Em meio ao tarifaço americano, governador sugere entregar uma “vitória simbólica” a Trump para reduzir barreiras comerciais contra o Brasil
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), defendeu nesta segunda-feira (18) que o Brasil avalie a possibilidade de oferecer “uma vitória” ao presidente norte-americano Donald Trump, em meio à escalada das tensões comerciais entre os dois países. A fala ocorreu durante um evento organizado pela corretora Warren Investimentos, na capital paulista.
Segundo Tarcísio, a estratégia teria caráter pragmático. “Ele (Trump) vive da economia da atenção. Ele gosta de sentar, botar um chefe de Estado ao lado dele e dizer: ‘olha, consegui uma vitória’. Por que não entregar uma vitória para ele, fazer um gesto?”, disse o governador, sugerindo que um movimento simbólico do Brasil poderia ajudar a amenizar as barreiras impostas pelos Estados Unidos.
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As propostas de Tarcísio, no entanto, ficaram restritas a temas de natureza econômica. Ele citou como exemplo a importação de combustíveis. “A gente não precisa do diesel da Rússia para nada. Será que a gente não pode fazer um gesto nesse sentido?”, questionou. Em seguida, levantou outro ponto: “Quantas empresas brasileiras investem nos Estados Unidos?”
O comentário surge em um contexto de forte atrito comercial. Desde 6 de agosto, o governo norte-americano aplica tarifas de 50% sobre uma série de produtos brasileiros, como café, carne bovina e maquinário de engenharia civil. Juntos, esses itens representam mais da metade das exportações brasileiras destinadas ao mercado americano — aproximadamente 55% do total.
A administração Trump justificou o tarifaço com diferentes argumentos. Entre eles, questões ligadas a decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) contra redes sociais, críticas ao sistema de pagamentos instantâneos Pix — acusado de prejudicar empresas americanas — e até o processo que coloca o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como réu por sua participação em uma tentativa de golpe contra as eleições de 2022.
Nesse cenário, a política se mistura à diplomacia. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, tem passado longos períodos nos Estados Unidos. Desde o início do ano, ele afirma trabalhar para sensibilizar o governo Trump a adotar medidas contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, relator do processo que envolve seu pai.
A pressão americana sobre o Judiciário brasileiro já resultou em medidas diretas: o cancelamento do visto de Moraes e sanções financeiras contra o magistrado, aplicadas com base na chamada Lei Magnitsky, dispositivo que permite punições a autoridades acusadas de violações de direitos humanos ou corrupção.
As declarações de Tarcísio, centradas em aspectos econômicos, provocaram reações dentro do próprio campo bolsonarista. Eduardo Bolsonaro, em especial, tem criticado a postura do governador paulista, afirmando que, além da esfera comercial, os Estados Unidos esperam do Brasil uma “sinalização” política diante das decisões tomadas pelo Supremo Tribunal Federal.
Governo Trump volta a atacar Moraes e chama ministro de “tóxico” após decisão de Dino sobre leis estrangeiras
O embate político e jurídico entre os Estados Unidos e o Supremo Tribunal Federal (STF) ganhou um novo capítulo nesta semana. O governo Donald Trump, por meio do Departamento de Estado, voltou a disparar críticas contra o ministro Alexandre de Moraes, classificando-o como “tóxico”. A manifestação pública ocorreu em uma postagem oficial feita pelo Bureau of Western Hemisphere Affairs, setor responsável pelos assuntos do Hemisfério Ocidental, e foi replicada também pela conta da Embaixada dos EUA no Brasil.
A publicação norte-americana veio logo após a decisão do ministro Flávio Dino, também do STF, que reforçou a soberania brasileira ao determinar que leis e decisões judiciais estrangeiras não podem ter efeito imediato no país sem passar pelo crivo da Justiça nacional. Dino frisou que qualquer tentativa nesse sentido configuraria violação da ordem pública e da própria soberania.
O posicionamento dos EUA, no entanto, foi duro. O texto afirma: “Alexandre de Moraes é tóxico para todas as empresas e indivíduos legítimos que buscam acesso aos EUA e seus mercados. Nenhum tribunal estrangeiro pode invalidar as sanções dos Estados Unidos — ou poupar alguém das consequências graves de violá-las”. A nota acrescenta ainda que cidadãos norte-americanos estão proibidos de manter relações financeiras com o ministro e alerta terceiros: “Pessoas de fora dos EUA devem agir com cautela: aqueles que fornecem apoio material a violadores de direitos humanos enfrentam riscos de sanções”.
A decisão de Dino
A manifestação do governo norte-americano foi interpretada como uma resposta direta à decisão de Flávio Dino, proferida na última segunda-feira (18). O ministro destacou que ordens executivas, leis ou sentenças vindas de outros países não podem ser aplicadas automaticamente em território brasileiro. Para valerem no Brasil, é necessária análise e homologação por autoridade judicial competente.
A decisão ocorreu dentro de uma ação movida pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que contestava iniciativas de municípios brasileiros de acionar a Justiça do Reino Unido em disputas envolvendo mineradoras britânicas. Dino foi categórico: “Qualquer violação dessa determinação constitui ofensa à soberania nacional, à ordem pública e aos bons costumes, portanto presume-se a ineficácia de tais leis, atos e sentenças emanadas de país estrangeiro”.
Moraes e a entrevista ao Washington Post
Enquanto isso, Alexandre de Moraes, relator das ações que investigam uma tentativa de golpe de Estado em 2022, também se pronunciou de forma contundente. Em entrevista rara concedida ao jornal norte-americano The Washington Post, Moraes reforçou que não pretende ceder às pressões externas ou internas sobre os processos em andamento.
“Não haver a menor possibilidade de recuar nem mesmo um milímetro”, afirmou o ministro, ao comentar a tramitação do caso. Segundo ele, a Justiça brasileira seguirá seu curso natural: “Vamos fazer o que é certo: vamos receber a denúncia, analisar as evidências, e quem tiver de ser condenado vai ser condenado, e quem tiver de ser absolvido vai ser absolvido”.
Na reportagem, assinada pelos correspondentes internacionais Marina Dias e Terrence McCoy, o ministro é retratado como alguém habituado a confrontos diretos com figuras de grande poder político e econômico. O perfil publicado pelo jornal o descreve como um magistrado que leva a sério o lema pessoal “nunca desista, sempre avance”.
Com informações de CNN e Agências de Notícias*