Sob tarifas de 50%, Lula rejeita subserviência ao EUA

Apesar da pressão externa, o Brasil busca diálogo e recusa imposições, com Lula deixando claro que o país não aceita ser tratado como inferior / Agência Brasil

O presidente Lula desafia as novas tarifas dos EUA e reforça o papel estratégico do Brasil no cenário global, destacando sua soberania e poder de negociação


O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, voltou a demonstrar, nesta quarta-feira (30), a postura clara e determinada do Brasil frente às recentes ameaças comerciais vindas dos Estados Unidos. Em entrevista concedida ao jornal The New York Times, uma das primeiras desde o início de seu mandato, Lula não apenas defendeu a soberania nacional, mas também reforçou a ideia de que o Brasil é uma potência global com voz própria no cenário internacional.

As declarações foram feitas na esteira das novas tarifas de 50% anunciadas pelo governo norte-americano, liderado por Donald Trump, sobre produtos brasileiros. A medida, que entra em vigor já nesta sexta-feira (1º), tem gerado preocupação no setor produtivo e entre os analistas econômicos, mas também tem sido recebida com firmeza pelo Executivo brasileiro.

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“Em nenhum momento o Brasil negociará como se fosse um país pequeno contra um país grande”, afirmou Lula, destacando que o Brasil tem história, dimensão e capacidade para dialogar como uma nação de porte. A frase foi interpretada como um recado direto a Washington, rejeitando qualquer tentativa de tratamento desigual nas relações bilaterais.

Apesar de reconhecer a força econômica, tecnológica e militar dos Estados Unidos, o presidente ressaltou que isso não deve ser usado como base para imposições. “Conhecemos o poder econômico dos Estados Unidos, reconhecemos o poder militar dos Estados Unidos, reconhecemos a dimensão tecnológica dos Estados Unidos. Mas isso não nos deixa com medo. Nos deixa preocupados”, disse ele, mostrando uma postura equilibrada entre realismo e coragem.

Lula também criticou a dificuldade de diálogo com o governo Trump, afirmando que tem buscado, sem sucesso até agora, estabelecer um canal direto com o presidente norte-americano. “O que está impedindo é que ninguém quer conversar. Todos sabem que pedi para fazer contato”, destacou. Sua frustração com a falta de reciprocidade na relação comercial ficou evidente durante a entrevista.

Além disso, o petista aproveitou a ocasião para reforçar a importância estratégica do Brasil no cenário internacional. Na última segunda-feira (28), em São João da Barra, no Rio de Janeiro, Lula fez um apelo direto a Trump, convidando-o a refletir sobre o papel do Brasil no mundo. “Reflete sobre a importância do Brasil. Resolve as suas divergências por negociação, como fazem os países civilizados”, declarou.

Enquanto aguarda uma resposta mais clara do lado americano, o governo brasileiro mantém uma postura de espera e análise. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicou, em entrevista à CNN na terça-feira (29), que o Brasil prefere manter o diálogo antes de adotar medidas retaliatórias. “Estamos à espera de uma manifestação mais clara do governo americano. Não queremos agravar uma situação que pode ser resolvida por meio do diálogo”, afirmou o titular da pasta.

Paralelamente, uma comitiva de senadores brasileiros encontra-se nos Estados Unidos desde o início da semana, realizando reuniões com parlamentares e empresários locais. O objetivo é buscar formas de amenizar as tensões e promover um entendimento mútuo, mesmo diante do clima de confrontação.

A atual crise comercial surge em um momento delicado para as relações entre os dois países, que tradicionalmente têm laços históricos e econômicos fortes. No entanto, sob o novo contexto político, marcado pela retórica protecionista de Trump, a diplomacia brasileira precisa repensar estratégias para defender interesses nacionais sem comprometer alianças estratégicas.

A postura de Lula, embora firme, não parece estar apostando em confrontos diretos. Pelo contrário, o presidente busca construir uma narrativa de igualdade e respeito mútuo, mesmo diante de um interlocutor de peso no cenário internacional. “Seriedade não exige subserviência”, frisou ele, reiterando que o Brasil não vai abrir mão de sua autonomia e dignidade diante de pressões externas.

Com as tarifas americanas prestes a entrar em vigor, o Brasil segue atento aos movimentos do governo Trump, enquanto trabalha para garantir que a resposta seja tanto eficaz quanto proporcional. O foco, segundo autoridades, continua sendo a manutenção do equilíbrio entre firmeza e prudência — uma tarefa que exigirá, nos próximos dias, não só da equipe econômica, mas também da comunicação estratégica do Palácio do Planalto.

Governo planeja proteger pequenos negócios com subsídios diante de tarifas dos EUA

Diante da iminente entrada em vigor das tarifas de 50% sobre produtos brasileiros anunciadas pelo governo norte-americano, o ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, Márcio França, revelou que o Brasil está analisando medidas de apoio direto aos pequenos produtores afetados. Entre as opções sob estudo está a possibilidade de subsidiar a comercialização desses bens no mercado interno, especialmente para evitar prejuízos irreparáveis ao setor produtivo.

