Lula acelera negociações comerciais com Canadá, México e Oriente Médio para reduzir dependência dos EUA

RICARDO STUCKERT/PR

Em meio à escalada da guerra tarifária com os Estados Unidos, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensifica ações para diversificar parcerias comerciais e minimizar perdas no mercado norte-americano. A estratégia envolve reativar negociações paralisadas e concluir acordos bilaterais e multilaterais com países e blocos estratégicos.

Uma das frentes mais avançadas é o relançamento das tratativas do acordo comercial entre Mercosul e Canadá. Segundo a Folha de S.Paulo, o anúncio está previsto para o fim de agosto, durante visita a Brasília do ministro canadense de Comércio Internacional, Maninder Sidhu. O início efetivo das negociações depende da aprovação dos demais membros do bloco sul-americano — Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia — e da definição de um calendário de trabalho. As conversas estão suspensas desde 2021, após impactos da pandemia e divergências políticas entre os governos de Jair Bolsonaro e Justin Trudeau.

Com a chegada de Donald Trump à presidência dos EUA e a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, tanto Brasil quanto Canadá veem necessidade de ampliar a rede de fornecedores e compradores. Para o Canadá, que envia mais de 70% de suas exportações ao mercado norte-americano, a diversificação tornou-se prioridade.

Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), afirmou que a visita de Sidhu é uma oportunidade para avançar em temas como segurança alimentar, investimentos sustentáveis e acesso a mercados. Gustavo Ribeiro, gerente de inteligência de mercado da ApexBrasil, avalia que o Canadá tem perfil de consumo semelhante ao dos EUA e potencial para parcerias no setor de energia limpa.

O acordo também pode ampliar o fornecimento de adubo canadense, insumo estratégico para o agronegócio brasileiro, e proteger o Brasil de eventuais sanções semelhantes às aplicadas por Washington contra outros países que negociam com a Rússia. Projeções do governo indicam que o tratado pode gerar impacto de R$ 4,14 bilhões no PIB até 2041 e atrair R$ 1,39 bilhão em investimentos.

Outra prioridade é o fortalecimento da relação comercial com o México, que também enfrenta tarifas norte-americanas, de 30%. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, deve visitar o país no fim de agosto, acompanhado de empresários, para tratar de sustentabilidade, inovação e integração produtiva.

As negociações com os Emirados Árabes Unidos estão em fase avançada e devem ser concluídas ainda em 2025. O objetivo é reduzir tarifas e barreiras comerciais, harmonizar marcos regulatórios e ampliar o fluxo de investimentos. O governo estima que o acordo possa acrescentar R$ 2,69 bilhões ao PIB e atrair R$ 660 milhões em investimentos até 2044. O mercado do Oriente Médio é visto como promissor para setores como construção civil, carnes e castanhas.

Paralelamente, o Brasil aposta no acordo Mercosul-Efta, assinado em julho, que garante acesso preferencial a mercados como Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein, com potencial para produtos sustentáveis e de maior valor agregado.

No caso do Mercosul-União Europeia, a expectativa é de retomada das negociações diante do novo cenário geopolítico e da insatisfação europeia com as políticas comerciais norte-americanas. Para Thierry Besse, presidente da Câmara de Comércio França-Brasil, a ratificação do acordo é urgente e poderá integrar cadeias produtivas, ampliando o alcance das exportações brasileiras.

Com essa agenda, o governo busca reduzir a vulnerabilidade externa e garantir novos mercados para compensar o impacto das tarifas impostas pelos EUA.

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