Presidente americano se reúne com aliados europeus antes do encontro com Putin, buscando avanços diplomáticos sem comprometer a Ucrânia
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que se reunirá em breve com líderes europeus enquanto se prepara para a cúpula com o presidente russo, Vladimir Putin, marcada para esta sexta-feira (15) no Alasca. Em uma publicação nas redes sociais na quarta-feira, Trump escreveu: “Falarei com os líderes europeus em breve. São pessoas excelentes que querem ver um acordo fechado”.
A declaração surge em meio a esforços intensificados de Trump para buscar um caminho diplomático que possa encerrar a guerra da Rússia na Ucrânia, conflito que já se arrasta pelo quarto ano. No entanto, a reunião bilateral tem gerado apreensão entre os aliados de Kiev, que temem que a negociação possa incluir concessões territoriais em troca da paz, sem envolver a Ucrânia de maneira significativa ou garantir a proteção necessária para evitar futuras agressões russas.
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Em coletiva de imprensa na Casa Branca, Trump comentou que discutirá diretamente com Putin a necessidade de pôr fim ao conflito. “Vou dizer a ele: ‘Você precisa acabar com esta guerra. Você precisa acabar com ela’. Posso ir embora e dizer: ‘Boa sorte’, e será o fim. Posso dizer que isso não vai ser resolvido”, afirmou. Ainda assim, o presidente norte-americano procurou reduzir expectativas sobre a cúpula, chamando-a de uma “reunião de sondagem” e destacando que encontros com líderes ucranianos e europeus aconteceriam posteriormente.
Trump também mencionou a possibilidade de “algumas mudanças” no território, mas deixou claro que qualquer decisão sobre concessões teria sequência em negociações envolvendo diretamente a Ucrânia. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, por sua vez, descartou a exigência russa de entrega de territórios não controlados por Moscou como pré-condição para um cessar-fogo, afirmando que qualquer medida desse tipo precisaria ser aprovada pelo parlamento e pelo processo constitucional do país. A posição ucraniana parece ter gerado descontentamento em Trump no início da semana.
Sobre a participação de Zelenskiy na cúpula, Trump indicou que não pretende convidá-lo para o encontro inicial no Alasca. O presidente norte-americano afirmou que o próximo passo seria um diálogo direto entre Putin e Zelenskiy, oferecendo-se para mediar a conversa, caso necessário.
A intensificação das consultas diplomáticas de Trump inclui também conversas com autoridades europeias e ucranianas ao longo do último fim de semana. Líderes europeus reafirmaram que qualquer acordo de paz deve respeitar o direito internacional, preservando a independência, a soberania e a integridade territorial da Ucrânia.
Analistas internacionais destacam que a cúpula de sexta-feira será um teste delicado para a diplomacia americana, uma vez que o equilíbrio entre pressão sobre a Rússia e apoio à Ucrânia precisa ser mantido. A reunião bilateral, ainda que inicial, pode definir o ritmo de negociações futuras e o papel dos Estados Unidos como mediador em um conflito que tem repercussões globais, sobretudo no fornecimento de energia e na estabilidade geopolítica da região.
Trump, ao mesmo tempo em que busca projetar uma postura firme contra a guerra, demonstra interesse em manter canais abertos com aliados e com a própria Rússia, sinalizando que o caminho para a paz poderá envolver múltiplas rodadas de diálogo e mediação.
Trump intensifica diplomacia antes da cúpula com Putin, enquanto líderes europeus buscam alinhamento sobre Ucrânia
À medida que a cúpula entre os presidentes dos Estados Unidos e da Rússia se aproxima, marcada para sexta-feira no Alasca, líderes europeus têm buscado estabelecer contato com Donald Trump antes do encontro. Fontes próximas às negociações, que falaram sob condição de anonimato, afirmam que os líderes do continente desejam discutir as diretrizes de um possível acordo e alinhar posições antes da reunião bilateral.
O esforço diplomático ocorre após um fim de semana intenso de reuniões entre autoridades americanas, ucranianas e europeias. No sábado, ocorreram encontros no Reino Unido com a participação do vice-presidente dos EUA, JD Vance, e do secretário de Relações Exteriores britânico, David Lammy. No domingo, embaixadores da União Europeia foram informados sobre as negociações em andamento, e os ministros das Relações Exteriores do bloco devem se reunir virtualmente nesta segunda-feira. A Casa Branca não se pronunciou sobre uma possível ligação telefônica com os líderes europeus.
Um dos pontos centrais das negociações envolve as exigências do presidente russo, Vladimir Putin, que condiciona qualquer cessar-fogo e abertura de negociações a que a Ucrânia ceda toda a região de Donbass e a Crimeia, território anexado ilegalmente em 2014. Tal cenário significaria que Kiev precisaria abrir mão de partes das regiões de Luhansk e Donetsk ainda sob seu controle, oferecendo à Rússia uma vitória territorial que seu exército não conseguiu obter militarmente desde o início da invasão em fevereiro de 2022.
O Secretário-Geral da OTAN, Mark Rutte, afirmou no programa This Week da ABC que, caso o processo avance, “o território teria que estar na mesa”, mas ressaltou que isso deve vir acompanhado de garantias de segurança para a Ucrânia. Ele sugeriu que isso poderia incluir o reconhecimento de que a Ucrânia perdeu o controle de certas áreas sem, entretanto, renunciar formalmente à sua soberania sobre elas.
Enquanto isso, a Ucrânia e seus aliados europeus pressionam por um cessar-fogo que mantenha a atual linha de frente como ponto de partida para negociações futuras. Ao mesmo tempo, continuam a exercer pressão econômica sobre Moscou, utilizando sanções como forma de influência. Trump, por sua vez, havia ameaçado impor sanções adicionais à Rússia, mas até o momento limitou-se a aplicar tarifas sobre a Índia por compras de petróleo russo.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, reafirmou no fim de semana que Kiev não cederá território, citando a impossibilidade constitucional de aceitar qualquer perda de solo soberano. Em resposta, líderes europeus reiteraram seu apoio à integridade territorial da Ucrânia em uma declaração conjunta no sábado. Assinaram o documento, entre outros, o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen, e chefes de governo da França, Alemanha, Itália, Polônia e Finlândia. “A atual linha de contato deve ser o ponto de partida das negociações”, destacaram.
Autoridades da União Europeia afirmam que os EUA estão envolvidos de forma próxima na diplomacia e têm mostrado interesse em alinhar sua postura com a dos europeus. Segundo fontes, um possível acordo discutido por americanos e russos prevê a interrupção da ofensiva russa em Kherson e Zaporizhzhia, mantendo as atuais linhas de batalha. No entanto, ainda não está claro se Moscou estaria disposto a ceder qualquer território sob sua ocupação, incluindo a usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa.
Putin, reiterando seus objetivos de guerra, continua a exigir que Kiev aceite a neutralidade, abandone sua ambição de adesão à OTAN e reconheça a perda da Crimeia e das regiões do leste e sul da Ucrânia. Partes de Donetsk e Luhansk estão sob ocupação russa desde 2014, quando o Kremlin fomentou violência separatista após a tomada da Crimeia. Em setembro de 2022, Putin declarou formalmente quatro regiões ucranianas como parte “eterna” da Rússia, apesar de não controlar completamente todos esses territórios.
A aproximação da cúpula no Alasca coloca Donald Trump no centro de um delicado equilíbrio diplomático, com a necessidade de conciliar as demandas de Moscou, a defesa da integridade territorial da Ucrânia e o alinhamento com aliados europeus que buscam evitar qualquer concessão unilateral que possa enfraquecer Kiev.