Após dias de silêncio constrangedor sobre as imagens que saíram de Tianjin, Donald Trump finalmente reagiu. E, sem nenhuma surpresa, da pior forma possível: com mais ataques e tentativas de humilhar a Índia. As fotos de Narendra Modi abraçando calorosamente Vladimir Putin e conversando descontraidamente com Xi Jinping constituíram um desafio direto ao bullying americano. Ao invés de uma resposta diplomática civilizada, Trump escolheu o caminho da agressão. Publicou seus ataques na Truth Social, sua rede pessoal, desprezando completamente os canais diplomáticos tradicionais. A mensagem foi republicada pelo vice-presidente JD Vance, transformando o desabafo pessoal em posição oficial da administração americana.
Na mensagem publicada em 1º de setembro – exatamente no dia da cúpula da SCO -, Trump descarregou sua frustração contra a Índia. Eis a íntegra traduzida:
“O que poucas pessoas entendem é que fazemos muito pouco negócio com a Índia, mas eles fazem tremendos negócios conosco. Em outras palavras, eles nos vendem quantidades massivas de mercadorias, somos seu maior ‘cliente’, mas nós vendemos muito pouco para eles – Até agora uma relação totalmente unilateral, e tem sido assim por muitas décadas. A razão é que a Índia nos cobrou, até agora, tarifas tão altas, as mais altas de qualquer país, que nossos negócios são incapazes de vender na Índia. Foi um desastre totalmente unilateral! Além disso, a Índia compra a maior parte de seu petróleo e produtos militares da Rússia, muito pouco dos EUA. Eles agora se ofereceram para cortar suas tarifas a zero, mas está ficando tarde. Eles deveriam ter feito isso anos atrás. Apenas alguns fatos simples para as pessoas ponderarem!!!”
O tom é de chantagem pura, como se a Índia fosse uma colônia que deve obediência a Washington.
Trump mente descaradamente sobre a realidade do comércio bilateral. A Índia é o quinto maior parceiro comercial dos Estados Unidos, com intercâmbio que superou US$ 190 bilhões em 2024. Longe de ser “unilateral”, essa relação beneficia massivamente a economia americana. Os Estados Unidos exportam para a Índia produtos de alto valor agregado: tecnologia, equipamentos médicos, aeronaves, produtos químicos e maquinário industrial. A Boeing sozinha vendeu centenas de aeronaves para companhias indianas, gerando bilhões em receita e milhares de empregos nos EUA.
As empresas americanas faturam trilhões através de suas operações na Índia. Google, Microsoft, Amazon, Apple e Meta obtêm receitas gigantescas do mercado indiano. O Vale do Silício funciona com cérebros indianos – mais de 40% dos CEOs das 500 maiores empresas americanas são de origem indiana. A Índia compra US$ 18 bilhões em armamentos americanos anualmente. Mas isso não conta na matemática distorcida de Trump.
Sobre as tarifas, a hipocrisia americana é gritante. Os Estados Unidos mantêm tarifas de até 350% sobre produtos têxteis e barreiras que bloqueiam produtos de dezenas de países. Trump mesmo impôs tarifas de 50% sobre produtos indianos. A Índia tem 1,4 bilhão de pessoas e o direito soberano de proteger sua economia. Trump deveria negociar ao invés de choramingar nas redes sociais.
Enquanto Modi abraçava Putin e conversava com Xi Jinping em Tianjin, Trump se comportou como um tiozão velho reclamando sozinho no seu Orkut pessoal. Os bastidores revelam a realidade: Putin desejou viajar junto com Modi, esperou 10 minutos por ele, e ambos passaram 45 minutos conversando no carro mesmo após chegarem ao destino. Diplomacia real versus chantagem virtual.
Putin estava cercado de dezenas de chefes de Estado, encontrou-se com Erdogan da OTAN, participou da maior cúpula geopolítica do ano. Trump permanecia isolado atacando países que deveriam ser parceiros.
A reação de Trump às imagens de Tianjin expôs a impotência americana diante da nova realidade geopolítica. Suas ameaças vazias e ataques desesperados nas redes sociais apenas confirmaram o óbvio: Washington perdeu a capacidade de ditar as regras do jogo global. Enquanto isso, Modi segue construindo pontes que conectam o futuro, deixando Trump falando sozinho.