Inglesa anuncia maior descoberta de petróleo e gás em 25 anos no pré-sal brasileiro; Com área superior a 300 km², campo descoberto no bloco Bumerangue pode reaquecer o interesse estrangeiro pelo pré-sal brasileiro
A britânica BP — antiga British Petroleum — divulgou nesta segunda-feira (4) uma notícia que agita o setor energético internacional: encontrou sua maior reserva de petróleo e gás em dois décênios e meio, localizada no pré-sal da Bacia de Santos, no Brasil. A descoberta, considerada promissora por especialistas, pode revitalizar o interesse das grandes companhias de energia pelas águas ultra-profundas brasileiras, onde se encontram algumas das maiores reservas subterrâneas do mundo.
Segundo informações da própria petroleira, o reservatório foi identificado no bloco Bumerangue, situado a aproximadamente 404 quilômetros da costa do Rio de Janeiro. Embora ainda esteja em fase de avaliação, os primeiros dados indicam um campo de alta qualidade, com área superior a 300 quilômetros quadrados e uma coluna de óleo com cerca de 500 metros de altura.
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“Estamos entusiasmados em anunciar esta descoberta significativa em Bumerangue, a maior da BP em 25 anos”, declarou o vice-presidente da empresa, Gordon Birrel, em nota oficial. Ele destacou ainda a importância do Brasil para os planos estratégicos da companhia: “O Brasil é um país importante para a BP, e nossa ambição é explorar o potencial de estabelecer um hub de produção significativo e vantajoso no país.”
Para o consultor especializado em energia Pedro Zalan, o anúncio representa um marco importante. Comparando com a última grande descoberta da BP, Thunder Horse, nos Estados Unidos — que possui entre 1 bilhão e 1,5 bilhão de barris de óleo equivalente em reservas provadas —, Zalan aponta que o potencial de Bumerangue pode chegar a cerca de 10% das reservas totais já comprovadas no Brasil.
Desafios técnicos e ambientais
Apesar do otimismo inicial, a BP alerta que a exploração do novo campo apresenta desafios técnicos significativos. Em comunicado, a empresa revelou que os primeiros estudos apontam “níveis elevados de dióxido de carbono” no reservatório — um componente comum nas formações do pré-sal brasileiro, mas que exige tecnologia avançada e investimentos substanciais para ser separado do petróleo e reinjetado nos reservatórios ou utilizado comercialmente.
O ex-presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, lembrou que outros campos brasileiros já enfrentaram situações semelhantes. “A descoberta de Libra, a maior do país, tem 40% de CO² e já está em produção. Já a descoberta de Júpiter, também no pré-sal, tem 80% de CO² e segue inviável”, escreveu em rede social, ressaltando que a viabilidade comercial depende fortemente de avanços tecnológicos e condições de mercado.
A BP não divulgou especificamente qual é o teor de dióxido de carbono encontrado em Bumerangue. A empresa informou que dará início a análises laboratoriais detalhadas para determinar a viabilidade econômica e técnica da produção, processo que pode demandar meses de estudos adicionais.
Impacto no mercado e perspectivas futuras
A notícia teve impacto imediato no mercado financeiro. As ações da BP listadas na Bolsa de Londres subiram 1,4% logo após o anúncio, que ocorreu um dia antes da publicação dos resultados do segundo trimestre da companhia.
O bloco Bumerangue foi adquirido pela BP em leilão promovido pelo governo brasileiro em 2022, com pagamento de bônus de assinatura de R$ 10 bilhões, corrigidos pelo IPCA. Pelo contrato de partilha da produção firmado com a União, a petroleira deve destinar 5,9% da produção à União, após deduzidos os custos operacionais.
Para Pedro Zalan, a descoberta em Bumerangue pode impulsionar o interesse por blocos adjacentes, como Tupinambá — também operado pela BP — e Puri, controlado pela norueguesa Equinor. “Ambas as oportunidades, Puri e Tupinambá, são de dimensões maiores que Bumerangue”, afirmou o consultor.
