Lula vai pra cima da perseguição de Trump e defende Pix em relatório internacional

Christophe Petit Tensson e Andrew Harnik/AFP

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviou nesta segunda-feira, 18, um relatório oficial ao Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR), em resposta à investigação aberta com base na Seção 301 da Lei de Comércio americana. O documento, divulgado pelo O Globo, argumenta que não há justificativa jurídica ou factual para a imposição de sanções comerciais e propõe a abertura de um “diálogo construtivo”.

Contestação à Seção 301

Na resposta, o Brasil reforça que a Seção 301 é um instrumento unilateral, incompatível com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), e que medidas baseadas fora desse arcabouço não têm legitimidade.

“O Brasil reitera sua posição de longa data de que a Seção 301 é incompatível com os princípios do sistema multilateral de comércio”, afirma o relatório.

O governo brasileiro também alertou que medidas unilaterais podem enfraquecer a OMC e gerar efeitos negativos para a relação bilateral.

Tarifa de 50% e escalada da crise

O atrito entre os dois países se intensificou após o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar em 9 de julho uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Logo em seguida, Washington abriu a investigação comercial com base na Seção 301.

Em sua defesa, Brasília lembrou que os EUA têm superávit constante na balança bilateral e destacou que reformas regulatórias em setores questionados já foram implementadas em conformidade com regras multilaterais.

Pix no centro da disputa

Um dos pontos mais sensíveis é o sistema de pagamentos instantâneos Pix. O governo americano alega que a ferramenta prejudica empresas de cartão de crédito dos EUA. O Brasil, por sua vez, defendeu o modelo como inovação que amplia a concorrência, promove eficiência e inclusão financeira:

“O Sistema de Pagamentos Instantâneos do Brasil — Pix — representa uma grande inovação nos mercados financeiros domésticos e internacionais”, diz o texto.

STF, plataformas digitais e propriedade intelectual

A investigação também abrange decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a responsabilidade de plataformas digitais. O relatório brasileiro negou qualquer tipo de discriminação contra empresas americanas, afirmando que a responsabilização ocorre apenas mediante ordem judicial e em casos graves, como terrorismo e pornografia infantil.

Outro ponto levantado por Washington foi a suposta fragilidade na proteção da propriedade intelectual, com referência à pirataria em centros comerciais como a Rua 25 de Março, em São Paulo. O Brasil rebateu, informando que intensificou o combate à falsificação e que suas normas seguem padrões internacionais.

Etanol e questões ambientais

No setor de energia, os EUA alegaram que tarifas brasileiras criam distorções no mercado de etanol. O Brasil contestou, argumentando que aplica alíquotas menores (18%) que as tarifas americanas (52,5%).

Sobre o meio ambiente, o governo Lula afirmou estar implementando medidas “ativas e concertadas” contra o desmatamento, com foco em impedir que produtos oriundos de áreas ilegais entrem nas cadeias globais de abastecimento.

Próximos passos

O processo de investigação americana pode durar até um ano. Está prevista uma audiência pública em dezembro, quando representantes dos dois países voltarão a debater os pontos de divergência. Caso Washington conclua que há práticas anticompetitivas, poderá adotar novas barreiras comerciais contra o Brasil.

Redação:
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