Bombas em Doha expõem dilemas da aliança EUA-Israel

O bombardeio, considerado unilateral pela Casa Branca, expõe as fragilidades diplomáticas dos Estados Unidos em equilibrar aliados e interesses no Golfo / Reprodução

Trump disse estar “muito mal” com o ocorrido e garantiu ao emir do Catar que ações como essa “não se repetirão” — sinalizando fissuras na aliança com Israel


A Casa Branca classificou como “infeliz” o ataque aéreo realizado por Israel em Doha, capital do Catar, que deixou mortos e feridos na manhã de terça-feira. Segundo a secretária de imprensa Karoline Leavitt, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, manifestou profundo pesar pelo episódio e destacou que o Catar continua sendo “um forte aliado e amigo dos Estados Unidos”.

“O presidente vê o Catar como um forte aliado e amigo dos Estados Unidos e se sente muito mal com o local deste ataque”, declarou Leavitt durante uma entrevista coletiva na Casa Branca. Ela explicou que o governo norte-americano foi informado nas primeiras horas do dia pelo Exército dos EUA sobre a ofensiva israelense contra o Hamas, que, segundo relatórios, estava operando em uma área de Doha.

Leavitt afirmou que Washington lamenta profundamente que um ataque destinado a atingir militantes tenha ocorrido em território de um parceiro estratégico. “Bombardear unilateralmente o Catar, uma nação soberana e aliada próxima dos Estados Unidos que está trabalhando arduamente para assumir corajosamente riscos conosco para negociar a paz, não promove os objetivos de Israel ou dos Estados Unidos”, acrescentou.

Segundo a secretária, o presidente Trump manteve conversas diretas com o emir e o primeiro-ministro do Catar após o incidente. “O presidente também falou com o emir e o primeiro-ministro do Catar… Ele garantiu que tal coisa não acontecerá novamente em seu território”, afirmou Leavitt, ressaltando que a Casa Branca busca evitar uma escalada diplomática entre aliados no Oriente Médio.

O ataque em Doha gerou forte repercussão internacional. O Hamas informou que sua delegação de negociação, presente na capital catariana, sobreviveu à ofensiva israelense. No entanto, seis pessoas morreram, incluindo membros da equipe de escolta do grupo e um oficial de segurança do Catar.

Em um comunicado conjunto divulgado mais cedo, o Exército de Israel e a agência de segurança Shin Bet confirmaram que a Força Aérea israelense havia conduzido “um ataque focado na alta liderança do Hamas no Catar”. A operação, segundo as autoridades israelenses, teria como alvo dirigentes do grupo palestino supostamente envolvidos em ataques recentes contra Israel.

O governo do Catar, por sua vez, não comentou oficialmente o incidente até o fim do dia, mas fontes diplomáticas indicam que o episódio gerou tensão dentro do país, que vem desempenhando um papel ativo nas negociações de paz entre Israel e facções palestinas.

A Casa Branca tenta agora equilibrar uma resposta que demonstre solidariedade ao Catar sem romper a cooperação estratégica com Israel, um de seus principais aliados no Oriente Médio. O tom adotado por Trump e sua equipe indica preocupação em preservar o delicado equilíbrio político da região, especialmente em um momento em que Washington busca manter canais de diálogo abertos com ambas as partes.

A ofensiva em Doha representa um novo ponto de tensão nas já complexas relações entre Israel, Catar e Estados Unidos. O episódio também coloca em xeque os esforços diplomáticos conduzidos por Doha, que há meses atua como mediador em tratativas para reduzir a violência em Gaza e restabelecer um cessar-fogo duradouro.

Enquanto os governos envolvidos buscam esclarecimentos, analistas internacionais afirmam que o incidente pode ter consequências profundas nas relações regionais e no processo de paz. O fato de o ataque ter ocorrido em território de um país aliado dos EUA reacende debates sobre os limites da atuação militar israelense e o papel de Washington na contenção de ações unilaterais que possam comprometer negociações diplomáticas em andamento.

Com informações de Xinhua*

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