A BP tem redirecionado seus negócios nos últimos anos, priorizando novamente os combustíveis fósseis após uma tentativa controversa de investir massivamente em energias renováveis, que não obteve o retorno esperado pelos acionistas. A empresa planeja elevar sua produção global para entre 2,3 e 2,5 milhões de barris de óleo equivalente por dia até 2030.
A descoberta em Bumerangue é a décima realizada pela BP neste ano, com êxitos registrados também em Trinidad e Tobago, Egito, Brasil e outros países. Para o setor energético brasileiro, o anúncio reacende a expectativa de que o pré-sal continue sendo uma fronteira promissora para a exploração de hidrocarbonetos, mesmo diante dos desafios técnicos e das pressões por transição energética.
EUA compram 8% do petróleo exportado pela Petrobras e ficam de fora do tarifaço de Trump
Enquanto o governo brasileiro se prepara para lidar com as tarifas de 50% impostas pelo presidente norte-americano Donald Trump sobre diversos produtos brasileiros, uma notícia traz alívio ao setor energético nacional: os Estados Unidos compram 8% de todo o petróleo exportado pela Petrobras no segundo trimestre de 2025.
A participação é ainda maior quando se consideram os derivados de petróleo. De acordo com dados divulgados pela estatal na terça-feira (29), os americanos respondem por 28% das exportações de produtos como diesel e querosene de aviação — segundo apenas a participação de Cingapura, que concentra 63% desse mercado.
A informação faz parte do relatório trimestral de produção e vendas da Petrobras, divulgado no fim do mês, e ganha relevância especial diante da ameaça comercial que paira sobre as relações bilaterais entre Brasil e Estados Unidos.
Nas últimas semanas, o setor produtivo brasileiro tem vivido um clima de incerteza com a possibilidade de tarifas pesadas sobre exportações para o mercado norte-americano. A tensão aumentou ainda mais na quarta-feira (30), quando Trump assinou uma ordem executiva determinando tarifas de 50% sobre itens brasileiros, com vigência a partir de sete dias após a publicação.
No entanto, o documento oficial traça uma série de exceções, incluindo minérios, fertilizantes e produtos de energia — categoria que engloba o petróleo bruto. Essa isenção pode representar um fôlego importante para a estatal, que tem os Estados Unidos como um dos destinos tradicionais de suas exportações.
A justificativa apresentada pelo governo norte-americano para as tarifas está ligada à perseguição política ao ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, réu no Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado. Paralelamente, os americanos também abriram uma investigação sobre práticas comerciais brasileiras consideradas desleais, como o sistema Pix.
Petróleo assume protagonismo nas exportações
O petróleo consolidou-se em 2024 como o principal produto da pauta exportadora brasileira, superando a tradicional liderança da soja. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, as vendas de óleo bruto e minerais alcançaram US$ 44,8 bilhões no ano passado, representando 13,3% do total das exportações do país.
A Petrobras, como maior produtora de petróleo do Brasil, detém papel central nesse cenário. Dados mais recentes da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que os campos operados exclusivamente pela estatal respondem por 22,6% da produção nacional de petróleo e gás. Quando incluídos os empreendimentos em consórcio, a participação da Petrobras alcança impressionantes 89,3% do total.
Distribuição dos mercados
Na distribuição das exportações de petróleo da Petrobras no segundo trimestre, os Estados Unidos aparecem em quinto lugar, atrás da China (54%), Europa (19%) e Ásia exceto China (12%). América Latina (6%) e África do Sul (2%) completam o ranking.
A participação norte-americana, embora modesta em comparação com a China, representa um aumento em relação ao primeiro trimestre de 2025, quando os EUA compraram apenas 4% do óleo brasileiro, e ao mesmo período de 2024, com 5%.
