Tarifaço de Trump está implodindo a economia americana, especialmente o setor industrial

Donald Trump anunciando as tarifas impostas pelos Estados Unidos à diversos países. Foto: Getty Images

É uma catástrofe. Perda de empregos em massa, desindustrialização acelerada, custos explodindo em setores estratégicos da economia. Não é exagero: a política tarifária de Donald Trump está levando os Estados Unidos a um beco sem saída econômico. O que se apresenta como um plano de “reindustrialização” virou o oposto — um motor de desindustrialização.

Uma reportagem do Financial Times, publicada hoje com destaque na capa, traz dados alarmantes. Os números confirmam o que economistas de diferentes correntes já alertavam: tarifas são uma política suicida, sem base empírica, historicamente fracassada. Em vez de fortalecer a indústria, as tarifas encarecem insumos, reduzem a competitividade e travam investimentos.

Setores mais afetados

Segundo a reportagem, os setores mais expostos ao comércio global — manufatura, atacado e energia — vêm registrando cortes sucessivos de vagas. O mercado de trabalho americano, que já mostrava sinais de enfraquecimento, sofreu um baque com os novos impostos sobre importações.

Em agosto, a economia dos EUA criou apenas 22 mil empregos, praticamente um congelamento da atividade. A indústria manufatureira perdeu 12 mil postos no mês, acumulando 78 mil cortes só em 2025. O setor de mineração, que inclui petróleo e gás, eliminou 6 mil empregos em agosto. O comércio atacadista já reduziu 32 mil vagas desde janeiro.

O caso da John Deere é simbólico. O gigante do setor de máquinas agrícolas revelou que as tarifas custaram US$ 300 milhões só neste ano — um valor que deve dobrar até dezembro. A empresa anunciou demissões em fábricas de Illinois e Iowa e registrou queda de 26% no lucro líquido no terceiro trimestre em relação ao ano passado.

Empresários contra a incerteza

O Financial Times ouviu executivos que relatam paralisação de investimentos e congelamento de contratações. Julie Robbins, presidente da EarthQuaker Devices, fabricante de pedais de guitarra em Ohio, afirmou que sua empresa deveria ter contratado três ou quatro funcionários adicionais para dar conta da demanda. Mas, diante da instabilidade de custos provocada pelas tarifas, a companhia entrou em um congelamento de contratações.

“Essas tarifas são apenas um dreno para fabricantes como o meu. Não há benefício. É um imposto abrupto que impede nossa capacidade de contratar e crescer”, disse Robbins.

Na mesma linha, Traci Tapani, presidente da Wyoming Machine, relatou que a estratégia agora é não substituir funcionários que deixam a empresa. A lógica é simples: em meio à incerteza, cada nova contratação se transforma em risco.

O tiro saiu pela culatra

O aspecto irônico é que os setores mais prejudicados são justamente aqueles que apoiaram Trump com entusiasmo em sua campanha: petróleo, aço, manufatura. Empresas de energia, grandes doadoras para o ex-presidente, estão vendo margens comprimidas por custos mais altos e preços de petróleo em queda.

O FT destacou que pelo menos 4 mil pessoas já deixaram a indústria de petróleo desde janeiro, na taxa mais acelerada de perdas desde a pandemia de 2021. E gigantes como Chevron e ConocoPhillips anunciaram cortes de até 8 mil e 3.250 postos, respectivamente.

Pequenas e médias empresas de petróleo de xisto, que supostamente seriam as grandes vencedoras da agenda trumpista, também estão sendo obrigadas a demitir em massa.

A resposta de Trump

Diante da crise, a retórica da Casa Branca é a de sempre: prometer investimentos vultosos no futuro. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, garantiu que há empresas aumentando investimentos em capital e que um “surto de contratações” virá em breve.

Mas a realidade descrita pelo Financial Times é outra. Nenhum executivo entrevistado relatou expansão de fato. O clima dominante é de espera, cautela e redução de custos. O discurso de trilhões de dólares chegando não encontra respaldo nos dados do mercado de trabalho ou nos balanços das empresas.

O veredito

Os números não deixam dúvidas: o tarifaço de Trump está implodindo a economia americana. O setor industrial, em vez de ser salvo, está sendo sacrificado. O custo do aço encarece carros, tratores, oleodutos e até pedais de guitarra. As empresas estão paralisando contratações, cortando postos e, em alguns casos, reduzindo drasticamente operações.

Não é um alerta vindo de sindicatos, de críticos democratas ou de economistas heterodoxos. É a leitura publicada pelo Financial Times, um dos jornais mais respeitados do mundo dos negócios, pró-mercado, que dá voz aos empresários americanos.

As tarifas, vendidas como caminho para a prosperidade, se revelam um veneno para a economia dos EUA. O resultado é um país menos competitivo, com menos empregos e um setor produtivo sufocado. A desindustrialização avança justamente no governo que prometia revertê-la.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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