Em São Paulo, Haddad ultrapassa Eduardo Bolsonaro em pesquisa após tarifaço nos EUA e acende alerta na direita
Pela primeira vez desde o início da disputa por uma vaga no Senado por São Paulo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), aparece à frente do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em pesquisa de intenção de voto. O resultado, divulgado pela Paraná Pesquisas, caiu como um sinal de alerta no campo bolsonarista e já provoca discussões dentro do PL sobre os efeitos das recentes movimentações do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro no cenário internacional.
O levantamento, realizado entre os dias 21 e 24 de agosto, mostra que Haddad ganhou fôlego no último mês. Em relação a julho, o petista avançou quatro pontos percentuais, assumindo a liderança na corrida pelo Senado. No caminho inverso, Eduardo Bolsonaro perdeu aproximadamente três pontos percentuais, o que o empurrou para a segunda colocação.
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O resultado foi recebido com apreensão no PL, sobretudo porque a pesquisa foi conduzida por um instituto que tradicionalmente presta serviços ao próprio partido. Nos bastidores, dirigentes atribuem a queda do deputado ao impacto direto da tarifa de 50% aplicada pelo governo de Donald Trump sobre produtos brasileiros, uma medida considerada dura e prejudicial para a imagem de Eduardo entre o eleitorado paulista.
A avaliação entre aliados é que o parlamentar, ao se engajar nos Estados Unidos em articulações que buscam sanções contra autoridades brasileiras e a anistia do ex-presidente Jair Bolsonaro, acabou se desgastando. A percepção é que sua atuação internacional, em vez de projetar força, acabou reforçando a ideia de afastamento das preocupações locais, abrindo espaço para Haddad ganhar terreno.
O desempenho do ministro, por sua vez, vem sendo interpretado como reflexo de maior exposição pública e da defesa de sua agenda econômica, ainda que controversa. Para analistas políticos, o crescimento nas pesquisas mostra que Haddad conseguiu capitalizar parte do descontentamento provocado pelo episódio do “tarifaço” e se posicionar como alternativa mais sólida no estado.
Enquanto isso, no núcleo bolsonarista, a preocupação é que a queda de Eduardo não seja apenas um tropeço pontual, mas o início de uma tendência capaz de comprometer o projeto de manter um nome de peso da família no Senado. A disputa, que já vinha sendo tratada como central para a estratégia eleitoral da direita em São Paulo, ganha contornos ainda mais tensos diante do novo cenário.
Governos podem comprar perecíveis afetados pelo tarifaço sem licitação
Com a taxação imposta pelos Estados Unidos a uma série de produtos brasileiros, o governo federal decidiu adotar uma medida emergencial para evitar prejuízos ainda maiores aos agricultores e empresas exportadoras. A partir de agora, alimentos perecíveis que perderam espaço no mercado internacional, como açaí, uva, água de coco, mel, manga, pescados e castanhas, poderão ser adquiridos sem licitação por órgãos públicos de todas as esferas — União, estados e municípios.
Esses itens serão destinados principalmente a programas de alimentação escolar, estoques públicos e compras institucionais, aproveitando orçamentos já previstos nessas áreas. A medida começou a valer imediatamente e não tem prazo para encerrar.
Segundo o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, a decisão tem caráter de proteção emergencial, já que não há tempo hábil para redirecionar os produtos a novos mercados.
— Estamos agindo para evitar que alimentos perecíveis se percam. Não há solução imediata no mercado internacional. Por isso, o governo fará a aquisição direta, seguindo a tabela dos programas já existentes, explicou.
Teixeira destacou ainda que os valores pagos serão compatíveis com a realidade do setor agrícola brasileiro, e não com os preços praticados nas exportações.
— Os preços desses programas são bons, pois garantem uma remuneração adequada ao produtor. Mas não há como o governo pagar valores fixados em dólar, como ocorre nas exportações para os Estados Unidos. A lógica é outra, completou.
Café e carne bovina ficam de fora
Apesar de também terem sido incluídos na lista de produtos taxados pelos americanos, o café e a carne bovina não serão contemplados pela iniciativa. O ministro justificou que ambos contam com mercados alternativos consolidados e maior durabilidade.
— O café, hoje, tem grande procura no mercado mundial. Há até escassez do produto, o que abre espaço em outros países. A carne bovina também encontra compradores com facilidade e, além disso, pode ser congelada, o que amplia sua validade, afirmou.
Como produtores podem participar
Para ter acesso às compras públicas, agricultores familiares e empresas precisarão comprovar que foram diretamente prejudicados pelas tarifas impostas pelos Estados Unidos. A documentação deverá ser apresentada a órgãos públicos como prefeituras, governos estaduais, instituições federais de ensino, hospitais federais e também à Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que atuará como um dos principais canais de aquisição.
A expectativa do governo é que a medida funcione como um colchão de proteção para o setor agropecuário mais vulnerável ao tarifaço, garantindo escoamento da produção, renda aos agricultores e, ao mesmo tempo, abastecimento de programas sociais que beneficiam milhões de brasileiros.
Com informações de O GLOBO e Agência de Notícias*