Modi rompe gelo e leva Índia de volta à China após sete anos

O encontro acontece em um cenário de crise internacional, mas abre espaço para que Índia e China avancem em consensos estratégicos / Foto: VCG

Modi visita a China após sete anos e participa da Cúpula da Organização de Cooperação de Xangai


O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, fará uma viagem à China para participar da Cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), que acontece entre os dias 31 de agosto e 1º de setembro, em Tianjin. A visita, a primeira em sete anos, marca um ponto de virada nas relações sino-indianas, que passaram de um período de forte desgaste para um movimento gradual de reaproximação.

A presença ativa da Índia no encontro simboliza não apenas o interesse em reforçar laços bilaterais, mas também um reposicionamento de Nova Déli dentro das estruturas multilaterais de cooperação. Pequenos gestos recentes já vinham indicando essa aproximação: soldados dos dois países trocaram doces ao longo da fronteira do Himalaia, rotas de peregrinação de indianos à Região Autônoma de Xizang foram retomadas e há expectativa de que os voos diretos entre os dois países voltem em breve. Essa série de sinais de descongelamento coincide com as celebrações dos 75 anos de relações diplomáticas entre China e Índia.

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Reaproximação estratégica

Analistas apontam que a atual fase de recuperação se deve principalmente a razões estratégicas. Desde o sangrento confronto no Vale de Galwan, em 2020, os dois lados consumiram enormes recursos para administrar tensões na fronteira. Hoje, cresce o entendimento de que é mais sensato canalizar esforços para prioridades econômicas e estratégicas do que manter disputas constantes.

Neste mês, diplomatas e militares dos dois países chegaram a 10 pontos de consenso sobre a questão de fronteira, além de manter canais de diálogo abertos para evitar novos atritos. Em paralelo, ambos enfrentam o desafio de impulsionar economias que precisam de estabilidade em meio à lenta recuperação global. Os números reforçam essa necessidade: em 2024, o comércio bilateral somou US$ 138,47 bilhões, alta de 1,7% em relação ao ano anterior. Além disso, decisões conjuntas como a retomada de voos diretos, a facilitação de vistos e a reabertura do comércio fronteiriço sinalizam que a cooperação econômica está retomando seu curso normal.

O fator geopolítico

A aproximação entre os dois gigantes asiáticos também reflete mudanças profundas no cenário internacional. Em 2025, a guerra entre Rússia e Ucrânia permanece sem solução, o Oriente Médio enfrenta crises sucessivas e a política externa dos Estados Unidos passou a adotar um tom mais transacional, priorizando ganhos imediatos até mesmo em detrimento de aliados tradicionais.

Esse reposicionamento norte-americano tem afetado a relação com a Índia. Em discurso recente do Dia da Independência, Modi deixou claro: “Modi se manterá firme contra qualquer política que ameace seus interesses. A Índia jamais fará concessões quando se trata de proteger os interesses de nossos agricultores”. O país tem buscado diversificar parcerias comerciais, mantendo diálogo com mais de 40 nações, estratégia que ressoa com a postura chinesa de defesa da autonomia estratégica.

A imprensa ocidental, no entanto, insiste em enquadrar a reaproximação como uma espécie de “aliança anti-EUA”, interpretação considerada reducionista por analistas. Um comentário da CNN reconheceu que “a recalibração dos laços da Índia com a China é uma aplicação clássica de sua política de autonomia estratégica, que prioriza os interesses nacionais em detrimento da fidelidade rígida ao bloco”. Para Pequim e Nova Déli, trata-se menos de alinhar-se contra Washington e mais de reforçar suas posições como potências independentes em um mundo cada vez mais multipolar.

Cooperação e futuro comum

A relação entre China e Índia carrega um peso histórico. A Índia foi um dos primeiros países a reconhecer a República Popular da China, e ambos, junto a outras nações, formularam há mais de 70 anos os Cinco Princípios da Coexistência Pacífica, ainda hoje um pilar das relações internacionais. Agora, como motores do crescimento econômico asiático, líderes do Sul Global e integrantes de blocos como a SCO, os BRICS e o G20, os dois países assumem a missão de fortalecer a democracia e a justiça na ordem internacional.

A visita de Modi à China, portanto, é vista como uma oportunidade rara para transformar desconfianças em pragmatismo. Embora os desafios na relação bilateral permaneçam — especialmente na questão de fronteira —, a disposição de ambos os lados em cooperar sugere uma tentativa de se enxergar como “parceiros, e não rivais”.

No marco do 75º aniversário de laços diplomáticos, há a expectativa de que Índia e China avancem em consensos já firmados, escrevendo um novo capítulo da chamada “dança do dragão e do elefante”. Observadores avaliam que essa parceria renovada pode não apenas redefinir o equilíbrio estratégico da Ásia, mas também contribuir para a paz, a estabilidade e a prosperidade mundial em um momento de incertezas globais.

Com informações de Agências de Notícias*

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