Relatório aponta risco de fuga de Bolsonaro por muro de vizinho

O plano de fuga em estudo reacende a tensão entre Polícia Federal e Procuradoria-Geral, que divergem sobre a vigilância dentro da casa do ex-presidente / Agência Brasil

Relatório da PF descreve como um salto pelos fundos poderia colocar Bolsonaro a caminho da embaixada dos EUA sem que a segurança percebesse


Um estudo encomendado pela Polícia Federal e obtido pela reportagem da Folha revela um cenário de suspense que parece saído de um filme de espionagem: as autoridades temem que o ex-presidente Jair Bolsonaro possa tentar escapar da vigilância do seu condomínio em Brasília pulando o muro de um dos vizinhos, com o objetivo final de buscar asilo político na Embaixada dos Estados Unidos.

O plano de segurança, elaborado com base em imagens aéreas captadas por drones, detalha a geografia do local. A residência de Bolsonaro faz divisa com dois vizinhos laterais e outros três nos fundos, onde se localiza o jardim. De acordo com a análise dos agentes, qualquer tentativa de pular os muros laterais seria facilmente vista pela equipe que faz a vigilância externa. O risco real, no entanto, estaria nos fundos do imóvel. Um salto para um desses três terrenos traseiros colocaria o ex-presidente completamente fora do campo de visão da segurança.

Leia também:
Soberania da África do Sul se impõe diante de barreiras dos EUA
África do Sul reage a barreiras comerciais impostas pelos EUA
Modi rompe gelo e leva Índia de volta à China após sete anos

O cenário traçado pela PF é minucioso. Uma vez do outro lado do muro, dentro da propriedade de um vizinho, Bolsonaro poderia entrar em um veículo, se esconder no assoalho ou no banco traseiro, e sair escondido pela portaria do condomínio – já que os carros não estão sendo revistados. A tornozeleira eletrônica, vigiada em tempo real, não impediria a fuga. O motivo é a proximidade: a sede da embaixada norte-americana está a apenas dez minutos de carro do local. Pelos cálculos da PF, no tempo que os agentes responsáveis pelo monitoramento levariam para perceber o movimento anômalo e acionar um protocolo de busca, ele já estaria a salvo dentro do território diplomático.

Este temor específico é a justificativa central usada pelo diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, para pedir ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a autorização para instalar uma equipe de agentes dentro da casa do ex-presidente, 24 horas por dia. O ofício foi encaminhado na última terça-feira (26), e a medida é vista pela cúpula da PF como a única forma infalível de garantir que Bolsonaro não tentará fugir às vésperas de seu julgamento por acusações de envolvimento em atos golpistas.

O alerta da PF foi acionado, em parte, após um aviso formal do deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ). Em um ofício enviado à corporação, o parlamentar afirmou ter recebido informações sigilosas sobre a existência de um suposto plano de fuga.

Posição da PGR

Em mais um capítulo do impasse sobre as condições da prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, a Procuradoria-Geral da República (PGR) se posicionou formalmente contra a medida mais extrema requerida pela Polícia Federal (PF). Em parecer enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta sexta-feira (29), o procurador-geral da República, Paulo Gonet, manifestou-se contrário à presença de agentes federais dentro da residência do ex-presidente, 24 horas por dia.

A decisão da PGR atende a um pedido de manifestação feito pelo ministro Alexandre de Moraes no último dia 26, após receber um ofício do diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, que pedia a medida com base no risco concreto de fuga. No mesmo dia, Moraes havia já determinado que a Polícia Penal do DF fizesse o monitoramento via tornozeleira eletrônica.

Gonet, no entanto, traçou uma linha. Em sua avaliação, não há justificativa para “agravara situação” de Bolsonaro com uma medida tão intrusiva. “Essa avaliação não induz a Procuradoria-Geral da República, neste momento, a propugnar por soluções mais gravosas do que a da custódia domiciliar”, argumentou o procurador-geral no documento endereçado ao STF.

Apesar de barrar a entrada dos policiais na casa, a PGR não ignora o risco. O parecer de Gonet é favorável a um reforço da segurança nas proximidades da residência e na entrada do Condomínio Solar de Brasília, onde Bolsonaro cumpre a prisão domiciliar. Essa posição sinaliza um meio-termo: reconhece a preocupação da PF, mas acredita que ela pode ser sanada com um cerco externo mais forte, sem necessidade de invadir o espaço domiciliar.

O procurador não desconsiderou os argumentos da PF. Ele ponderou que a corporação tem motivos reais para se preocupar, citando dois pontos cruciais do inquérito: o pedido de asilo à Argentina encontrado no celular de Bolsonaro e o fato de seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), estar nos Estados Unidos “estimulando medidas contra o Brasil”. São elementos que, para a PF, compõem um cenário de preparação para uma eventual fuga.

A PF havia alertado, em seu ofício, sobre uma falha técnica crucial: o sinal da tornozeleira eletrônica pode sofrer intermitências. Essas brechas, ainda que curtas, dariam “tempo hábil para que o custodiado empreendesse uma fuga”, especialmente considerando a proximidade com a Embaixada dos EUA.

Contudo, após analisar todos os elementos, o chefe do Ministério Público Federal concluiu que o conjunto de medidas já decretadas – a prisão domiciliar, a tornozeleira e a vigilância externa – é proporcional e suficiente para o momento. “As circunstâncias, assim, evidentemente, recomendam precauções contra iniciativas de fuga. Tudo isso, afinal, é ainda mais acentuado pela proximidade do julgamento”, escreveu Gonet, reforçando que as “providências de cautela já foram adotadas em atenção ao interesse na aplicação efetiva da lei penal”.

A bola agora está novamente com o ministro Alexandre de Moraes. Ele terá de pesar os argumentos técnicos e operacionais da PF, que quer trancar todas as rotas de fuga possíveis, contra a avaliação jurídica da PGR, que defende o equilíbrio entre a garantia da Justiça e o respeito aos limites da prisão domiciliar. A decisão final definirá o nível de tensão dentro dos muros do condomínio e a rotina do seu morador mais vigiado do país.

Com informações da Folha e Agências de Notícias*

Redação:
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.