Presidente sírio afirma que Damasco teme Israel e enfatiza que não deseja hostilidades, destacando riscos e desafios para a região
O autoproclamado presidente sírio, Ahmad al-Sharaa, declarou nesta segunda-feira, 23 de setembro, que Damasco está “com medo de Israel”, sinalizando que seu país não representa ameaça à segurança de Tel Aviv. As afirmações foram feitas durante um evento do Middle East Institute, em Nova York, coincidentemente durante a Assembleia Geral da ONU, da qual Sharaa participa.
“Não somos nós que estamos criando problemas para Israel. Nós temos medo de Israel, não o contrário”, disse Sharaa, ex-chefe da Al-Qaeda, em uma fala que surpreendeu analistas da região.
O presidente sírio também apontou os riscos enfrentados por Damasco em função das ações de Israel, incluindo a protelamento de negociações, violações do espaço aéreo sírio e incursões em seu território.
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“Há vários riscos com Israel protelando as negociações e insistindo em violar nosso espaço aéreo e incursões em nosso território”, acrescentou Sharaa.
Sharaa também aproveitou o evento para descartar qualquer conversa sobre divisão territorial e reiterou o apoio de Damasco aos direitos da minoria drusa no país.
“A Jordânia está sob pressão, e qualquer conversa sobre a divisão da Síria prejudicará o Iraque e a Turquia. Isso nos levará de volta à estaca zero”, afirmou.
Acordo sírio-israelense está quase finalizado
Paralelamente às declarações de Sharaa, o enviado especial dos EUA para a Síria, Tom Barrack, afirmou durante a Assembleia Geral que o acordo de segurança sírio-israelense, negociado nos últimos meses, está praticamente concluído.
“Acho que todos estão abordando isso de boa fé”, disse Barrack, sinalizando otimismo em relação à finalização das negociações.
Segundo informações divulgadas pelo Times of Israel, o acordo prevê que Israel interrompa seus ataques à Síria, enquanto Damasco concordaria em não movimentar máquinas ou equipamentos militares próximos à fronteira. Um funcionário dos EUA citado pelo jornal afirmou que o pacto está “99% completo”.
Sharaa, no entanto, minimizou anteriormente as negociações, caracterizando o processo como um acordo de segurança, e não como um acordo de paz. A ênfase, segundo ele, é garantir estabilidade e reduzir tensões na região, sem formalizar compromissos diplomáticos mais amplos.
O pronunciamento de Sharaa ocorre em um momento delicado no Oriente Médio, em que a segurança das fronteiras e o equilíbrio de poder entre Síria e Israel são observados de perto por potências internacionais. Analistas afirmam que, caso o acordo seja finalizado, ele poderá representar um passo importante para a redução de incidentes militares, mas não encerra completamente as tensões históricas entre os dois países.
“É uma medida pragmática de segurança, não um tratado de paz definitivo”, ressaltam especialistas em política do Oriente Médio.
O clima de cautela de Damasco, expresso pelo próprio Sharaa, evidencia que a Síria se mantém vigilante, mesmo enquanto negocia medidas para reduzir a violência na fronteira, mostrando um delicado equilíbrio entre medo, diplomacia e estratégia militar.
Síria pode fechar pacto de segurança com Israel nos próximos dias
O presidente interino sírio, Ahmad al-Sharaa, afirmou em 17 de setembro que as negociações com Israel podem resultar em um pacto de segurança em breve, nos próximos dias. Informações indicam ainda que Sharaa poderia se encontrar pessoalmente com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, durante a sessão da Assembleia Geral da ONU em Nova York.
Israel, por sua vez, tem realizado ataques aéreos repetidos contra a Síria desde a queda do governo anterior no ano passado. A presença militar israelense no sul do país tem se consolidado, criando uma espécie de cerco à capital, Damasco. Durante os confrontos de julho entre forças do governo sírio e combatentes drusos, Israel atacou o palácio presidencial, o Ministério da Defesa e outros locais ligados a Damasco, justificando as ações como apoio à minoria drusa.
O conflito interno, no entanto, resultou em massacres de milhares de civis drusos pelas forças de Sharaa naquele mês, aumentando a tensão na região.
Apesar da retórica firme de Israel, Sharaa e autoridades sírias têm enfatizado que não buscam confronto direto com Tel Aviv. Ao mesmo tempo, Damasco vem reprimindo facções da resistência palestina, que durante anos receberam refúgio sob o governo do ex-presidente Bashar al-Assad.
Em um gesto de aproximação diplomática, o Ministro das Relações Exteriores da Síria, Asaad al-Shaibani, se reuniu em 20 de agosto em Paris com o Ministro de Assuntos Estratégicos de Israel, Ron Dermer. Segundo o jornal Haaretz, o encontro teve como objetivo principal impedir a instalação do Hezbollah ou do Irã no sul da Síria, sinalizando uma tentativa de reduzir a presença de atores externos que poderiam desestabilizar ainda mais a região.
Histórico de Sharaa e a complexidade do conflito
O contexto por trás das negociações é marcado pelo passado de Sharaa. Ele foi vice-líder do ISIS, liderado por Abu Bakr al-Baghdadi, antes de assumir o comando do braço oficial da Al-Qaeda na Síria, conhecido como Frente Nusra. Posteriormente, a Frente Nusra foi renomeada para Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que assumiu o controle de parte significativa do território sírio em dezembro de 2024.
Registros históricos mostram que houve coordenação confirmada entre Israel e a Frente Nusra nos primeiros anos da guerra na Síria, apoiada pelos Estados Unidos desde 2011, o que adiciona complexidade às negociações atuais. A trajetória de Sharaa, que transita entre grupos extremistas e o governo interino, evidencia os desafios de construir um acordo de segurança confiável com Tel Aviv, considerando a multiplicidade de atores e interesses na região.
O possível pacto sírio-israelense surge, portanto, em um momento delicado, em que a Síria busca estabilidade interna e Israel tenta reduzir ameaças à sua segurança, enquanto ambos os lados tentam equilibrar pressões regionais e internacionais. Especialistas alertam que, embora o acordo seja majoritariamente de segurança, seu êxito dependerá do cumprimento rigoroso de compromissos e da manutenção de canais diplomáticos abertos entre Damasco e Tel Aviv.
Com informações de The Cradle*