Há 66 milhões de anos, um asteroide com mais de dez quilômetros de diâmetro atingiu a Terra, pôs fim à era dos dinossauros e reescreveu a evolução da vida. Já em 2013, um asteroide muito menor, com apenas 20 metros de largura, explodiu sobre a cidade de Chelyabinsk, na Rússia, e mesmo assim deixou mais de 1.600 pessoas feridas. Esses “visitantes indesejados” vindos do espaço, independentemente do tamanho, continuam sendo uma ameaça constante para a civilização humana.
Recentemente, na Terceira Conferência Internacional sobre Exploração do Espaço Profundo (Tiandu), o acadêmico Wu Weiren, designer-chefe do programa de exploração lunar da China, apresentou à comunidade internacional o programa chinês de exploração e defesa contra asteroides. Ele revelou que a China vai realizar uma missão de demonstração de impacto cinético, testando em larga escala a capacidade de “detectar, impactar e avaliar” um asteroide potencialmente perigoso. A notícia repercutiu rapidamente entre especialistas e levantou a pergunta: estamos entrando na era da defesa proativa da Terra?
Os avanços da China não surgiram de forma repentina, mas fazem parte de um planejamento estratégico. Já em 2022, o livro branco Programa Espacial da China em 2021 propunha a criação de um sistema de defesa contra pequenos corpos próximos da Terra, com o objetivo de fortalecer gradualmente a capacidade de monitoramento, alerta antecipado e resposta emergencial. A meta inicial era realizar um impacto até 2030, mas o prazo foi antecipado para 2025, com a adoção de uma arquitetura inovadora de “sobrevoo, impacto e novo sobrevoo”. A China avança de forma constante em uma missão espacial que tem relevância global para a segurança da humanidade.
O conceito da missão chama a atenção: primeiro, a sonda fará um sobrevoo para observar o asteroide e analisar sua órbita e características físicas; em seguida, lançará um veículo para provocar uma mudança em sua trajetória por meio de um impacto cinético em alta velocidade; por fim, retornará para avaliar a eficácia da operação. Esse processo não é apenas uma demonstração de tecnologia, mas também gera dados cruciais para futuras respostas a ameaças espaciais. A iniciativa reflete tanto a urgência do problema quanto o fortalecimento da capacidade chinesa em exploração do espaço profundo.
Um sistema de defesa contra asteroides depende de um forte aparato de monitoramento e alerta. A China está estruturando uma rede de observação espacial e terrestre, combinando telescópios de grande abertura e equipamentos espaciais, além de uma plataforma de alerta antecipado com análise em tempo real. Em setembro deste ano, o Observatório da Montanha Púrpura da Academia Chinesa de Ciências conseguiu rastrear com precisão e prever a entrada na atmosfera do asteroide 2024 RW1, sinal de que o país atingiu um nível internacionalmente avançado em monitoramento e resposta rápida.
Outro ponto importante é a visão da China de que a defesa contra asteroides deve ser tratada como um bem público global, dentro da ideia de uma “comunidade com futuro compartilhado para a humanidade”. Desde 2018, o país participa da Rede Internacional de Alerta de Asteroides (IAWN), da ONU, e colabora ativamente em monitoramento internacional. Diferente de países que veem o espaço como campo de competição militar, a China aposta na cooperação. Exemplo disso é a sonda Tianwen-2, prevista para ser lançada em 2025, que leva cargas científicas de diversos países e compartilhará dados de suas missões de coleta de amostras.
De forma simbólica, a China também criou uma “janela internacional de observação conjunta” para a missão de impacto, convidando instituições estrangeiras a participar da avaliação com seus próprios equipamentos. O local de impacto foi escolhido a cerca de 10 milhões de quilômetros da Terra, justamente para eliminar qualquer risco de detritos. Esses cuidados reforçam a postura responsável da China em governança espacial. Como destacou Wu Weiren: “A partilha global de dados e o entendimento conjunto permitirão alcançar um conhecimento mais preciso — um benefício para toda a humanidade”.
À medida que a presença humana avança no espaço profundo, lidar com ameaças extraterrestres deixou de ser ficção científica para se tornar um desafio prático. Como potência espacial em ascensão, a China está transformando sua capacidade tecnológica em um bem público que protege a Terra. Esse é um passo que vai além de um programa nacional: é uma contribuição essencial para que a humanidade enfrente desafios de forma conjunta e preserve sua civilização. No vasto universo, a Terra é nossa única casa — e a defesa desse lar não pode ser dividida por fronteiras nacionais.