O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mantém esforços discretos para reabrir canais de comunicação com os Estados Unidos, mas avalia que o presidente americano, Donald Trump, não demonstra interesse em retomar o diálogo. A percepção, segundo integrantes do Palácio do Planalto e do Itamaraty, é de que qualquer aproximação está condicionada a um impasse político que o Brasil considera inaceitável.
De acordo com reportagem do O Globo, interlocutores do setor privado entendem que apenas uma conversa direta entre Lula e Trump poderia destravar a crise diplomática. No entanto, auxiliares de Lula afirmam que não há previsão de encontro, e que eventual tentativa só deve ocorrer após o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF), onde o ex-presidente responde por tentativa de golpe de Estado em 2022.
Impasse à vista na ONU
No próximo mês, Lula e Trump estarão em Nova York para a Assembleia Geral das Nações Unidas, onde, tradicionalmente, o Brasil abre a série de discursos, seguido pelos Estados Unidos. Apesar da coincidência de agendas, não há previsão de reunião bilateral. Fontes do governo brasileiro afirmam que a postura norte-americana de evitar contato deverá ficar evidente para setores afetados pela medida tarifária.
O tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, anunciado por Trump em 9 de julho, é hoje um dos principais pontos de atrito. Na ocasião, o presidente dos EUA citou o ministro do STF Alexandre de Moraes como um dos motivos para a decisão. Desde então, autoridades norte-americanas têm intensificado críticas ao Judiciário brasileiro, incluindo questionamentos sobre direitos humanos.
Condição rejeitada pelo Planalto
Segundo integrantes do governo, Trump condiciona a retirada da sobretaxa à revisão do processo contra Bolsonaro no STF. A exigência é tratada no Planalto como “interferência indevida” nos assuntos internos e, por isso, considerada irrecusável.
Desde a imposição das tarifas, o único diálogo formal ocorreu entre o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio. Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), havia agendado uma ligação com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, mas foi informado do cancelamento da conversa.
Perspectiva de prolongamento da crise
A avaliação interna é de que a postura da Casa Branca tende a prolongar as perdas comerciais e políticas para o Brasil, com impacto direto sobre exportadores. O distanciamento também é visto como um fator que dificulta avanços em outras áreas da agenda bilateral, como meio ambiente e investimentos.
A manutenção da sobretaxa, sem previsão de recuo por parte de Washington, mantém o conflito em aberto e reforça o clima de incerteza para o comércio exterior brasileiro.