Erdogan pressiona EUA para fabricar caças F-35 localmente

Erdogan oferece compra de aeronaves e contratos de US$ 10 bilhões para reintegrar empresas turcas ao programa F-35 / AP

A Turquia tenta contornar sanções e recuperar papel estratégico na produção de componentes críticos de jatos americanos


O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, está intensificando negociações com os Estados Unidos para obter autorização para produzir localmente componentes críticos de jatos fabricados por Boeing e Lockheed Martin, em um movimento que pode remodelar o papel da Turquia na indústria de defesa norte-americana e abrir caminho para sua reintegração no programa F-35. A informação foi divulgada pela Bloomberg em 23 de setembro.

Segundo pessoas próximas às negociações, Erdogan pretende vincular o pedido à compra de centenas de aeronaves dos EUA, oferecendo em troca contratos de fabricação local avaliados em mais de US$ 10 bilhões. O objetivo é que esses acordos compensem os pagamentos multibilionários pelas novas aeronaves, estimulando a indústria de defesa turca e gerando empregos locais.

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A proposta deve ser apresentada diretamente pelo presidente turco durante a reunião na Casa Branca marcada para quinta-feira, que incluirá discussões sobre a compra de aviões Boeing e caças Lockheed Martin. Ancara espera que este encontro sirva para aliviar anos de tensões diplomáticas, originadas pela aquisição turca do sistema de defesa antimísseis russo S-400.

A compra dos S-400 levou os EUA a aplicar sanções sob a Lei de Combate aos Adversários da América por meio de Sanções (CAATSA) e, em 2019, resultou na exclusão da Turquia do programa F-35. A decisão custou bilhões à indústria local, já que diversas empresas turcas haviam sido contratadas para produzir partes do caça, incluindo a fuselagem central fabricada pela Turkish Aerospace Industries (TAI).

Fontes informam que, embora a Turquia não tenha desistido dos S-400, o governo de Trump poderia flexibilizar as sanções para permitir a compra de 40 caças F-35A e reabrir contratos para 10 empresas turcas envolvidas na produção de peças para os jatos, que somariam cerca de US$ 12 bilhões. Além disso, empresas turcas de tecnologia poderiam continuar fornecendo software crítico, enquanto outras poderiam contornar restrições químicas impostas pela União Europeia, que dificultam a fabricação de certos componentes.

Especialistas em defesa afirmam que a iniciativa de Erdogan representa um esforço estratégico para reintegrar a Turquia à cadeia global de produção de armas avançadas, fortalecendo sua indústria local e restaurando laços com Washington em um setor altamente sensível. Ao mesmo tempo, o movimento sinaliza a disposição de Ancara de negociar sua posição geopolítica, equilibrando a cooperação com os EUA e a manutenção de sistemas militares russos estratégicos no país.

Se aprovado, o acordo pode não apenas revitalizar contratos industriais perdidos, mas também abrir um caminho de volta para o programa F-35, reestabelecendo a Turquia como parceira-chave na produção de componentes essenciais para os caças de última geração norte-americanos, fortalecendo sua presença no mercado internacional de defesa.

Além da produção local de peças, Erdogan busca consolidar a compra de 40 novas aeronaves F-16 Viper, acompanhadas de bombas, mísseis e motores reservas, em um movimento estratégico para modernizar a força aérea turca. Fontes próximas às negociações explicaram que planos anteriores de adquirir 79 kits de atualização dentro de um acordo de US$ 23 bilhões foram substituídos pela nova ofensiva de Ancara em relação aos F-35A.

A Turquia já mantém uma frota de aproximadamente 240 caças F-16, a segunda maior do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. A aquisição das aeronaves adicionais permitirá a aposentadoria gradual de modelos mais antigos, como os F-4, até que o programa doméstico Kaan esteja totalmente operacional, fortalecendo a capacidade autônoma de defesa do país.

Segundo autoridades turcas e americanas envolvidas nas negociações, Ancara também solicitou autorização para adquirir e montar os motores GE Aerospace F110 e F404, que equipam não apenas os caças norte-americanos, mas também os projetos domésticos turcos Kaan e Hurjet. A aprovação desse pedido poderia acelerar a produção de motores nos EUA, justamente em um momento de alta demanda global por componentes aeroespaciais. Até o momento, Washington não se pronunciou oficialmente sobre a questão.

Em entrevista à Fox News, Erdogan reforçou a posição da Turquia como parceira do projeto F-35, lembrando que Ancara já desembolsou US$ 1,4 bilhão e que algumas aeronaves estavam prestes a ser entregues antes da interrupção abrupta do processo. “Já pagamos US$ 1,4 bilhão, e algumas das aeronaves estavam prestes a ser entregues, mas, no último minuto, o processo foi interrompido”, afirmou o presidente turco.

Erdogan também destacou que o fortalecimento dos laços econômicos e de defesa entre Turquia e Estados Unidos terá impactos positivos significativos, não apenas para a modernização militar de Ancara, mas também para a integração da indústria de defesa turca na cadeia global de fornecimento de componentes estratégicos.

Analistas internacionais veem a investida de Erdogan como uma tentativa de reconciliar interesses geopolíticos e econômicos complexos, equilibrando a cooperação com os EUA e a manutenção de programas de defesa domésticos. A aprovação da produção de peças e a compra de novas aeronaves F-16 e F-35 poderiam marcar um novo capítulo na parceria estratégica entre Washington e Ancara, abrindo caminho para mais décadas de colaboração militar e industrial.

Com informações de The Cradle*

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