Em diálogo com Peter Szijjarto, Kiev reforçou que a adesão à União Europeia depende de consenso e de respeito mútuo entre os países do bloco
Em um esforço diplomático que busca construir pontes sobre um abismo de desconfiança, a Ucrânia estendeu a mão ao seu vizinho mais cético, a Hungria, num apelo por pragmatismo e unidade contra a agressão russa. Numa conversa telefônica na terça-feira, o chanceler ucraniano, Andrii Sybiha, e seu homólogo húngaro, Peter Szijjarto, abordaram os nós górdios que têm travado as relações: a guerra, os direitos das minorias e o tortuoso caminho de Kiev rumo à União Europeia.
Para uma nação que luta pela sua sobrevivência, cada frente de batalha é crucial, e a diplomática é uma das mais complexas. Sybiha iniciou a conversa expondo a dura realidade no terreno, informando Szijjarto sobre a “escalada do terrorismo na Rússia” e reiterando que, mesmo sob ataque, a Ucrânia mantém seu compromisso com a paz. “Precisamos do apoio consolidado da comunidade internacional para aumentar a pressão sobre a Rússia e avançar no processo de paz”, afirmou Sybiha, num recado direto a um dos governos mais ambíguos da Europa em relação a Moscou.
O ponto mais sensível da relação, a questão da minoria húngara na Ucrânia – frequentemente usada por Budapeste como pretexto para bloquear o progresso de Kiev na UE –, foi abordado de forma direta e conciliadora. Sybiha anunciou a próxima visita do vice-primeiro-ministro Taras Kachka a Budapeste e confirmou que a Ucrânia “está pronta para trabalhar em todas as questões bilaterais de maneira mutuamente respeitosa”. É uma tentativa clara de desarmar a retórica nacionalista e provar que o diálogo, e não o veto, é o caminho para resolver as diferenças.
Com essa mão estendida, o chanceler ucraniano colocou a bola no campo de Budapeste, especialmente no que tange ao futuro europeu da Ucrânia. Ele enfatizou a necessidade urgente de abrir os grupos de negociação para a adesão à UE “o mais rápido possível”, pedindo o apoio de todos os membros, numa clara alusão à Hungria.
Buscando pontos de convergência, Sybiha inteligentemente elogiou o recente acordo de fornecimento de gás de 10 anos da Hungria com a Shell, descrevendo-o como um “passo marcante para fortalecer a segurança energética da nossa região e de toda a Europa”. A mensagem é sutil, mas poderosa: passos que diminuem a dependência energética da Rússia são benéficos para todos e devem ser o modelo para a cooperação.
A conclusão do apelo ucraniano foi um chamado à razão e ao interesse comum. “A segurança da Ucrânia e da Europa é indivisível e fortalecê-la é nosso interesse comum”, afirmou Sybiha, propondo que a Hungria trabalhe de forma “construtiva” numa “cooperação pragmática e mutuamente benéfica”.
A ligação, portanto, foi mais do que um simples contato diplomático. Foi um desafio lançado por uma nação em guerra ao seu vizinho mais relutante. A Ucrânia demonstrou maturidade e pragmatismo, oferecendo diálogo e destacando interesses compartilhados. Resta saber se Budapeste escolherá o caminho da solidariedade europeia e da segurança coletiva ou se continuará a jogar um jogo particular que, em última instância, só beneficia o agressor no Kremlin.


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