Pesquisa AtlasIntel mostra que Lula voltou a ter mais aprovação do que reprovação, impulsionado por discurso firme contra tarifas impostas por Trump
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a ter mais aprovações do que desaprovações entre os brasileiros pela primeira vez em 2025. Os dados são da mais recente pesquisa divulgada pela AtlasIntel/Bloomberg, nesta quinta-feira (31). No levantamento, 50,2% dos entrevistados disseram aprovar o governo Lula, enquanto 49,7% desaprovam. Na pesquisa anterior, realizada duas semanas antes, os índices estavam praticamente empatados: 50,3% de reprovação e 49,7% de aprovação.
Essa é a primeira vez desde outubro do ano passado que o saldo de aprovação do presidente fica positivo. A sondagem foi feita com 7.334 pessoas, entre os dias 25 e 28 de julho, com margem de erro de aproximadamente 1 ponto percentual.
O aumento da popularidade de Lula parece estar relacionado à reação do governo brasileiro diante da ameaça de tarifas de importação impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O anúncio de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros gerou uma onda de apoio ao governo, principalmente nas redes sociais, onde o discurso de defesa da soberania nacional encontrou eco entre diversos setores da população.
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Desde março, a avaliação positiva do governo vem subindo, enquanto a negativa vem caindo desde maio. Na nova pesquisa, 46,6% dos entrevistados avaliaram o governo como “ótimo” ou “bom”, um aumento de 3,2 pontos em relação ao levantamento anterior. Já a avaliação “ruim” ou “péssimo” recuou para 48,2%, com uma redução de 1,2 ponto. Outros 5,1% consideram o governo “regular”.
A melhora da avaliação também se reflete nas regiões do país. No Sudeste, tradicionalmente mais crítico ao governo federal, a aprovação de Lula subiu para 50,9%, enquanto a desaprovação ficou em 48,9%. O Nordeste, base eleitoral tradicional do PT, segue como a região com maior apoio ao presidente: 66,1% dos entrevistados da região avaliam positivamente o governo, cerca de 16 pontos percentuais acima da média nacional.
Já no Norte, a situação é inversa. A região apresenta a maior taxa de desaprovação, com 70,3%. O Centro-Oeste e o Sul também registraram níveis de reprovação acima da média nacional.
Lula lidera todos os cenários eleitorais para 2026
Além da avaliação do governo, a pesquisa também mapeou os cenários eleitorais para as eleições presidenciais de 2026. Em todos os levantamentos, Lula aparece à frente dos demais concorrentes em disputas de primeiro e segundo turnos.
No cenário com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), Lula aparece com 48,5% das intenções de voto, contra 33% de Tarcísio. A diferença entre os dois é de 15,5 pontos percentuais. Nesse cenário, apenas 2,8% dos entrevistados afirmaram que votariam em branco, nulo ou que ainda estão indecisos.
Em um segundo cenário, com Michele Bolsonaro como candidata, Lula tem 48,5% das intenções de voto, enquanto ela soma 29,7%. Entre junho e julho, a vantagem do presidente aumentou 4,2 pontos.
Já no cenário com Fernando Haddad como candidato do PT, o ministro da Fazenda aparece com apenas 0,4 ponto percentual de vantagem sobre Tarcísio de Freitas.
Nos cenários de segundo turno, Lula também lidera. Sua vantagem sobre Jair Bolsonaro é de 3,8 pontos percentuais. Em relação a Tarcísio e Michele, as diferenças são de 3,8 e 4,7 pontos, respectivamente. Entre junho e julho, essas vantagens aumentaram 3,1 e 4,2 pontos, respectivamente.
Contra outros nomes da direita como Romeu Zema, Ronaldo Caiado, Ratinho Jr. e Eduardo Leite, Lula aparece com ampla vantagem.
Imagem de Lula também melhora
A pesquisa também revela uma melhora na imagem pessoal do presidente. Pela primeira vez em 2025, a avaliação positiva de Lula (51%) supera a negativa (48%). O crescimento foi de 4 pontos percentuais entre junho e julho.
Já o ex-presidente Jair Bolsonaro teve uma piora em sua imagem. Sua avaliação negativa aumentou 2 pontos, enquanto a positiva caiu 2 pontos no mesmo período. A imagem de Tarcísio de Freitas permaneceu estável, e a de Fernando Haddad subiu 3 pontos percentuais.
Com esses números, Lula reforça sua posição como principal nome da disputa presidencial de 2026, mantendo tanto a aprovação quanto a intenção de voto à sua frente em todos os cenários testados pela pesquisa da AtlasIntel.
Lula: Brasil é soberano e interferência dos EUA é inaceitável
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu de forma contundente, na noite desta quarta-feira (30), às recentes medidas anunciadas pelo governo dos Estados Unidos. Em nota oficial divulgada após sanções impostas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e à taxação de 50% sobre produtos brasileiros, Lula defendeu com firmeza a soberania nacional e a independência das instituições brasileiras.
