta, de linguagem claramente sexual, gerou comoção no meio político e jurídico. O presidente Trump negou veementemente ter escrito ou desenhado a carta em uma entrevista concedida na terça-feira. “Isso não sou eu. Isso é falso. É uma história falsa do Wall Street Journal”, disse. “Eu nunca escrevi um quadro na minha vida. Eu não desenho mulheres. Não é a minha linguagem. Não são as minhas palavras.”

Após a publicação da matéria, Trump afirmou que iria processar o Wall Street Journal, sua empresa controladora, a NewsCorp, e Rupert Murdoch, cuja família detém o controle acionário da publicação. Em post no Truth Social, Trump alegou que Murdoch havia sido “avisado diretamente” de que seria processado caso a reportagem fosse publicada. “O Sr. Murdoch declarou que cuidaria disso, mas, obviamente, não tinha autoridade para fazê-lo”, escreveu.

Apesar da negativa, o álbum mencionado pelo jornal também conteria cartas de outras figuras públicas próximas a Epstein, como o advogado Alan Dershowitz e o bilionário Les Wexner. Segundo o Wall Street Journal, o álbum estava entre os documentos examinados por funcionários do Departamento de Justiça durante investigações anteriores sobre Epstein e Maxwell.

A polêmica ganha ainda mais força em meio a uma onda de demissões e tensões no Ministério Público. Na véspera da publicação da matéria, Maurene Comey — filha do ex-diretor do FBI James Comey, um dos principais alvos de críticas de Trump — foi demitida do cargo de promotora federal em Manhattan, onde havia atuado em processos contra Epstein e Maxwell.

Após a repercussão da matéria, Trump afirmou que havia solicitado à procuradora-geral Pam Bondi que buscasse “todo e qualquer depoimento pertinente do Grande Júri, sujeito à aprovação do Tribunal”, sobre o caso Epstein. No entanto, especialistas jurídicos destacaram que o sigilo em torno dos depoimentos do grande júri é extremamente rigoroso, o que levanta dúvidas sobre a viabilidade real do pedido.

Trump sempre afirmou que encerrou sua amizade com Epstein antes deste se declarar culpado por crimes relacionados ao tráfico de menores em 2008. Mesmo assim, as imagens de arquivo mostrando os dois juntos em eventos sociais — incluindo uma festa em 1992 — têm sido frequentemente utilizadas como base para questionamentos sobre o grau de proximidade entre o então empresário imobiliário e o traficante.

Com a publicação da carta, a polêmica em torno do envolvimento de Trump com Epstein ganha novos contornos, reacendendo debates sobre transparência, ética e o alcance da influência de figuras públicas em investigações criminais.

Com informações de CNBC*

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