Lula reage a sanções dos EUA, acusa Trump de atacar soberania brasileira e vira capa de jornal internacional

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em coletiva no Palácio do Planalto, Brasília. Foto: Ricardo Stuckert / PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o Brasil não aceitará o que considera um ataque direto à sua soberania por parte dos Estados Unidos. A declaração foi dada após a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelo governo de Donald Trump, em medida que, segundo o El País, busca pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a encerrar o julgamento por tentativa de golpe de Estado contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.

As tarifas, consideradas as mais altas desde o fim da Segunda Guerra Mundial — patamar também aplicado à Índia —, foram acompanhadas por sanções econômicas ao ministro Alexandre de Moraes, semelhantes às destinadas a líderes autoritários e indivíduos acusados de terrorismo. Washington também revogou vistos de quase todos os ministros do STF.

Para diplomatas brasileiros ouvidos pelo jornal espanhol, trata-se de um ataque sem precedentes de uma democracia contra outra. “O presidente dos Estados Unidos acha que pode dar ordens a um país soberano como o Brasil. É inadmissível que qualquer país, seja grande ou pequeno, decida dar um aviso à nossa soberania”, disse Lula.

Postura diante da crise
Apesar das pressões, Lula afirmou que não pretende retaliar com medidas equivalentes. Em entrevista à Reuters, declarou: “Eu poderia ter anunciado um tarifário contra os produtos norte-americanos, mas não vou fazer isso porque não quero me comportar como o presidente Trump. Quero demonstrar que, se um não quer, dois não brigam”.

O Palácio do Planalto mantém a estratégia de buscar canais diplomáticos e evitar a escalada do conflito comercial, priorizando alternativas para mitigar os impactos econômicos das tarifas.

Busca de novos parceiros
Com o bloqueio norte-americano, o governo brasileiro intensifica articulações internacionais. Lula já conversou com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e negocia um encontro com o presidente da China, Xi Jinping.

Paralelamente, o Brasil acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC) para questionar as medidas de Washington e acelerou as tratativas para o acordo Mercosul-União Europeia. Também estão em andamento negociações com México, Canadá e países do Sudeste Asiático, como parte da estratégia de diversificação de mercados.

Segundo o cientista político Thomás Zicman de Barros, citado pelo El País, a ofensiva de Trump pode ter efeito contrário ao esperado. “Ao vincular as tarifas e as críticas ao Supremo ao bolsonarismo, Trump permite que o governo Lula se apresente como vítima de uma ingerência estrangeira”, avaliou.

As ações de Lula reforçam o alinhamento com o Sul Global e ampliam o foco na abertura de novas frentes comerciais, em um cenário de tensões diplomáticas e incerteza sobre a evolução das relações entre Brasil e Estados Unidos.

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