O ataque ocorreu em meio à ofensiva do exército contra a RSF, enquanto a população enfrenta um dos maiores desastres humanitários do mundo
Uma série de ataques de drones atribuídos às Forças de Apoio Rápido (RSF), grupo paramilitar que disputa o poder com o Exército do Sudão, provocou uma grande queda de energia em várias regiões do estado de Cartum. O incidente, ocorrido na terça-feira, aprofundou o caos em um país já devastado por mais de dois anos de conflito armado.
Segundo informações do Sudan Tribune, que citou testemunhas oculares, os drones atingiram a área militar de Wadi Seidna e a subestação elétrica de Al-Markhiyat, localizada na cidade de Omdurman, uma das mais populosas do país. As explosões atingiram transformadores e equipamentos essenciais do sistema elétrico, deixando amplas áreas sem energia.
Imagens divulgadas nas redes sociais mostram incêndios intensos na subestação, com colunas de fumaça densa subindo sobre a cidade. O ataque gerou pânico entre os moradores, que relataram fortes estrondos e blecautes repentinos pouco depois das primeiras explosões.
Além das infraestruturas elétricas, a RSF teria mirado também o distrito de Al-Kalakla, em Cartum, onde está localizada uma fábrica militar. Outro ponto atingido foi a cidade de Al-Jaili, que abriga a principal refinaria de petróleo do Sudão, conforme relatou o jornal. Apesar da gravidade dos ataques, não há relatos confirmados de vítimas até o momento.
Os bombardeios ocorreram poucos dias após o Exército sudanês intensificar suas operações em Kordofan, no centro do país. O objetivo das forças governamentais seria retomar o controle de áreas estratégicas e romper o cerco imposto pela RSF à cidade de El Fasher, capital do estado de Darfur do Norte.
Desde maio de 2024, El Fasher vem sendo palco de combates intensos e destrutivos, mesmo diante de alertas da comunidade internacional sobre o risco de uma catástrofe humanitária em uma cidade que serve de base logística e médica para toda a região de Darfur.
O conflito entre o Exército do Sudão, liderado pelo general Abdel Fattah al-Burhan, e as Forças de Apoio Rápido, comandadas por Mohamed Hamdan Dagalo (Hemedti), começou em abril de 2023 e já mergulhou o país em uma das piores crises humanitárias do planeta.
De acordo com dados da ONU e de autoridades locais, mais de 20 mil pessoas foram mortas e 15 milhões forçadas a deixar suas casas, fugindo da violência. No entanto, pesquisadores norte-americanos estimam que o número real de mortos possa chegar a 130 mil, considerando as áreas sob cerco e o colapso dos serviços de saúde.
O conflito destruiu infraestruturas críticas, paralisou o comércio, interrompeu serviços básicos e deixou milhões à beira da fome, especialmente nas regiões de Darfur, Kordofan e Cartum. Organizações humanitárias alertam que ataques a instalações elétricas e petrolíferas, como os mais recentes, podem agravar ainda mais a crise, prejudicando hospitais e centros de abrigo que dependem de energia para operar.
Enquanto a comunidade internacional pede um cessar-fogo imediato e o retorno às negociações de paz, a realidade no terreno mostra o oposto: os combates se intensificam, as cidades ficam em ruínas, e a população civil continua pagando o preço mais alto de uma disputa que parece distante de qualquer solução duradoura.
O apagão em Omdurman é mais um símbolo de um país literal e figurativamente às escuras, tentando sobreviver entre drones, bombas e promessas vazias de paz.


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