China autoriza 183 empresas do Brasil aexportar café em meio ao tarifaço de Trump

RICARDO STUCKERT/PR

A China aprovou a habilitação de 183 novas empresas brasileiras para exportação de café ao seu território, conforme anúncio divulgado pela embaixada chinesa no Brasil no último domingo, 3. A medida, que entrou em vigor em 30 de julho, ocorre em meio à escalada das tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos e abre uma nova frente de mercado para os produtores brasileiros do grão.

A decisão é interpretada como uma alternativa estratégica diante das tarifas de 50% impostas pelo governo norte-americano, liderado por Donald Trump, sobre uma série de produtos brasileiros, incluindo o café. As tarifas, anunciadas em julho, estão previstas para entrar em vigor em 6 de agosto.

Dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafe) indicam que o Brasil exportou 440.034 sacas de 60 quilos para os Estados Unidos em junho de 2025. No mesmo mês, o volume enviado à China foi de aproximadamente 56 mil sacas. A autorização para mais empresas operarem com o mercado chinês busca equilibrar essa disparidade.

A concessão feita pelas autoridades chinesas garante certificados de exportação com validade de cinco anos. O movimento sinaliza a intenção de Pequim em aprofundar as relações comerciais com o Brasil no setor agrícola, especialmente em um momento em que Washington adota medidas protecionistas.

A cadeia produtiva do café nacional depende amplamente do mercado norte-americano. Estima-se que o Brasil atenda cerca de um terço do consumo anual de café dos Estados Unidos. O fluxo comercial envolvendo o grão entre os dois países movimentou aproximadamente US$ 4,4 bilhões nos 12 meses encerrados em junho de 2025.

Especialistas do setor veem a habilitação de novas empresas como uma oportunidade para diversificação dos destinos das exportações. O mercado chinês, embora ainda represente uma parcela pequena do total comercializado, possui potencial de crescimento, especialmente diante do aumento do consumo de café em centros urbanos da Ásia.

Até o momento, nem o Ministério da Agricultura nem o Cecafe comentaram oficialmente a medida chinesa. A autoridade alfandegária da China também não respondeu a pedidos de esclarecimento, uma vez que o anúncio ocorreu fora do horário comercial no país asiático.

Segundo fontes da indústria cafeeira, a entrada de novas empresas no mercado chinês poderá incentivar investimentos em logística e distribuição voltados ao leste asiático, com foco em cidades como Xangai, Pequim e Cantão, que concentram o consumo de bebidas gourmet.

O movimento da China também é observado em meio a um cenário de reorganização das cadeias globais de fornecimento. Desde que os Estados Unidos adotaram as tarifas sobre produtos brasileiros, diferentes setores da economia nacional têm buscado ampliar sua presença em mercados alternativos, com destaque para países asiáticos e do Oriente Médio.

A medida chinesa ocorre paralelamente à intensificação do comércio bilateral entre os dois países. Em 2024, a China se manteve como principal parceiro comercial do Brasil, com fluxo de comércio superior a US$ 150 bilhões. O agronegócio representou parcela significativa dessa movimentação.

A autorização concedida às novas empresas exportadoras ocorre no momento em que o setor cafeeiro se mobiliza para lidar com os efeitos do tarifaço norte-americano. Produtores e entidades representativas já alertaram para os impactos financeiros da medida de Trump, que pode comprometer margens de lucro e contratos já firmados com importadores dos Estados Unidos.

Representantes da cadeia produtiva também têm pressionado o governo federal por medidas de compensação ou abertura de novos mercados para mitigar as perdas previstas com a queda nas exportações para o mercado norte-americano. Entre os destinos prioritários estão países do sudeste asiático, África e Europa Oriental.

A habilitação para exportação à China é considerada um passo relevante dentro desse esforço de reposicionamento estratégico. Ainda que o volume de vendas para o país asiático seja, até agora, limitado, há consenso de que a abertura regulatória pode facilitar a ampliação da presença brasileira nesse mercado nos próximos anos.

Com a proximidade da entrada em vigor das tarifas dos EUA, o setor cafeeiro segue monitorando a evolução das negociações entre os governos de Brasil e Estados Unidos. Até o momento, não houve anúncio oficial de recuo ou adiamento da medida por parte de Washington.

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