Sequestro de crianças vira nova frente americana contra Moscou

Lindsey Graham defende que a tragédia infantil tem maior poder de unir americanos contra Vladimir Putin / Reprodução

O Senado prepara novo pacote de sanções enquanto cresce a pressão para que Trump apoie Kiev em meio à guerra


Senadores republicanos estão intensificando os apelos ao presidente Donald Trump para que adote uma postura mais rígida contra a Rússia, utilizando um argumento que vai além das discussões sobre petróleo, gás e território: o sequestro de milhares de crianças ucranianas durante a guerra.

“Falamos muito sobre petróleo, gás e terras. Precisamos falar mais sobre as crianças”, afirmou o senador Lindsey Graham, um dos aliados mais próximos de Trump, em entrevista à NBC News. Para ele, essa abordagem tem maior potencial de unir americanos de diferentes espectros políticos contra o governo de Vladimir Putin. “É uma nova frente contra a máquina de guerra de Putin que tem a maior esperança de galvanizar o país, seja você republicano, democrata ou independente. Tirar crianças de suas famílias e reeducá-las não é americano”, disse.

O tema ganhou ainda mais força desde agosto, quando Trump recebeu Putin no Alasca e entregou pessoalmente uma carta da primeira-dama, Melania Trump, apelando para que o presidente russo encerrasse a guerra na Ucrânia e protegesse as crianças afetadas pelo conflito. Agora, parlamentares republicanos apostam que a ênfase nesse drama humano pode convencer não apenas o presidente, mas também sua base política, de que os Estados Unidos precisam manter apoio consistente a Kiev.

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Segundo estimativas, quase 20 mil crianças ucranianas foram sequestradas desde o início da invasão russa em larga escala. O destino delas varia entre adoção forçada, transferências ilegais para território russo e processos de “reeducação” em instituições estatais. Para os senadores, esse é um dos crimes mais graves cometidos por Moscou e deve servir como argumento central para endurecer as sanções contra a economia russa, especialmente nos setores de petróleo e gás.

Nos últimos seis meses, Graham e outros republicanos vêm pressionando pelo avanço de novas sanções. O senador da Carolina do Sul apresentou ainda neste ano, com apoio bipartidário, um projeto de lei que classifica a Rússia como Estado patrocinador do terrorismo justamente por causa do sequestro de crianças ucranianas. “Não consigo imaginar que ele [Trump] se oponha, porque quem sequestra crianças é terrorista”, afirmou Graham, acrescentando acreditar que o presidente acabará apoiando a proposta.

A expectativa do senador é de que o Senado aprove o projeto no início de outubro. O movimento ganha fôlego após declarações recentes de Trump, que pela primeira vez sinalizou apoio à Ucrânia em seus esforços para retomar territórios tomados pela Rússia, uma posição que Graham classificou como “uma virada de jogo”.

Para os republicanos, trazer à tona o sofrimento das crianças sequestradas pode ser o elemento decisivo para pressionar por uma política externa mais dura e manter viva a ajuda americana à Ucrânia — uma pauta que enfrenta resistência crescente dentro do próprio Partido Republicano.

Primeiras-damas unem vozes pela proteção de crianças ucranianas sequestradas

A situação das quase 20 mil crianças ucranianas sequestradas pela Rússia se tornou também uma prioridade pessoal da primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska, que aproveitou a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, para se encontrar com Melania Trump. O encontro aconteceu na terça-feira, à margem da reunião de líderes mundiais, e teve como foco justamente o destino das crianças levadas à força durante a guerra.

De acordo com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, as duas primeiras-damas discutiram formas de cooperação para proteger menores em zonas de conflito, alinhando suas agendas em iniciativas globais voltadas ao bem-estar da infância. Melania Trump, que recentemente lançou um programa internacional com cônjuges de chefes de Estado, disse estar “satisfeita” com a reunião e ressaltou a visão compartilhada entre ela e Zelenska: “promover o desenvolvimento das crianças”.

Em uma postagem no Facebook, Zelenska compartilhou uma foto das duas e agradeceu a hospitalidade. “Estou sinceramente grata a Melania Trump e espero por mais cooperação para proteger o que há de mais precioso neste mundo — nossos filhos”, escreveu.

O gesto se soma a uma troca de correspondências entre as primeiras-damas. Após Melania Trump ter enviado uma carta a Vladimir Putin no mês passado, pedindo o fim da guerra e a proteção das crianças, Zelenska escreveu sua própria nota de agradecimento, entregue pelo marido diretamente a Trump no Salão Oval durante uma visita oficial a Washington.

A mobilização em torno das crianças sequestradas também ganhou espaço no Congresso americano. Legisladores de diferentes partidos têm insistido em que a questão seja incluída em qualquer acordo de paz futuro. Entre eles estão os senadores Amy Klobuchar (democrata de Minnesota), Chuck Grassley (republicano de Iowa), Richard Blumenthal (democrata de Connecticut) e Lindsey Graham, que vêm pressionando por recursos para investigar e rastrear menores levados pela Rússia.

O Tribunal Penal Internacional e outras organizações já acusaram Moscou de sequestrar crianças com o objetivo de apagar sua identidade ucraniana, transferindo-as para famílias ou instituições russas. Para parlamentares, isso configura crime de guerra e deve ter resposta firme da comunidade internacional.

Na luta por sensibilizar a opinião pública americana, uma nova voz também ganhou destaque: a senadora Katie Britt, republicana do Alabama, considerada uma estrela em ascensão no partido e mãe de crianças pequenas. Em coletiva de imprensa neste mês, ela se emocionou ao tratar do tema: “Como mãe, não consigo nem imaginar como é ter um filho arrancado dos braços”.

Britt foi enfática ao defender medidas duras contra Moscou: “Todos nós precisamos usar todas as ferramentas disponíveis para trazer esses bebês, para trazer essas crianças para casa. É claro que Putin nunca fará a coisa certa sem ser forçado a isso, e agora é hora de fazer isso acontecer.”

Na mesma ocasião, Graham destacou o papel de Melania Trump por ter levado a questão diretamente a Putin. Na carta enviada em agosto, a primeira-dama escreveu: “Ao proteger a inocência dessas crianças, você fará mais do que servir apenas à Rússia — você servirá à própria humanidade.”

E concluiu com um apelo direto ao presidente russo: “Uma ideia tão ousada transcende toda divisão humana, e o senhor, Sr. Putin, está apto a implementar essa visão com um golpe de caneta hoje mesmo. Chegou a hora.”

Com informações de NBC*

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