Haddad chama tarifas dos EUA de “ingerência descabida” e diz que Brasil já consegue contornar seus efeitos

Foto: Diogo Zacarias/MF

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a criticar duramente, nesta terça-feira (23), a decisão dos Estados Unidos de aplicar tarifas sobre commodities brasileiras, como café, carne e suco de laranja. Em entrevista, o ministro classificou a medida como uma “ingerência descabida” e afirmou que a taxação é um verdadeiro “tiro no pé” do governo americano, já que o efeito direto recai sobre os consumidores locais.

Segundo ele, “tarifar commodity não faz sentido, porque isso encarece o café da manhã, o almoço e o jantar dos americanos”. Haddad destacou ainda que, apesar da dimensão política e diplomática do episódio, o Brasil não enfrenta dificuldades para reposicionar sua pauta de exportações, já que boa parte dos embarques afetados foi redirecionada a outros mercados.

De acordo com o ministro, cerca de dois terços das exportações brasileiras com destino aos Estados Unidos não foram atingidos pelas tarifas, e mais da metade dos produtos impactados já encontraram compradores alternativos em outros países. Por isso, ele avalia que os efeitos sobre a economia serão sentidos em áreas específicas, mas não terão consequências estruturais. “Não tem impacto macro, mas no micro vamos sentir”, disse, reforçando que a diversificação de parceiros comerciais protege o país contra oscilações externas.

Haddad também aproveitou para elogiar a postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva diante do episódio, afirmando que o governo tem mantido uma resposta diplomática firme, mas sem recorrer a “bravatas” que poderiam acirrar tensões.

Para o ministro, a estratégia adotada pelo Planalto é a mais adequada para enfrentar barreiras impostas por Washington, ainda que haja obstruções nos canais de diálogo. Ele acrescentou que, ao mesmo tempo em que reage às tarifas, o Brasil precisa olhar para dentro e acelerar reformas estruturais, como a tributária, a fim de fortalecer a economia e reduzir desigualdades.

Embora Haddad busque minimizar o impacto das medidas, especialistas alertam que a realocação de exportações não resolve todos os problemas. O processo de encontrar novos mercados implica custos adicionais de logística e negociação, e nem sempre há parceiros com o mesmo nível de demanda que os Estados Unidos.

Ainda assim, o governo insiste em mostrar resiliência e aposta no fortalecimento da soberania nacional em meio às pressões externas. Para o ministro, a mensagem é clara: as barreiras americanas podem até gerar obstáculos, mas não serão suficientes para comprometer a estabilidade da economia brasileira.

Lucas Allabi: Jornalista em formação pela PUC-SP e apaixonado pelo Sul Global. Escreve principalmente sobre política e economia. Instagram: @lu.allab
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