A própria Petrobras contextualiza que a maior participação da China nas exportações (subindo de 50% para 54% na comparação com o segundo trimestre de 2024) provocou uma reconfiguração nos destinos das vendas. “Consequentemente, houve redução das exportações para a Europa e o restante da Ásia, outros dois importantes mercados para óleos brasileiros. América Latina e EUA aumentaram marginalmente sua participação”, explica o relatório.
Expansão de mercados e crescimento da produção
A estatal ressalta ainda seu trabalho contínuo de desenvolvimento de novos mercados para os óleos do pré-sal. “Seja pela venda para novos clientes ou pela alocação de novas correntes para clientes existentes, como a primeira venda ocorrida para uma refinaria na África do Sul”, destaca o documento.
Já no que se refere à produção total, a Petrobras informou que no segundo trimestre de 2025 a produção de petróleo e gás natural somou 2,9 milhões de barris por dia, marcando um crescimento de 5% em relação ao primeiro trimestre e de 8,1% na comparação com o mesmo período de 2024.
A manutenção dos Estados Unidos como destino isento das tarifas pode representar um fator de estabilidade importante para a Petrobras, especialmente em um momento de reconfiguração das relações comerciais internacionais e de busca por alternativas diante das pressões externas.
Produção nacional de petróleo e gás alcança recorde em junho
A indústria petrolífera brasileira bateu novo recorde em junho deste ano, com a produção nacional de petróleo e gás natural atingindo patamar histórico. De acordo com o Boletim Mensal divulgado nesta sexta-feira (1º) pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o país extraiu 4,900 milhões de barris de óleo equivalente por dia, considerando todas as fontes de energia: pré-sal, pós-sal e poços terrestres.
O desempenho representa um marco importante para o setor energético nacional, que tem mostrado consistente crescimento nos últimos anos, impulsionado principalmente pela expansão da produção nas camadas do pré-sal, localizadas em águas ultra-profundas ao longo da costa brasileira.
Petróleo e gás mostram forte crescimento
Na parcela específica da produção de petróleo, o país extraiu 3,757 milhões de barris por dia em junho, registrando um aumento de 2,1% em relação a maio e um expressivo salto de 10,1% na comparação com o mesmo período de 2024. O resultado demonstra a capacidade crescente do Brasil de suprir tanto a demanda interna quanto as exportações, que têm ganhado protagonismo na pauta comercial do país.
Já na produção de gás natural, os números também impressionam: 181.636 milhões de metros cúbicos por dia foram extraídos em junho, com alta de 5,4% frente ao mês anterior e aumento de 20,9% em relação a junho de 2024. O gás natural tem papel estratégico na matriz energética brasileira, sendo utilizado tanto para geração de eletricidade quanto como insumo industrial.
Pré-sal confirma liderança na produção
O destaque da produção continua sendo o pré-sal, que em junho registrou sua própria marca histórica ao alcançar 3,860 milhões de barris de óleo equivalente por dia. O resultado representa um crescimento de 1,5% em relação a maio e um robusto avanço de 12,7% na comparação com junho de 2024.
A camada do pré-sal, descoberta no início dos anos 2000, transformou o Brasil de importador líquido de petróleo em potencial exportador, com reservas estimadas em dezenas de bilhões de barris. A região abrange áreas marinhas ao longo das bacias de Santos, Campos e Espírito Santo, onde se concentram alguns dos maiores campos petrolíferos já encontrados no país.
A performance positiva do setor energético brasileiro ocorre em um momento delicado das relações comerciais internacionais, quando o país enfrenta tarifas de 50% impostas pelo governo dos Estados Unidos sobre diversos produtos. No entanto, o petróleo e seus derivados foram incluídos entre as exceções à medida, o que pode ajudar a preservar um dos principais vetores de exportações brasileiras.
A ANP atribui o desempenho recorde a uma combinação de fatores, incluindo investimentos contínuos em tecnologia, aumento da capacidade de produção das plataformas offshore e otimização dos processos de extração tanto em novos quanto em campos já maduros.


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