“O Brasil é um país soberano e democrático, que respeita os direitos humanos e a independência entre os Poderes. Um país que defende o multilateralismo e a convivência harmoniosa entre as Nações, o que tem garantido a força da nossa economia e a autonomia da nossa política externa. É inaceitável a interferência do governo norte-americano na Justiça brasileira”, declarou o presidente em comunicado oficial.
A manifestação de Lula ocorre em meio a uma escalada nas tensões diplomáticas entre Brasília e Washington. O anúncio da ordem executiva assinada pelo presidente Donald Trump impõe uma tarifa de 50% sobre uma série de produtos brasileiros, embora inclua uma lista com quase 700 exceções. Além disso, o governo americano sancionou o ministro Alexandre de Moraes, em uma medida que o governo brasileiro classifica como uma ingerência inadmissível.
Na nota, Lula expressou solidariedade ao ministro do STF e destacou que as sanções contra Moraes têm como motivação a atuação de políticos brasileiros contrários às instituições democráticas do país. “Um dos fundamentos da democracia e do respeito aos direitos humanos no Brasil é a independência do Poder Judiciário e qualquer tentativa de enfraquecê-lo constitui ameaça ao próprio regime democrático. Justiça não se negocia”, ressaltou.
O presidente também reafirmou o compromisso do Brasil com a legislação interna, incluindo ações contra conteúdos que ameaçam a democracia e a segurança da população. “A sociedade brasileira rejeita conteúdos de ódio, racismo, pornografia infantil, golpes, fraudes, discursos contra os direitos humanos e a democracia”, declarou.
Lula ainda criticou o uso de motivações políticas para justificar medidas comerciais unilaterais por parte dos Estados Unidos. Segundo ele, o Brasil acumula um déficit comercial significativo com os EUA e as ações recentes representam uma ameaça à soberania nacional e ao histórico de relações entre os dois países.
“A motivação política das medidas contra o Brasil atenta contra a soberania nacional e a própria relação histórica entre os dois países”, observou o presidente.
Apesar das críticas, o governo brasileiro sinalizou disposição para negociar aspectos comerciais da relação bilateral, desde que respeitados os mecanismos legais de defesa do país, como a Lei de Reciprocidade Comercial. Além disso, Lula anunciou a elaboração de um plano de contingência para mitigar os impactos econômicos das tarifas impostas.
“Nossa economia está cada vez mais integrada aos principais mercados e parceiros internacionais. Já iniciamos a avaliação dos impactos das medidas e a elaboração das ações para apoiar e proteger os trabalhadores, as empresas e as famílias brasileiras”, finalizou o presidente.
A nota reforça a postura de defesa da soberania nacional diante do que o governo brasileiro considera uma tentativa de ingerência externa em assuntos internos. Com isso, Lula busca reafirmar a independência do Brasil em um momento delicado das relações internacionais e em vésperas de um novo ciclo eleitoral em 2026.
Confira a íntegra da nota oficial do presidente Lula:
O Brasil é um país soberano e democrático
O Brasil é um país soberano e democrático, que respeita os direitos humanos e a independência entre os Poderes. Um país que defende o multilateralismo e a convivência harmoniosa entre as Nações, o que tem garantido a força da nossa economia e a autonomia da nossa política externa.
É inaceitável a interferência do governo norte-americano na Justiça brasileira.
O governo brasileiro se solidariza com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, alvo de sanções motivadas pela ação de políticos brasileiros que traem nossa pátria e nosso povo em defesa dos próprios interesses.
Um dos fundamentos da democracia e do respeito aos direitos humanos no Brasil é a independência do Poder Judiciário e qualquer tentativa de enfraquecê-lo constitui ameaça ao próprio regime democrático. Justiça não se negocia.
No Brasil, a lei é para todos os cidadãos e todas as empresas. Qualquer atividade que afete a vida da população e da democracia brasileira está sujeita a normas. Não é diferente para as plataformas digitais.
A sociedade brasileira rejeita conteúdos de ódio, racismo, pornografia infantil, golpes, fraudes, discursos contra os direitos humanos e a democracia.
O governo brasileiro considera injustificável o uso de argumentos políticos para validar as medidas comerciais anunciadas pelo governo norte-americano contra as exportações brasileiras. O Brasil tem acumulado nas últimas décadas um significativo déficit comercial em bens e serviços com os Estados Unidos. A motivação política das medidas contra o Brasil atenta contra a soberania nacional e a própria relação histórica entre os dois países.
O Brasil segue disposto a negociar aspectos comerciais da relação com os Estados Unidos, mas não abrirá mão dos instrumentos de defesa do país previstos em sua legislação. Nossa economia está cada vez mais integrada aos principais mercados e parceiros internacionais.
Já iniciamos a avaliação dos impactos das medidas e a elaboração das ações para apoiar e proteger os trabalhadores, as empresas e as famílias brasileiras.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Presidente da República
Com informações de ICL, Atlas e Agências de Notícias*