Judiciário brasileiro no centro da disputa com EUA

Washington justifica a medida como reação a decisões judiciais brasileiras, enquanto Brasília defende a independência do seu sistema legal / Reprodução

A revogação de vistos atinge procuradores e juízes, intensificando a tensão bilateral e levantando debates sobre interferência e soberania


O governo dos Estados Unidos decidiu revogar os vistos de viagem do procurador-geral do Brasil, Jorge Messias, e de cinco outros atuais e ex-integrantes do judiciário brasileiro, anunciou nesta segunda-feira um alto funcionário da administração Trump à Reuters. A medida marca uma escalada inédita nas tensões entre os dois países, que se intensificaram nas últimas semanas após a condenação criminal do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Segundo aliados do presidente Donald Trump, a decisão judicial que resultou na condenação de Bolsonaro seria fruto de uma “caça às bruxas política”, e o judiciário brasileiro estaria agindo para censurar vozes conservadoras. Do lado brasileiro, as autoridades rejeitaram veementemente essas acusações, argumentando que há evidências consistentes de que Bolsonaro tentou reverter sua derrota nas eleições de 2022 para o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Além de Jorge Messias, terão seus vistos revogados o ex-procurador-geral José Levi, o ex-juiz eleitoral Benedito Gonçalves, o juiz auxiliar e assessor do Supremo Tribunal Federal (STF) Airton Vieira, o ex-assessor eleitoral Marco Antonio Martin Vargas e Rafael Henrique Janela Tamai Rocha, outro assessor judicial de alto escalão. Muitos desses nomes estão ou estiveram ligados ao ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo julgamento que resultou na condenação de Bolsonaro e que se tornou alvo direto da ira do governo Trump.

Leia também:
A ‘PEC da Blindagem’ e o golpe parlamentar contra a democracia
O que a PEC da Blindagem esconde e ninguém contou
Trump quer causar constrangimento ao Brasil na ONU

Não foi possível obter comentários imediatos de todos os envolvidos, mas a revogação sinaliza uma linha de confronto aberta entre Washington e Brasília. A tensão tem se intensificado desde julho, quando Moraes já havia sido alvo de sanções americanas, com seu visto revogado pelo governo Trump. Na ocasião, outros ministros do STF e até a esposa de Moraes também sofreram sanções pelo Tesouro dos EUA.

Analistas políticos apontam que a medida americana é simbólica, mas de forte impacto diplomático. Trata-se de um gesto claro de pressão sobre o judiciário brasileiro, em um momento em que o país enfrenta desafios internos e o debate sobre sua estabilidade democrática está sob os holofotes internacionais. Por outro lado, críticos americanos alertam que a escalada de retaliações pode complicar relações comerciais, políticas e de segurança entre Brasil e Estados Unidos.

Enquanto isso, o cenário político brasileiro permanece tenso. A revogação de vistos chega num contexto delicado, em que a Justiça brasileira é acusada por autoridades externas de parcialidade, mas reforça seu papel no processo eleitoral e judicial do país. A medida americana, portanto, adiciona mais uma camada de complexidade a um relacionamento bilateral já marcado por disputas ideológicas, políticas e diplomáticas.

Com informações de Reuters*

Redação:
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.