Israel mata cinco jornalistas em hospital de Gaza; assassinatos provocam condenação global

O correspondente Mohammed Qreiqeh, da Al Jazeera. Foto: Al Jazeera]

Um ataque de drones coordenado por Israel bombardeou uma tenda no portão principal do Hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza, matando cinco jornalistas e dois civis. Entre os mortos estavam o correspondente da Al Jazeera Mohammed Qreiqeh e os operadores de câmera Ibrahim Zaher, Moamen Aliwa e Mohammed Noufal.

Um jornalista freelancer palestino, Mohammad al-Khaldi, também foi morto. A organização Repórteres Sem Fronteiras constatou que outros três profissionais da imprensa foram feridos no mesmo ataque.

Diversos países e organizações internacionais condenaram o que a Rede de Mídia Al Jazeera chamou de “assassinato direcionado” de seus jornalistas. Confira algumas declarações:

Palestina

A missão palestina nas Nações Unidas acusou Israel de “assassinar deliberadamente” os jornalistas al-Sharif e Qreiqeh, considerados entre os “últimos jornalistas restantes” em Gaza. A missão destacou que eles “documentaram sistematicamente o genocídio e a fome promovidos por Israel” e que al-Sharif era um “símbolo do jornalismo livre”, registrando as cenas de fome e os efeitos do cerco imposto por Israel à Faixa de Gaza.

Representantes da Palestina também pediram ao Conselho de Segurança da ONU e à comunidade internacional a condenação dos assassinatos e que sejam tomadas medidas imediatas para responsabilizar os líderes israelenses por crimes de guerra.

O Hamas também repudiou o ataque, qualificando-o como parte de uma “campanha sem precedentes de ataques contra jornalistas” com o objetivo de silenciar a mídia ante os “graves crimes” cometidos contra os palestinos em Gaza.

Irã

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Esmail Baghaei, pediu que o mundo responsabilize Israel após a morte dos cinco funcionários da Al Jazeera.

“Uma credencial de imprensa não é proteção contra criminosos de guerra genocidas que temem que o mundo testemunhe suas atrocidades”, disse Baghaei, acusando Israel de assassinar os jornalistas “a sangue frio”.

“Uma forte condenação é o mínimo para qualquer ser humano decente, mas o mundo deve agir imediatamente para deter esse genocídio aterrador e responsabilizar os criminosos”, acrescentou.“Indiferença e inação são conivência com os crimes de Israel.”

Catar

O primeiro-ministro do Catar, Sheikh Mohammed bin Abdulrahman bin Jassim Al-Thani, classificou o ato como uma chocante violação da liberdade de imprensa.

Al-Thani, que também é ministro das Relações Exteriores do país, afirmou que as mortes demonstram o “alvo deliberado de jornalistas por Israel na Faixa de Gaza, revelando como esses crimes são inimagináveis, diante da incapacidade da comunidade internacional e de suas leis para deter essa tragédia.”

Nações Unidas

O porta-voz do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, Stephane Dujarric, ofereceu condolências à “família Al Jazeera” e pediu uma investigação.

“Nós sempre fomos muito claros em condenar todas as mortes de jornalistas”, disse Dujarric. “Em Gaza, e em qualquer lugar, os profissionais da mídia devem poder exercer seu trabalho livremente, sem assédio, intimidação ou medo de serem alvo de ataques.”

UNRWA

O chefe da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA), Philippe Lazzarini, afirmou em uma publicação no X que “o Exército israelense continua a silenciar vozes que reportam atrocidades em Gaza.”

“Estou horrorizado com a morte de mais cinco jornalistas na cidade de Gaza. Desde o início da guerra, mais de 200 jornalistas palestinos foram mortos, em total impunidade.”

“Israel também está bloqueando o acesso de jornalistas internacionais para que possam reportar de forma independente desde que a guerra começou, há quase dois anos. Os jornalistas devem ser protegidos e a mídia internacional precisa entrar em Gaza para apoiar o trabalho heroico dos colegas palestinos. Esta é a única forma de combater a desinformação e evitar dúvidas sobre a dimensão das atrocidades cometidas em Gaza.”

Escritório de Direitos Humanos da ONU

O escritório de direitos humanos da ONU condenou o ataque, afirmando que as ações do exército israelense representam uma “grave violação do direito internacional humanitário.”

“Israel deve respeitar e proteger todos os civis, incluindo jornalistas,” afirmou o escritório em uma publicação no X. “Pedimos acesso imediato, seguro e sem restrições a Gaza para todos os jornalistas.”

Comitê para a Proteção dos Jornalistas

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) afirmou estar “indignado” com a morte dos jornalistas da Al Jazeera.

“O padrão de Israel de rotular jornalistas como militantes sem apresentar provas credíveis levanta sérias dúvidas sobre suas intenções e respeito à liberdade de imprensa”, disse Sara Qudah, diretora regional do CPJ. “Aqueles responsáveis por essas mortes devem ser responsabilizados,” acrescentou Qudah.

Jodie Ginsberg, CEO do CPJ, lembrou que Israel acusou al-Sharif e outros de serem “terroristas” em outubro passado, sem evidências. “Naquela época, avisamos que isso parecia um prelúdio para justificar assassinatos,” disse ela à Al Jazeera. “Isso faz parte de um padrão… que dura décadas, no qual jornalistas são mortos.”

Repórteres Sem Fronteiras (RSF)

A Repórteres Sem Fronteiras condenou o “assassinato reconhecido pelo exército israelense” do correspondente da Al Jazeera Anas al-Sharif em Gaza, afirmando que os militares admitiram tê-lo como alvo.

A RSF disse à AFP que al-Sharif era “um dos jornalistas mais famosos da Faixa de Gaza e a voz do sofrimento que Israel impôs aos palestinos em Gaza.”

“Sem uma ação firme da comunidade internacional… provavelmente veremos mais desses assassinatos extrajudiciais de profissionais da mídia,” alertou a RSF, pedindo ao Conselho de Segurança da ONU que tome providências.

National Press Club

Mike Balsamo, presidente do National Press Club dos EUA, disse que a morte dos jornalistas “é uma perda sentida muito além de uma redação” e pediu uma investigação “completa e transparente.”

“Jornalistas devem poder trabalhar sem serem alvos ou mortos,” afirmou Balsamo. “Todas as partes em zonas de conflito devem cumprir suas obrigações sob o direito internacional para proteger os repórteres e garantir que possam exercer seu trabalho com segurança.”

Conselho de Relações Americano-Islâmicas (CAIR)

O Conselho de Relações Americano-Islâmicas (CAIR) condenou o assassinato de cinco jornalistas da Al Jazeera por Israel e convocou jornalistas dos EUA e do mundo a “ficarem solidários” com seus colegas palestinos.

“A campanha contínua de assassinatos seletivos de jornalistas palestinos por Israel é um crime de guerra, simples assim,” disse Nihad Awad, diretor executivo nacional do CAIR, em comunicado.

“O assassinato desses jornalistas da Al Jazeera não é um acidente ou dano colateral — faz parte de uma política consistente e documentada de silenciar vozes da mídia e esconder a verdade do genocídio cometido por Israel em Gaza,” afirmou Awad.

Lucas Allabi: Jornalista em formação pela PUC-SP e apaixonado pelo Sul Global. Escreve principalmente sobre política e economia. Instagram: @lu.allab
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