A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) recebeu 57 autuações da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) entre janeiro de 2024 e julho de 2025 por infrações ambientais diversas. O valor total das penalidades ultrapassa R$ 11,4 milhões. No entanto, apenas 1,9% dessas multas foi efetivamente pago até o momento, segundo levantamento divulgado pelo portal Metrópoles, com base na Lei de Acesso à Informação (LAI).
O restante das autuações se divide entre 10,2% ainda em fase de cobrança e 87,2% que seguem em processo de recurso administrativo apresentado pela própria empresa. A Sabesp busca, nesses casos, anular ou reduzir os valores aplicados pelas autoridades ambientais.
O caso mais recente, ocorrido em 1º de agosto, agravou a situação da companhia. Um vazamento de esgoto na estação elevatória de Pinheiros causou o surgimento de uma extensa mancha escura no Rio Pinheiros e provocou mau cheiro na região. A falha gerou duas novas penalidades: uma de R$ 22,7 milhões, aplicada pela Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp), e outra de R$ 1,1 milhão, da própria Cetesb.
As infrações acumuladas pela Sabesp abrangem desde o lançamento de esgoto sem tratamento até a operação de unidades sem licenciamento ambiental. Outras ocorrências incluem o descumprimento de normas relacionadas ao controle de poluentes e à proteção dos recursos hídricos.
A Cetesb, em nota, afirmou que acompanha tecnicamente as operações da companhia e que, diante de irregularidades, aplica as sanções previstas na legislação vigente. A Sabesp, por sua vez, afirmou que vem adotando medidas para reverter o quadro desde que iniciou seu processo de desestatização, em setembro de 2023.
A empresa destacou que a nova gestão implantou uma política baseada em evidências e prioridades ambientais. Segundo comunicado oficial, a privatização permitiu a duplicação da capacidade de investimentos e possibilitará a implementação de soluções estruturantes para problemas históricos da companhia.
“A atual gestão da Sabesp identificou a fragilidade do sistema logo no início da administração, ao observar o aumento expressivo nas multas ambientais aplicadas em 2024. Como resposta imediata, a companhia contratou, ainda em janeiro, a fabricação de novas bombas no exterior. A entrega está prevista para o primeiro semestre de 2026”, informou a empresa.
Sobre o vazamento no Rio Pinheiros, a Sabesp atribuiu o incidente à falta de recursos e ao uso de equipamentos obsoletos. A companhia declarou que a estação elevatória de Pinheiros opera atualmente com bombas cuja vida útil expirou há cinco anos, o que compromete a estabilidade operacional do sistema.
“Nos últimos dez anos, os investimentos priorizaram o abastecimento de água, o que afetou a modernização da infraestrutura de esgoto”, afirmou a empresa.
Como resposta emergencial, a Sabesp anunciou a instalação de quatro bombas auxiliares nos próximos 20 dias. Além disso, serão destinados R$ 20 milhões para a renovação completa da estação elevatória de Pinheiros. Enquanto aguarda a chegada dos novos equipamentos fabricados sob medida no exterior, a empresa continuará realizando manutenções corretivas nas bombas em operação.
A estação elevatória de Pinheiros é considerada a mais importante da Sabesp. Responsável por transportar esgoto de aproximadamente 3,8 milhões de residências da região do Rio Pinheiros até a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Barueri, ela desempenha papel central no sistema de saneamento da cidade de São Paulo.
A magnitude da operação, aliada à precariedade dos equipamentos atuais, coloca em evidência o risco contínuo de falhas com impacto direto no meio ambiente e na saúde pública. O novo ciclo de investimentos, viabilizado pela desestatização, é apontado pela empresa como fundamental para reverter o quadro.
Apesar dos compromissos anunciados, o histórico recente de infrações ambientais e os atrasos na modernização da infraestrutura colocam a Sabesp sob pressão de órgãos reguladores, do Ministério Público e da opinião pública. A empresa não informou previsão para a conclusão dos processos administrativos referentes às multas anteriores.


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