O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou, em entrevista coletiva concedida ao final de sua agenda oficial na ONU, nesta quarta-feira (24/9), que está disposto a retomar o diálogo com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A notícia foi publicada pela Agência Gov. Lula destacou que uma eventual aproximação atende à vontade de ambos os povos e que o relacionamento bilateral deve ser pautado pelo princípio do “ganha-ganha”.
Segundo o presidente brasileiro, não há restrições para a conversa entre os dois países, exceto em relação a temas fundamentais: “Quando tiver eleição nos Estados Unidos, eu não me meto. E quando tiver eleição no Brasil, ele não se mete”. Lula frisou que democracia e soberania não estão em negociação.
A lógica do “ganha-ganha”
Lula defendeu que o diálogo entre Brasil e Estados Unidos traga benefícios concretos às duas nações.
“No caso do Brasil, a gente não tem que perder, a gente tem que ganhar e também os outros têm que ganhar, porque tem que ser um acordo de ganha-ganha. Essa é a minha disposição e eu espero que seja a disposição dos Estados Unidos também, porque será bom, será bom para a nossa economia, para a nossa indústria, para o nosso comércio, para a nossa agricultura e para a relação das duas democracias mais importantes da América”, afirmou.
Questionado sobre a possibilidade de discutir terras raras e minerais críticos, Lula ressaltou que o Brasil não pode repetir erros do passado:
“O que a gente não quer é permitir que aconteça como aconteceu até agora com os minérios: a gente é só exportador, só exportador, só exportador e não faz o processo de industrialização dentro do Brasil”.
O encontro inesperado e a “química”
Lula revelou ter sido surpreendido pelo encontro com Trump nos bastidores da Assembleia Geral da ONU, após seu discurso de abertura. O presidente norte-americano, que falou em seguida, afirmou que havia surgido uma “química” entre os dois. Lula respondeu com bom humor:
“Eu fui surpreendido, porque eu já estive ali outras vezes e não encontrei sempre com o presidente [dos Estados Unidos]… E eu acho que pintou uma química mesmo, eu acho”.
Antes das perguntas dos jornalistas, Lula fez uma breve exposição sobre sua agenda na ONU e voltou a defender que os países concentrem esforços na luta contra a fome e a pobreza.
“Se todos os governantes do mundo colocarem o pobre dentro do orçamento, a gente acaba com a pobreza muito rapidamente”, disse, lembrando que, segundo a FAO, mais de 670 milhões de pessoas passam fome.
Ele também criticou os gastos militares excessivos:
“Quando você vê as pessoas gastarem trilhões em armas, trilhões em guerras, a gente não tem explicação do comportamento dos humanos em tratar a própria espécie humana”.
Relações comerciais e expectativas
Lula sublinhou que a qualidade das informações é essencial para que Trump compreenda a realidade do comércio bilateral:
“Eu não sei quem foi que disse para o presidente Trump que ele tinha um déficit comercial com o Brasil. Ele teve um superávit em 15 anos de 410 bilhões de dólares”.
Balança comercial Brasil x EUA
PeríodoExportações do BrasilVariaçãoImportações dos EUAVariaçãoJan-Ago 2024US$ 26,2 bilhões—US$ 26,9 bilhões—Jan-Ago 2025US$ 26,6 bilhões+1,66%US$ 30 bilhões+11,44%Superávit EUA (2024)——~US$ 30 bilhões—Superávit EUA (15 anos)——US$ 410 bilhões—
O presidente concluiu a coletiva enfatizando a importância de um diálogo franco:
“Estou muito otimista, porque eu acredito muito na relação humana. Acho que tudo pode ser resolvido quando duas pessoas conversam. Eu acredito muito no poder de convencimento das palavras”.