O representante chinês Li Chenggang destacou que o diálogo com Washington foi “franco e construtivo”, mas sem concessões que comprometam a soberania
Ao final de dois dias de intensas negociações na capital espanhola, a China enviou um recado direto e firme a Washington: a era da submissão acabou. Em uma declaração que ecoa a crescente assertividade de Pequim no cenário global, o representante comercial internacional da China, Li Chenggang, afirmou que o país “nunca buscará nenhum acordo comercial com os EUA às custas de seus princípios, dos interesses das empresas ou da justiça e equidade internacionais”.
A mensagem, entregue após conversas descritas como “francas, profundas e construtivas”, estabelece uma linha vermelha clara para o governo americano. Embora ambos os lados reconheçam que uma relação econômica estável é de “grande importância” para o mundo, a China deixa claro que essa estabilidade não será comprada com a rendição de sua soberania ou de seus valores.
O caso do TikTok, a ponta de lança da guerra tecnológica travada por Washington, foi um tema central. Li Chenggang reiterou a posição de Pequim, que sempre se “opôs à politização, instrumentalização e militarização da tecnologia e de questões econômicas e comerciais”. A perseguição ao aplicativo é vista não como uma questão de segurança, mas como uma tentativa de sufocar a concorrência e manter a hegemonia digital.
Apesar de um “consenso” ter sido alcançado sobre a questão, um que “está de acordo com os interesses de ambos os lados”, a China impôs uma condição fundamental que reafirma seu controle. Li acrescentou que o governo chinês “protegerá firmemente os interesses nacionais, os direitos e interesses legítimos das empresas chinesas e realizará a aprovação da exportação de tecnologia de acordo com as leis e regulamentos relevantes”. Em outras palavras, qualquer solução para o TikTok passará pelo crivo de Pequim, não será uma imposição de Washington.
A ofensiva diplomática chinesa não parou por aí. O vice-primeiro-ministro, He Lifeng, foi ainda mais direto, exigindo que os EUA “suspendessem as restrições relevantes à China o mais rápido possível”. Essa é uma referência direta à rede de sanções e barreiras comerciais que os Estados Unidos vêm impondo a empresas e setores tecnológicos chineses.
He Lifeng pediu que o lado americano tome “ações concretas” para criar uma “atmosfera favorável” para a continuidade do diálogo. A mensagem implícita é que a responsabilidade pela deterioração das relações recai sobre os ombros de Washington e suas políticas agressivas. Não se pode, afinal, pedir cooperação enquanto se mantém uma política de cerco econômico.
As negociações em Madri, portanto, representam um novo capítulo nas relações sino-americanas. A China se posiciona não mais como uma parte reativa, mas como um ator que dita seus próprios termos. A busca por um acordo continua, mas agora sob uma nova premissa: o respeito mútuo e o fim da intimidação unilateral. A bola, como deixou claro a delegação chinesa, está agora no campo americano.
Com informações de Agência Anadolu*