O jornal Global Times publicou nesta segunda-feira, 11, uma análise sobre o Plano de Ação Global para a Governança da Inteligência Artificial, proposta chinesa que busca criar uma organização internacional de cooperação na área e reduzir a concentração de poder tecnológico em poucos países e empresas. A iniciativa, segundo especialistas, oferece uma alternativa pragmática à abordagem norte-americana, vista como mais restritiva e baseada em disputas geopolíticas.
O professor Eduardo Tzili-Apango, da Universidade Autônoma Metropolitana (México), afirmou que China e Estados Unidos representam modelos opostos. Ele disse que Pequim aposta na expansão das forças produtivas digitais e na aplicação prática da IA, enquanto Washington prioriza a regulação, o que, em sua visão, limita saltos tecnológicos.
O acadêmico destacou que, por meio da Rota da Seda Digital, a China fornece infraestrutura tecnológica — como portos inteligentes e plataformas em nuvem — e promove capacitação local, permitindo que países como Brasil, Peru e Nigéria adotem aplicações avançadas em logística, agricultura e gestão urbana.
Para o pesquisador Yasiru Ranaraja, do Sri Lanka, o diferencial do plano chinês está na inclusão digital e no acesso aberto a ferramentas de ponta, como os modelos Kimi, DeepSeek e Qwen. Ele ressaltou que a proposta prevê não apenas transferência de tecnologia, mas também cooperação em pesquisa, desenvolvimento conjunto e participação ativa do Sul Global na formulação de regras de uso da IA.
O especialista sul-africano Paul Zilungisele Tembe alertou para o risco de repetição do padrão das revoluções industriais anteriores, quando países em desenvolvimento ficaram à margem. Ele afirmou que a IA deve equilibrar segurança e crescimento econômico e avaliou que a proposta chinesa se conecta a outras iniciativas multilaterais de Pequim, como a Iniciativa de Desenvolvimento Global, voltadas à construção de uma “comunidade com futuro compartilhado para a humanidade”.
De acordo com a reportagem, o modelo chinês aposta em solidariedade, abertura e cooperação estratégica, com investimentos em infraestrutura e inclusão digital. Caso seja amplamente adotado, o plano pode alterar o equilíbrio geopolítico e ampliar a influência dos países do Sul Global na definição das regras da economia digital nas próximas décadas.