Datafolha: Lula amplia vantagem e consolida liderança para 2026

05.08.2025 - 5ª Reunião Plenária do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS) Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante 5ª Reunião Plenária do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS). Palácio do Itamaraty, Brasília - DF. Foto: Ricardo Stuckert / PR


Foi curioso ver a Folha trazer a “notícia” de que os ataques de Trump ao Brasil não haviam impactado a avaliação do governo Lula, quando todos os institutos de pesquisa disseram exatamente o contrário.

Inclusive o Datafolha, que é o instituto de pesquisa do próprio grupo Folha.

Embora a aprovação geral do governo Lula neste último Datafolha tenha permanecido estável, a sondagem sobre intenções de votos para 2026 mostra uma melhora sensível no desempenho do presidente.

A mais recente pesquisa sobre a sucessão presidencial de 2026 trouxe dois dados centrais: 1) o avanço de Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno e 2) o alargamento da distância que o separa de Jair Bolsonaro e Tarcísio, seus adversários mais competitivos, em cenários de segundo turno.

No painel de primeiro turno que reúne Bolsonaro, Ratinho Junior, Ronaldo Caiado e Romeu Zema, Lula subiu de 36% para 39%, enquanto o ex-presidente recuou de 35% para 33%. A diferença de seis pontos é a maior registrada desde o início do ano e evidencia retomada de fôlego do petista.

No segundo turno o movimento se repete. Lula chega a 47% ante 43% de Bolsonaro, recuperando parte do terreno perdido em junho e restabelecendo margem de quatro pontos no limite da margem de erro.

Contra Tarcísio de Freitas, a curva também é ascendente: 45% a 41% para o presidente, após empate técnico no levantamento anterior. Embora ainda exista empate estatístico, a probabilidade de Lula liderar voltou a ser a mais alta entre todos os confrontos testados.

A sustentação desse avanço reside em faixas sociais já identificadas como decisivas em 2022, mas que agora exibem fidelidade ampliada. Entre eleitores com 60 anos ou mais, Lula atinge 46%, dezenove pontos à frente de Bolsonaro. No estrato de escolaridade fundamental, a vantagem é ainda mais expressiva: 48% a 24%. Entre famílias que vivem com até dois salários mínimos, o petista registra 44%, superando o ex-mandatário por treze pontos.

A geografia do voto mostra cenário igualmente favorável. No Nordeste, bastião histórico lulista, o presidente alcança 53%, contra 25% de Bolsonaro, diferença de 28 pontos que praticamente neutraliza o desempenho adversário no Sul, única região onde o ex-presidente lidera. No recorte religioso, Lula mantém 44% entre católicos, dezessete pontos à frente do rival; já entre evangélicos, continua em desvantagem (24% a 52%), sinal de que o campo governista ainda precisa encurtar distâncias nesse eleitorado.

Outro indicador de força é o desempenho entre quem classifica o governo como regular, grupo que reúne 29% do eleitorado. Nesse segmento, Lula abriu 20 pontos (40% a 20%), revertendo o empate verificado em junho. A recuperação sugere efeito positivo de medidas econômicas recentes e de ações de comunicação do Planalto, embora a pesquisa não investigue causalidades. Entre os que aprovam o governo, a citação espontânea do presidente como candidato passou de 48% para 58%, revelando engajamento superior ao observado no primeiro semestre.

Quando Bolsonaro é substituído por Tarcísio, Michelle, Eduardo ou Flávio Bolsonaro, Lula mantém vantagem confortável. Contra o governador paulista, lidera por 38% a 21% no primeiro turno; diante de Michelle, por 39% a 24%. Nas simulações de segundo turno, as margens variam de nove a doze pontos. O campo bolsonarista, portanto, mostra dificuldade em transferir integralmente o capital político do ex-presidente a outros nomes, fenômeno que beneficia diretamente o chefe do Executivo.

A rejeição, porém, permanece elevada. Quase metade do eleitorado (47%) declara que não votaria em Lula “de jeito nenhum”, percentual semelhante ao atribuído a Bolsonaro (44%). Ainda assim, 61% dos entrevistados rejeitam candidatos que prometam anistiar o ex-presidente pelos atos de 8 de janeiro, posição majoritária entre mulheres, católicos e eleitores de baixa renda. O dado indica ambiente desfavorável a discursos que relativizem a responsabilização judicial de aliados bolsonaristas.

Entre os estratos de renda mais alta, o petista continua em terreno hostil. Na faixa de cinco a dez salários mínimos, Bolsonaro lidera por 41% a 26%; acima desse patamar, a distância sobe para 50% a 31%. Esse bolsão de resistência, associado a um eleitorado evangélico mais conservador, constitui hoje o principal desafio estratégico da campanha governista.

Em síntese, Lula fecha julho consolidado na liderança, ancorado em forte adesão popular nas camadas de menor renda, no Nordeste e entre católicos, e amparado pela recuperação entre eleitores que julgam seu governo regular. A disputa segue aberta, mas, pela primeira vez desde abril, o presidente combina crescimento numérico e margem de segurança mínima sobre todos os adversários testados, sinalizando que chega ao segundo semestre com o cronômetro a seu favor.

Pesquisa espontânea do Datafolha

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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