Assim como o Brasil, a China também vem enfrentando o tarifaço de Donald Trump com a diversificação de mercados. Em agosto, mesmo com a queda brutal de 33% nas exportações para os Estados Unidos, as vendas externas totais cresceram, mostrando que o país tem conseguido driblar as barreiras impostas por Washington.
Os números oficiais da Administração Geral de Alfândegas mostram que as exportações chinesas chegaram a US$ 321,8 bilhões em agosto, um aumento de 4,4% em relação ao mesmo mês do ano passado. Ainda que a taxa de crescimento tenha sido menor do que os 7,2% de julho, o dado confirma a expansão do comércio exterior em um cenário de tarifas pesadas e incertezas globais.
As importações também cresceram, totalizando US$ 219,5 bilhões, uma alta de 1,8%. Com isso, o superávit comercial da China atingiu US$ 102,3 bilhões em agosto, acima dos US$ 98,2 bilhões de julho. No acumulado de janeiro a agosto, o superávit chegou a US$ 785,3 bilhões apenas em bens, reforçando o peso do país no comércio global.
O contraste chama atenção: enquanto a mídia ocidental destaca que as exportações chinesas “crescem no ritmo mais lento em seis meses”, o fato central é que elas cresceram mesmo enfrentando a maior economia do mundo, que impôs tarifas adicionais de 30% sobre produtos chineses desde o início do ano. No total, já considerando as tarifas anteriores, a média de sobretaxas impostas a produtos chineses chega a 52%, segundo revelou recentemente o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent. Na mesma entrevista, ao comentar sobre o Brasil, Bessent afirmou que os Estados Unidos estariam aplicando tarifas de 50% sobre produtos vindos da Índia.
A diversificação tem sido a chave. As exportações chinesas para o sudeste asiático avançaram 22,5% em agosto, consolidando a região como o maior parceiro comercial do país. Para a União Europeia, as vendas cresceram 10,4%, alcançando US$ 46,8 bilhões. Já as importações vindas do bloco caíram levemente, para US$ 22,8 bilhões. Com os países da Iniciativa Cinturão e Rota, o comércio aumentou 5,4% no acumulado do ano.
O avanço também aparece em setores estratégicos. As exportações de produtos mecânicos e elétricos subiram 9,2%, representando mais de 60% das vendas totais, impulsionadas por semicondutores e automóveis. Por outro lado, itens intensivos em mão de obra recuaram 1,5%.
Os chamados “terras-raras” também ganharam destaque. As exportações desses minerais, vitais para carros, eletrodomésticos e jatos militares, subiram de US$ 41 milhões em julho para US$ 55 milhões em agosto, embora tenham caído 25,6% em relação a agosto do ano passado. A disputa em torno desse setor estratégico foi tema central das negociações entre Pequim e Washington em Londres, em junho, quando a China concordou em liberar mais licenças de exportação em troca da suspensão de restrições americanas a softwares de design de chips e motores de avião.
Outro dado importante é o papel crescente das empresas privadas chinesas. São companhias de capital nacional, mas que não pertencem ao Estado, atuando em setores variados como eletrônicos, automóveis e têxteis. Diferentemente das estatais, que sempre foram a espinha dorsal do comércio externo, essas empresas privadas têm assumido protagonismo nos últimos anos. Entre janeiro e agosto, elas movimentaram 16,89 trilhões de yuans em importações e exportações — o equivalente a cerca de US$ 2,3 trilhões — uma alta de 7,4% em relação ao mesmo período do ano passado. Isso significa que responderam por 57,1% de todo o comércio externo da China, 2,1 pontos percentuais a mais do que no ano anterior. Ou seja, mais da metade das trocas comerciais internacionais do país já está nas mãos de empresas privadas, e não apenas das tradicionais estatais.
O quadro reforça a leitura de que a guerra comercial não tem paralisado a máquina exportadora chinesa.
Apesar da perda expressiva do mercado americano, a China tem conseguido redirecionar mercadorias, abrir espaço em novos destinos e manter saldo robusto.