Mais um crime pra direita bolsonarista carregar: apoiadora de genocidas

Omar al-Qattaa/AFP

Além de condenada por golpismo, a extrema direita brasileira agora terá de lidar com a acusação de ter sido aliada de um regime que promoveu genocídio de crianças.

Desde o início dos massacres promovidos por Israel na Faixa de Gaza, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva denunciou o genocídio contra o povo palestino. Foi duramente criticado pela mídia e por analistas políticos, que diziam que sua posição acabaria prejudicando o governo e isolando o Brasil diplomaticamente. O que ocorreu foi exatamente o contrário. Hoje, o que Lula afirmava é confirmado pela maioria das lideranças políticas do planeta e, agora, de forma categórica, pela Organização das Nações Unidas em um relatório recente.

Enquanto isso, a extrema direita brasileira adotava Israel como bandeira. No 7 de setembro de 2022, as manifestações bolsonaristas exibiram uma gigantesca bandeira dos Estados Unidos e incontáveis bandeiras israelenses, inclusive no carro de som. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, posou abraçado com bandeiras de Israel em atos públicos. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, chegou a declarar dias atrás que “não houve genocídio em Gaza”. Do outro lado, nos EUA, o senador Marco Rubio voltou recentemente de Israel sem mencionar o drama humanitário, falando apenas dos interesses estratégicos de Tel Aviv. Defender Israel virou prioridade da extrema direita brasileira e americana.

No entanto, em contraste com Washington, lideranças políticas ao redor do mundo superaram o temor do lobby sionista e americano e passaram a expressar com mais força seu repúdio às atrocidades em Gaza. Na Assembleia-Geral da ONU, as votações pela criação do Estado Palestino têm recebido apoio em massa. O BRICS, em especial, assumiu posição clara em defesa da Palestina, não apenas por princípio, mas porque entende que o que Israel faz em Gaza, com financiamento dos EUA, é o mesmo modelo que Washington sonha aplicar contra o Sul Global. Transformar a Venezuela em Gaza. Transformar Cuba em Gaza. Transformar a China em Gaza. Transformar o Brasil em Gaza.

É nesse contexto que chega o relatório da ONU. A Comissão de Inquérito Independente Internacional sobre o Território Palestino Ocupado decretou de forma categórica: Israel está cometendo genocídio. Não é ONG, não é ativista, não é retórica: é a autoridade máxima do direito internacional afirmando que Israel praticou, de forma sistemática e intencional, quatro categorias de atos genocidas.

Extermínio sistemático

Até julho de 2025, mais de 60 mil palestinos foram mortos, incluindo 18 mil crianças. A expectativa de vida em Gaza caiu de 75 para 40 anos em apenas um ano. Israel despeja bombas de alto impacto sobre bairros inteiros, usando munições não guiadas em áreas densamente povoadas. Como resumiu um especialista militar: “em uma semana, Israel lança sobre Gaza o que os Estados Unidos lançavam no Afeganistão em um ano”.

O relatório da ONU afirma que 83% das vítimas eram civis. Crianças foram mortas mesmo quando exibiam bandeiras brancas. Casos como o de Layan Hamada e Hind Rajab, executadas dentro de um carro, demonstram o caráter deliberado da violência. Até a busca por comida tornou-se sentença de morte: mais de mil palestinos foram alvejados quando tentavam se aproximar de pontos de distribuição de ajuda.

Tortura e violência sexual

Mais de 146 mil feridos até julho de 2025. Mais de 4.500 amputações, muitas sem anestesia. Detenções em massa, espancamentos, torturas. Crianças atacadas por cães, homens e mulheres vítimas de estupro, choques elétricos e humilhações públicas. A ONU registra a violência sexual como “generalizada e sistemática”. O trauma coletivo é tão profundo que mais de um milhão de crianças precisam de atendimento psicológico — e muitas dizem preferir morrer.

Condições planejadas para destruir

O bloqueio total imposto desde outubro de 2023 cortou água, comida, combustível e eletricidade. Gallant chamou os palestinos de “animais humanos” e prometeu “eliminar tudo”. Documentos israelenses de 2008 já calculavam as calorias permitidas em Gaza para manter a população à beira da fome. Hoje, a fome é política oficial.

Mais da metade das escolas e hospitais foi destruída. Mais de 650 mil crianças estão sem aulas. Médicos relatam amputações de crianças sem anestesia e mortes de pacientes de câncer por falta de tratamento. Tudo isso em desobediência direta às ordens da Corte Internacional de Justiça.

Ataques à reprodução palestina

Em dezembro de 2023, Israel destruiu a principal clínica de fertilização in vitro de Gaza. Quatro mil embriões e mil amostras de material reprodutivo foram eliminados. Para a Comissão da ONU, tratou-se de um ato deliberado para impedir nascimentos palestinos. A saúde materna colapsou, e o número de abortos espontâneos e partos inseguros explodiu. É extermínio biológico.

Incitação oficial ao genocídio

As palavras dos líderes israelenses são provas contra eles. Netanyahu citou Amaleque, passagem bíblica que ordena o extermínio total. Herzog disse que “uma nação inteira é responsável”, negando a existência de civis inocentes. Gallant repetiu: “animais humanos” a serem eliminados. Não são excessos de linguagem, mas ordens claras de extermínio.

Israel no banco dos réus — e a direita no Brasil

A ONU conclui: Israel, como Estado, é responsável pelo crime de genocídio. A recomendação é de cessar-fogo imediato, entrada irrestrita de ajuda humanitária e cooperação com as investigações internacionais. Aos demais países, cabe cumprir sua obrigação legal: impedir o genocídio. Isso significa suspender envio de armas e romper cumplicidades.

A comunidade internacional não pode alegar ignorância. O genocídio está registrado, tipificado, documentado. E no Brasil, o peso dessa verdade recai diretamente sobre a direita que adotou Israel como bandeira. Bolsonaro já arrasta a pecha de golpista condenado. Agora, seus aliados terão de carregar também o fardo de terem se alinhado a um Estado que a ONU declara oficialmente genocida. A cada bomba lançada sobre Gaza, cresce o tamanho da derrota moral e política que a extrema direita brasileira terá de explicar à História.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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