O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem intensificado a aproximação com chefes de Estado de direita na América Latina diante da leitura de que os Estados Unidos, sob Donald Trump, buscam isolar o Brasil e enfraquecer a liderança regional de Lula. A informação foi revelada em reportagem do Estado de S.Paulo.
Temor de isolamento e estratégia do Planalto
Assessores presidenciais avaliam que Trump pode tentar reeditar um mecanismo semelhante ao antigo Grupo de Lima — articulado por governos conservadores para isolar a Venezuela —, desta vez com foco no Brasil.
Para reduzir riscos de hostilidade, a estratégia do Palácio do Planalto tem sido reforçar vínculos políticos e econômicos com vizinhos, independentemente de alinhamento ideológico.
Agenda com presidentes equatoriano e panamenho
Na segunda-feira (18), Lula recebeu em Brasília o presidente do Equador, Daniel Noboa, em um encontro marcado pelo pragmatismo:
- Lula afirmou que diferenças políticas não devem se sobrepor ao objetivo de integração regional.
- Noboa classificou a reunião como “um marco do recomeço” nas relações.
Entre os acordos, estão:
- Equilíbrio da balança comercial, com aumento das compras brasileiras de banana e camarão.
- Cooperação policial, incluindo o envio de um adido da Polícia Federal a Quito para atuar em operações contra contrabando de armas e facções criminosas.
Outro gesto esperado vem do Panamá. O presidente José Raúl Mulino deve visitar Brasília em 28 de agosto, levando propostas de cooperação econômica, incluindo:
- Compra de aeronaves da Embraer.
- Atração de investimentos brasileiros para projetos ligados ao Canal do Panamá.
Eleições e pragmatismo regional
A movimentação ocorre também diante do calendário eleitoral sul-americano:
- Bolívia: dois candidatos de direita disputam o segundo turno; pela primeira vez em 20 anos, a esquerda ficou fora. O governo Lula já sinalizou que reconhecerá o resultado, em contraposição à narrativa de Evo Morales.
- Chile: o Planalto acompanha a ascensão de José Antonio Kast, de extrema direita, e considera essencial manter diálogo para conter riscos regionais ligados à crise migratória venezuelana.
Relações estratégicas e integração
Mesmo com diferenças ideológicas, o Brasil aposta em grandes projetos de integração como mecanismos de estabilidade:
- O gasoduto Brasil–Bolívia.
- A compra de gás de Vaca Muerta, na Argentina.
- A retomada das relações com o Paraguai, após o caso de espionagem envolvendo a Abin, em encontros com o presidente Santiago Peña.
Ainda assim, Brasília monitora a aproximação de países vizinhos com Washington. O Paraguai assinou recentemente acordo com os EUA para combater crime organizado e imigração ilegal.
Disputa prolongada com a extrema direita global
Aliados de Lula consideram que a tensão com Trump faz parte de um embate de longo prazo. Segundo um conselheiro presidencial, Washington estaria aplicando uma política de “palmatória” para dar exemplo à região, reforçando a visão da América Latina como “quintal” dos EUA.
Como resposta, Lula pretende organizar em setembro, em Nova York, uma rodada de debates em defesa da democracia e da soberania, reunindo mais de 30 países, inclusive lideranças de fora do campo progressista.


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