“A gente tem que estar preparado para todos os tipos de situações”, afirmou o ministro em entrevista ao programa Bom Dia, Ministro, exibido nesta quarta-feira (30) pelo Canal Gov. Para ele, as tarifas representam mais do que um aumento na carga tributária — trata-se, na prática, de uma forma de boicote ao comércio brasileiro. “Porque com 50%, você proíbe a venda. Você inviabiliza”, destacou França.

O ministro ressaltou que os impactos serão mais sentidos pelos pequenos empreendedores, que não têm a mesma capacidade de absorver custos ou resistir a choques externos como as grandes corporações. Produtos perecíveis, como peixe, manga e frutas tropicais, estão entre os mais vulneráveis, já que seu prazo de validade limita a margem de manobra para buscar novos mercados. “O problema é que os grandes têm como aguentar esse fôlego e os pequenos nem sempre têm”, explicou.

Solução emergencial para produtos perecíveis

Uma das estratégias em análise envolve a distribuição desses produtos no mercado interno por meio de subsídios governamentais. França sugeriu que itens que perderiam viabilidade no exterior sejam vendidos a preços acessíveis dentro do país, seja por meio da rede pública de ensino, programas sociais ou até mesmo por meio de ofertas promocionais.

“A minha sugestão ao vice-presidente Geraldo Alckmin e também ao presidente Lula é que, neste caso, como os valores são pequenos perto do todo, perto de um avião, perto da laranja, a gente possa subsidia-los e colocar na merenda escolar, ou faz a manga a R$ 1, que certamente todo mundo compraria”, argumentou o ministro.

Segundo ele, o custo de armazenamento e conservação de alimentos perecíveis muitas vezes supera o próprio valor comercial do produto, tornando inviável mantê-los fora do consumo. “É difícil para as pessoas no Brasil poderem comprar. Agora, faz R$ 10 reais que todo mundo compra. Então, a gente subsidia”, justificou.

Experiência com desastres naturais como base

Márcio França lembrou que o governo já adotou políticas semelhantes em outras situações de crise. Um exemplo recente foi a ajuda concedida às empresas afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul no ano passado. Na ocasião, 38 mil unidades fecharam temporariamente, mas com apoio público, 37 mil já haviam retomado as atividades. “Nós demos R$ 100 mil e a pessoa saiu do banco devendo R$ 60 mil para pagar daqui a dois anos”, relatou o ministro, destacando a eficácia de políticas públicas rápidas e diretas.

Diminuição da dependência dos EUA

França também chamou atenção para o fato de que o Brasil hoje é menos dependente do mercado norte-americano do que costumava ser. Em meados do século passado, os Estados Unidos eram responsáveis por cerca de metade das exportações brasileiras. Hoje, segundo o ministro, eles respondem por cerca de 15% a 16% do total. “Então é relevante, mas já não é um absurdo”, avaliou.

Ele destacou o papel fundamental do presidente Lula na diversificação do comércio internacional do país, que abriu mais de 200 novos mercados desde o início do atual mandato. “É bom lembrar, eu acho isso muito relevante, os americanos já foram 50% de todo o destino de quem exportava. Foi exatamente o presidente Lula, com uma visão estratégica correta, que foi abrindo mercado.”

Medidas prontas para implementação

O ministro confirmou que o governo já tem em mãos respostas prontas para serem acionadas assim que as tarifas norte-americanas forem oficializadas. “As respostas mais urgentes estão preparadas, prontas para o presidente poder assinar também. Muitas delas nem dependem de lei”, disse França.

Apesar disso, ele ressaltou a importância de agir com cuidado para não provocar efeitos colaterais negativos, como uma onda inflacionária. O Congresso Nacional tem sido visto como um aliado importante nesse processo, com destaque para a recente aprovação da Lei da Reciprocidade. No entanto, França alertou: “Para nós não adianta fazer uma reciprocidade pura e simples, porque, por exemplo, aí você traz a inflação para cá”.

Preparação para resistir à pressão externa

Para o ministro, a atual crise é uma demonstração de que o Brasil está cada vez mais maduro e independente diante de pressões internacionais. “Serve para a gente poder demonstrar que o Brasil não é mais uma colônia, um país pequeno. Nós estamos preparados para situações graves, como aconteceu com a pandemia, como aconteceu com a estrutura do SUS, como acontece com enchentes”, afirmou.

França destacou ainda a importância de priorizar os produtos perecíveis, mas deixou claro que outras categorias de pequenos negócios também podem ser contempladas. “Nada impede de acudir também todos os pequenos, que formam poucos no Brasil”, concluiu.

Com as tarifas previstas para entrarem em vigor já nesta sexta-feira (1º), o governo intensifica seus esforços para mitigar os impactos sobre a economia, especialmente no setor mais vulnerável. A expectativa agora é pela definição formal das medidas norte-americanas, que, segundo França, ainda não foram oficializadas por decreto ou lei. Enquanto isso, o Brasil segue firme em sua estratégia de proteger a economia doméstica e garantir a sustentabilidade dos pequenos negócios.

Com informações da CNN Brasil* e Agência Gov

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