A inflação brasileira manteve-se em nível baixo pelo segundo mês consecutivo, segundo dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) divulgados hoje pelo IBGE.
A inflação geral ficou em 0,26% em julho, patamar que, se mantido durante 12 meses, resultaria em alta de cerca de 3,17% ao ano, bem abaixo do teto da meta governamental de 4,5%.
No acumulado de 12 meses, a inflação recuou de 5,35% em junho para 5,23% em julho.
A melhor notícia para as famílias brasileiras, todavia, foi a continuação no recuo dos preços dos alimentos consumidos em casa, que registraram queda de 0,69% em julho.
O declínio na inflação dos alimentos pode abrir uma janela de oportunidade política para o governo Lula, considerando a relação aparente entre inflação de alimentos e aprovação presidencial.
Até mesmo os vilões tradicionais da inflação alimentar cederam terreno no mês de julho. O café moído, que acumula alta de 70,51% em 12 meses, registrou pela primeira vez em muitos meses uma queda de 1,01%. A picanha manteve a trajetória descendente pelo segundo mês consecutivo com variação de 0,43%.
(O pequeno aumento na inflação dos alimentos consumidos fora de casa é explicado pelo período de férias. O que mais importa é o preço dos alimentos em domicílio, que são aqueles que compramos no supermercado).
Pescados recuaram 1,29% em julho, ovos de galinha caíram 2,43% no mês e o frango inteiro praticamente se manteve estável com leve alta de 0,04%.
Até o gás de botijão, item essencial nas cozinhas brasileiras, registrou deflação de 0,37% em julho, embora ainda acumule alta de 5,65% em 12 meses.
Os destaques da deflação ficaram por conta de produtos básicos da mesa brasileira. A batata-inglesa despencou 20,27% em julho, consolidando uma queda acumulada de 47,2% em 12 meses. A cebola recuou 13,26% no mês, enquanto o arroz manteve a trajetória descendente com queda de 2,89% em julho.
O feijão-preto também contribuiu para o alívio no orçamento familiar, com deflação de 2,99% em julho. No acumulado de 12 meses, esses produtos básicos apresentam quedas significativas: arroz com deflação de 18,77% e feijão-preto com recuo de 21,66%.
A perspectiva de 12 meses revela um cenário misto, mas com sinais de arrefecimento inflacionário. Enquanto o café moído ainda pressiona com alta acumulada de 70,51%, outros itens mostram estabilização. A alimentação no domicílio como um todo registra alta de 7,11% em 12 meses, patamar considerado controlado para o setor.
O movimento deflacionário não se restringe aos alimentos. A inflação geral do IPCA também reflete essa tendência de arrefecimento, com diversos setores contribuindo para manter os preços sob controle. O cenário contrasta com períodos anteriores, quando a inflação acumulava pressões mês após mês.
Fatores sazonais podem explicar parte dessa dinâmica, especialmente para produtos agrícolas que se beneficiam do período de safra. As políticas públicas, incluindo o controverso tarifaço, também podem ter exercido influência, embora seja prematuro estabelecer relações causais definitivas.
O contexto internacional adiciona uma camada de ironia ao cenário brasileiro. Enquanto o país experimenta deflação nos alimentos, os Estados Unidos se preparam para enfrentar pressões inflacionárias no setor devido às tarifas comerciais prometidas por Trump. A inflação de alimentos já começa a afetar a aprovação do presidente americano, fenômeno que pode se intensificar nos próximos meses.
A manutenção desse cenário favorável dependerá de múltiplos fatores, desde condições climáticas até políticas macroeconômicas. O que parece claro é que as famílias brasileiras começam a experimentar um alívio no orçamento doméstico. Em um país onde os alimentos representam parcela significativa dos gastos familiares, qualquer movimento de preços nesse setor repercute diretamente no bem-estar da população.
Com a inflação de alimentos e energia sob controle, o cenário se mostra extremamente favorável para a reeleição de Lula em 2026.