Seminários do governo russo treinam especialistas para enfrentar ataques de drones e garantir a continuidade das operações em refinarias estratégicas
A Rússia anunciou uma nova série de seminários voltados à segurança de suas instalações de energia, com foco no enfrentamento de emergências provocadas por ataques de drones. A medida surge após uma sequência de investidas ucranianas contra refinarias de petróleo estratégicas nas últimas semanas, em uma tentativa de reduzir a produção de combustível e impactar as receitas do Kremlin.
Segundo a unidade de pesquisa e treinamento do Ministério da Energia, os cursos vão abordar “ameaças potenciais às instalações de complexos de combustível e energia, incluindo o uso de UAVs (veículos aéreos não tripulados)”. As aulas serão direcionadas a especialistas em segurança, autoridades públicas e diretores de centrais e refinarias.
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O primeiro treinamento online está marcado para 11 de setembro, com carga total de 16 horas distribuídas em três dias. Quatro dessas horas serão inteiramente dedicadas a estratégias contra ameaças de drones, enquanto o restante tratará de protocolos antiterrorismo, padrões de segurança e procedimentos de resposta rápida a incidentes.
O anúncio acontece em meio a uma escalada de ataques ucranianos. Desde o início de agosto, três grandes refinarias russas foram atingidas. Na quarta-feira, o Estado-Maior da Ucrânia informou que drones também danificaram uma estação de bombeamento de petróleo conectada a rotas de exportação vitais para a economia russa.
O contexto preocupa Moscou, já que o petróleo e o gás representam cerca de um terço da receita nacional. Interrupções prolongadas na produção ou na exportação podem pressionar ainda mais o orçamento estatal, que já apresenta sinais de retração.
No cenário diplomático, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente russo, Vladimir Putin, têm encontro agendado para esta sexta-feira no Alasca, com o objetivo de discutir possíveis caminhos para encerrar a guerra na Ucrânia.
Além do reforço no treinamento de segurança, o governo russo vem implementando outras medidas para proteger sua infraestrutura energética. Em julho, Putin assinou um decreto determinando que navios vindos de terminais estrangeiros só possam entrar em portos russos com autorização expressa dos capitães, respaldada pelo serviço de segurança federal (FSB).
O porto de Ust-Luga, o maior do país no Mar Báltico, adotou regras ainda mais rígidas: as embarcações precisam passar por inspeção obrigatória e contar com seguro emitido por empresas russas antes de receber permissão para atracar.
Com ataques frequentes e a crescente vulnerabilidade da infraestrutura energética, as autoridades russas buscam se preparar para cenários de risco que, até pouco tempo atrás, eram considerados improváveis, mas que hoje fazem parte da nova realidade do conflito.
Porto de Ust-Luga intensifica inspeções de navios após série de explosões misteriosas
O porto russo de Ust-Luga, maior do país no Mar Báltico, adotou medidas rigorosas de inspeção de embarcações, obrigando que os cascos dos navios sejam verificados antes de receberem permissão para atracar. A decisão reflete a crescente preocupação das autoridades com uma série de explosões misteriosas que atingiram petroleiros ancorados no local, afetando diretamente o comércio de petróleo e outras commodities russas.
Fontes familiarizadas com a questão, que pediram anonimato, revelaram que as inspeções incluem verificações das partes submersas das embarcações, além da exigência de que todos os navios que chegam possuam seguro de proteção e indenização russo, abrangendo riscos como vazamentos de óleo, colisões e outros acidentes.
A intensificação da segurança coincide com um decreto do presidente Vladimir Putin, emitido nesta segunda-feira, que obriga todos os navios vindos do exterior a obter autorização de entrada do FSB, serviço de segurança sucessor da antiga KGB soviética. A medida segue recomendações do Conselho de Segurança da Rússia, em resposta às explosões ainda não explicadas que ocorreram em Ust-Luga.
O porto, que é o segundo maior ponto de exportação do petróleo bruto Ural e também abriga terminais de carvão, amônia, granéis sólidos e cargas de contêineres, foi o local da primeira dessas explosões no início deste ano. Em fevereiro, o petroleiro Koala sofreu danos em um incidente descrito pelo governador local como “provocado pelo homem”, resultando em vazamento de óleo. Mais recentemente, o navio Eco Wizard, transportando GLP, registrou vazamento de amônia.
As novas medidas já causaram impactos logísticos. A exigência de documentação adicional para navios estrangeiros levou à suspensão temporária de alguns carregamentos de petróleo nos dois principais terminais russos do Mar Negro, segundo informou a Reuters. No entanto, os dados de rastreamento de embarcações indicam que navios-tanque continuam atracando em Novorossiysk, maior porto da região, e que a situação no terminal do CPC, também afetado, está se normalizando.
O episódio das explosões impulsionou armadores a adotar inspeções minuciosas dos cascos, utilizando mergulhadores especializados e veículos subaquáticos, em busca de minas ou dispositivos que pudessem representar riscos à segurança. Para expandir essas verificações, a autoridade portuária russa anunciou um leilão para inspeções subaquáticas em todos os portos bálticos, incluindo Primorsk e Vysotsk, destinando até 3,16 bilhões de rublos (aproximadamente US$ 40,4 milhões) para os serviços.
Especialistas afirmam que, além de proteger ativos estratégicos, essas medidas também têm o objetivo de reduzir impactos econômicos sobre o setor energético, fundamental para a arrecadação do país. As ações no porto de Ust-Luga ilustram como a Rússia tem reagido a ameaças que até então pareciam isoladas, mas que agora podem comprometer toda a cadeia de exportação de energia, em meio a um contexto de tensões geopolíticas e ataques à infraestrutura crítica.
A expectativa é de que a combinação de inspeções rigorosas, exigência de seguros locais e autorização do FSB fortaleça a segurança portuária, mas analistas alertam que o aumento das medidas de controle também pode gerar atrasos e custos adicionais para armadores internacionais que dependem dos portos russos para suas operações.