A água como direito! Etiópia marca história da África

Energia renovável, empregos e integração regional são os pilares do projeto que transforma água em justiça, dignidade e desenvolvimento / Reprodução

A inauguração histórica reuniu líderes africanos e reafirma a soberania regional, desafiando antigos acordos coloniais e narrativas de escassez


Líderes africanos celebram o projeto enquanto Adis Abeba reforça compromisso com o uso responsável da água, buscando cooperação regional.Nas profundezas do noroeste etíope, onde o Rio Nilo Azul (conhecido localmente como Abay) inicia sua jornada milenar, um gigante de concreto e esperança acaba de despertar. Na última terça-feira, a Etiópia inaugurou oficialmente a Grande Barragem do Renascimento Etíope (GERD), um projeto que é muito mais do que a maior usina hidrelétrica da África; é um audacioso símbolo de soberania, um ato de autodeterminação contra séculos de uma ordem que negava aos africanos o direito sobre seus próprios recursos.

A cerimônia de inauguração, realizada sob o sol forte da região de Benishangul-Gumuz, foi uma celebração de escala continental. Ao lado de altos funcionários etíopes, estavam líderes de todo o continente – os presidentes do Quênia, Djibuti, Sudão do Sul e o presidente da Comissão da União Africana. A presença deles não foi protocolar; foi um endosso pan-africano a um projeto que representa um novo paradigma de desenvolvimento para a África, liderado por africanos.

Desde que a primeira pedra foi lançada em 2011, a GERD tem sido o sonho e o sacrifício de uma nação. Com uma capacidade de geração de 5.150 megawatts e um reservatório projetado para armazenar 74 bilhões de metros cúbicos de água, a barragem é a espinha dorsal do futuro do país. Em seu discurso emocionado, o primeiro-ministro Abiy Ahmed falou não apenas de energia, mas de dignidade. Ele destacou o potencial da barragem para “fortalecer a economia nacional ao fornecer energia estável para a indústria, melhorar os meios de subsistência e promover a integração energética regional”.

“Parabéns a todos os etíopes, tanto em casa quanto no exterior, bem como aos nossos amigos ao redor do mundo, pela inauguração histórica da Grande Barragem do Renascimento Etíope”, declarou Abiy, celebrando o fim de uma jornada de mais de uma década.

Este colosso nasceu em meio a uma longa e complexa disputa geopolítica. Por anos, Egito e Sudão, países a jusante, expressaram o temor de que a barragem pudesse reduzir sua cota de água do Nilo, um medo enraizado em tratados da era colonial que historicamente os beneficiaram. A Etiópia, de onde brota mais de 85% das águas do Nilo, sempre foi marginalizada nessas discussões. A construção da GERD foi, portanto, um ato de soberania hídrica, a afirmação do direito de um país de utilizar o recurso que nasce em seu solo para tirar seu povo da pobreza.

Respondendo a essas tensões, o discurso de Abiy foi de um estadista que busca um novo futuro para a região, baseado na cooperação e não na dominação. “Acreditamos firmemente no avanço coletivo”, afirmou, estendendo a mão aos vizinhos e reafirmando o compromisso da Etiópia de buscar o crescimento “sem prejudicar os interesses de seus vizinhos”.

A mensagem é clara: a era em que o destino dos recursos africanos era decidido em capitais estrangeiras acabou. A GERD não é apenas uma fonte de eletricidade; é uma fonte de inspiração. Ela prova que é possível para uma nação africana sonhar, financiar e construir projetos monumentais que servem ao seu povo e que podem, em última instância, fortalecer todo o continente. O coração elétrico da África começou a bater, e seu ritmo ecoa uma canção de renascimento e esperança.

Com informações de Xinhua*

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