Niterói zera homicídios em agosto enquanto o Rio enfrenta escalada da violência

Vista de Niteroi. Crédito: Divulgação.

Na manhã de 24 de julho de 2025, um tiroteio paralisou a rotina no Complexo da Pedreira, em Costa Barros, Zona Norte do Rio. A circulação de trens foi suspensa e um ônibus foi atravessado na pista, enquanto moradores se escondiam em casa. Dias depois, novos confrontos voltaram a interromper a vida na região. Casos como esse são frequentes em 2025 e reforçam os números divulgados pelo laboratório Fogo Cruzado: o primeiro semestre do ano registrou recorde de tiroteios na capital fluminense.

A escalada da violência foi confirmada por um levantamento do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec/PUC-Rio), em março de 2025. A pesquisa mostrou que a letalidade violenta cresceu 17,9% na capital e 53,1% na Baixada Fluminense no primeiro bimestre em comparação a 2024. O roubo de carga no estado subiu 71,7% e o roubo de veículos aumentou 20,8% na mesma base de comparação. Em fevereiro de 2025, 181 pessoas foram baleadas na região metropolitana, 79 delas mortas, segundo balanço de imprensa.

Sob o governo de Cláudio Castro, a crítica de especialistas e opositores é de que não há planejamento estratégico capaz de reduzir os índices. A expansão das milícias e das áreas controladas por facções armadas revela uma deterioração que se traduz em medo diário para milhões de moradores. Pesquisas de opinião divulgadas em maio de 2025 pela Quaest mostraram que segurança pública e violência são as maiores preocupações dos cariocas.

Do outro lado da Baía de Guanabara, porém, a paisagem é diferente. Niterói, cidade de 481.749 habitantes segundo o Censo de 2022, aparece como exceção. Situada frente ao Rio, conectada pela ponte e pela travessia marítima, foi capital do antigo estado do Rio de Janeiro até 1975 e preserva uma identidade própria, de tradição cultural e vida universitária intensa.

Em agosto de 2025, pela primeira vez desde o início da série histórica em 2003, Niterói não registrou nenhuma vítima de homicídio, latrocínio ou morte violenta. De janeiro a agosto, a queda da letalidade foi de 29,41% em comparação ao mesmo período de 2024. Foram apenas 68 roubos de rua, o menor número já registrado para o mês, e 13 roubos de veículos, uma redução de 53% em relação a agosto do ano anterior. O roubo de carga permaneceu zerado. No total, 101 registros de roubo consolidaram agosto de 2025 como o menos violento da série histórica.

Segundo o Observatório Municipal de Ordem Pública, os resultados são consequência do Plano Pacto Niterói contra a Violência, que aposta em monitoramento por câmeras, integração das forças de segurança, inteligência policial e ações de prevenção com foco na juventude.

A cidade também se distingue no perfil social e político. Lidera o estado no Índice de Progresso Social e tem 43% dos moradores acima de 25 anos com ensino superior, a segunda maior proporção do Brasil. No segundo turno da eleição presidencial de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva venceu em Niterói com 162.882 votos (51,21%) contra 155.186 (48,79%) de Jair Bolsonaro, resultado distinto do observado na capital e no estado, onde Bolsonaro venceu com 52,66% e 56,53%, respectivamente.

Nas eleições municipais de 2024, Rodrigo Neves (PDT) voltou à prefeitura ao derrotar Carlos Jordy (PL) no segundo turno por 156.067 votos (57,20%) a 116.796 (42,80%). O resultado consolidou a hegemonia de uma gestão progressista que aposta em planejamento e políticas sociais em vez do discurso de endurecimento policial que predomina no restante do estado.

Desde sua inauguração, em 2015, o Centro de Segurança Pública (CISP) tem sido uma das principais ferramentas das forças de segurança no combate à criminalidade em Niterói. Graças às câmeras e ao trabalho intenso e diário dos agentes de segurança, muitos crimes estão sendo elucidados em ações imediatas orientadas pelos guardas municipais que atuam no CISP. Crédito: prefeitura de Niteroi.

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