Uma guerra de muitos séculos foi vencida sem o disparo de um tiro. Sem matar um inocente, sem mutilar uma criança. Enquanto outros conflitos destroem vidas e cidades, a diplomacia triunfou. A consolidação de uma nova ordem mundial multipolar aconteceu pela força das palavras, não das armas.
O poderio militar reunido dos três gigantes asiáticos também fez a diferença. Rússia, China e Índia – três potências nucleares – demonstraram sua força silenciosamente.
Washington e seus aliados europeus apostavam na estratégia do isolamento. Tentaram intimidar e pressionar. Mas o mundo assistiu a um momento que descontruiu completamente essa tentativa. O primeiro-ministro indiano Narendra Modi abraçou calorosamente o presidente russo Vladimir Putin na cúpula da Organização para Cooperação de Xangai.
A imagem é constrangedora para a política externa americana. Nas semanas anteriores, Peter Navarro, um dos principais assessores de Trump, havia atacado violentamente a Índia. Chamou o país de “lavanderia do Kremlin”. Chegou ao absurdo de usar linguagem casteísta. Declarou que “brâmanes estariam lucrando às custas do povo indiano”.
Scott Bessent, secretário do Tesouro, acusou Nova Delhi de estar “lucrando” com petróleo russo. Donald Trump impôs tarifas de 50% como “punição” à Índia. Navarro chegou a chamar o conflito na Ucrânia de “guerra de Modi”.
White House trade adviser Peter Navarro sought to raise pressure on India to halt purchases of Russian energy after the US imposed crippling new tariffs on New Delhi, casting the conflict in Ukraine as “Modi’s war.” He speaks with @jmathieureports https://t.co/q2zqU9y9Lc pic.twitter.com/ohxbenkO87
— Bloomberg TV (@BloombergTV) August 27, 2025
Mas Modi não apenas manteve suas relações com Moscou. Fez questão de publicar as fotos do encontro em suas próprias redes. O recado não poderia ser mais claro. A era do bullying americano chegou ao fim.
O encontro em Tianjin marca uma virada histórica decisiva. Três das maiores potências mundiais demonstraram que a narrativa de um “Putin isolado” não passa de fantasia desesperada.
A foto dos três líderes juntos é emblemática. Xi Jinping, Vladimir Putin e Narendra Modi, conversando de forma descontraída, representam o nascimento de uma nova arquitetura de poder mundial. O Ocidente não mais dita as regras do jogo.
Modi and Putin walking in hand-in-handpic.twitter.com/37uScwxYso
— Velina Tchakarova (@vtchakarova) September 1, 2025
Os bastidores revelam ainda mais sobre essa proximidade. Putin desejou viajar junto com Modi do local da conferência para o hotel da reunião bilateral. Esperou cerca de 10 minutos para que o primeiro-ministro indiano pudesse se juntar a ele. Ambos viajaram no mesmo carro, conversando sobre diversas questões. Passaram outros 45 minutos no veículo mesmo após chegarem ao destino. Depois disso, tiveram uma reunião bilateral que durou mais de uma hora.
As relações Índia-Rússia estão no melhor momento possível. Enquanto Washington tentava isolar Putin, o líder russo estava cercado de dezenas de chefes de Estado. Encontrou-se também com o presidente turco Erdogan, membro da OTAN, nas margens da cúpula da SCO.
🚨🇷🇺🇹🇷SPOTTED: Putin and Erdogan on the sidelines of the SCO summit. pic.twitter.com/RTechSH99f
— Sputnik (@SputnikInt) September 1, 2025
A cúpula de Tianjin produziu resultados concretos que consolidam essa nova ordem. Xi Jinping lançou a Iniciativa de Governança Global, baseada em cinco princípios fundamentais: igualdade soberana, estado de direito internacional, multilateralismo, abordagem centrada nas pessoas e foco em ações reais. A China comprometeu-se com investimentos de US$ 84 bilhões em países da SCO. O comércio bilateral já superou US$ 2,3 trilhões.
Os países membros decidiram criar o Banco de Desenvolvimento da SCO. Estabeleceram um centro universal para combater ameaças à segurança. A organização cresceu e se tornou a maior do mundo, com 26 países participantes e produção econômica combinada de quase US$ 30 trilhões.
O fortalecimento do eixo Sul-Sul se estende além da SCO. A ligação telefônica entre o ministro chinês Wang Yi e o brasileiro Mauro Vieira, dias antes da cúpula, demonstrou a coordenação entre potências emergentes. Brasil e China concordaram em resistir ao unilateralismo e defender os direitos dos países em desenvolvimento. O relacionamento China-Brasil está no seu melhor momento histórico.
A estratégia americana de pressão e intimidação fracassou. As tarifas punitivas, os ataques verbais e as tentativas de chantagem econômica produziram o efeito contrário. Aproximaram ainda mais os países que Washington tentava separar. A diplomacia asiática prevaleceu sobre o bullying ocidental.
Tianjin marca o fim de uma era. A hegemonia ocidental, construída ao longo de séculos, encontrou seu fim numa cidade chinesa. O mundo multipolar deixou de ser promessa para se tornar realidade.






José Guilherme Tavares Nogueira
01/09/2025 - 15h33
Meu querido, a sua interpretação me parece ser bastante limitada. Não é como se uma simples reunião em uma cidade chinesa fosse quebrar a ordem global liderada pelos Estados Unidos. Os Eua mantém um controle poderoso sobre varias instituições internacionais mesmo que Trump tenha saído e cortado financiamento, os Eua ”em si continuam” e tem muitos países que resistem a influência do eixo do mal, tanto no indo-pacifico quantos em outras regiões da Ásia. Putin está lutando pra manter a relevância, Xi Jinping está tentando dar uma posição a China que poucos aceitam, e Modi está nessa cupula por ter ”poucas” opções além disso. E cedo demais pra afirmar a existência de uma ordem multipolar.