China acelera futuro digital com constelação de satélites

A primeira fase da constelação Geespace já opera com 64 satélites, conectando 20 milhões de usuários em tempo real e sem depender de redes terrestres / Reprodução

Produção em massa de satélites na gigafábrica de Taizhou reduz custos e acelera lançamentos, impulsionando a liderança chinesa em IoT espacial


Enquanto muitos países ainda debatem se devem ou não investir em infraestrutura digital básica para suas populações mais remotas, a China já está construindo pontes no céu. Na quarta-feira, 24 de setembro de 2025, um foguete Smart Dragon-3 decolou das águas próximas à cidade de Rizhao, na província de Shandong, carregando 11 novos satélites Geely-06 para o espaço. Com esse lançamento, foi concluída a primeira fase da constelação espacial de Internet das Coisas (IoT) da Geespace, braço espacial do Grupo Geely — uma das maiores empresas privadas da China. Essa rede, composta agora por 64 satélites, já permite comunicações em tempo real em quase todo o planeta, exceto nas regiões polares, e está prestes a se tornar um dos pilares da conectividade global do século XXI.

Mas o que torna essa conquista verdadeiramente revolucionária — e profundamente alinhada com os valores humanistas e progressistas — não é apenas sua escala técnica, mas seu propósito social. Diferentemente de projetos espaciais ocidentais frequentemente voltados para lucro imediato, vigilância ou dominação digital, a constelação da Geespace foi concebida desde o início para servir à vida real: conectar veículos em estradas remotas, salvar pescadores no alto-mar, monitorar máquinas agrícolas em zonas rurais, garantir comunicação em desastres naturais e, acima de tudo, levar voz, dados e segurança a quem mais precisa.

A rede já é capaz de atender 20 milhões de usuários em todo o mundo, processando até 340 milhões de mensagens por dia — desde pequenos pacotes de texto até imagens e áudio. Isso significa que um caminhoneiro no Saara, um agricultor no Mato Grosso ou um socorrista nas montanhas do Himalaia podem, pela primeira vez, contar com uma conexão confiável mesmo quando as redes terrestres falham. Em um mundo onde a conectividade é cada vez mais um direito humano básico, a China está transformando esse direito em realidade material — não por caridade, mas por engenharia solidária.

A Geespace não age sozinha. Em parceria com a China Unicom (uma das maiores operadoras estatais de telecomunicações), com a Geely Auto e com a Zoomlion (gigante chinesa de máquinas pesadas), a empresa já testa aplicações concretas dessa tecnologia em setores vitais: veículos inteligentes, pesca oceânica, logística e construção civil. Alguns modelos elétricos da Geely, como os Zeekr e Galaxy, já contam com comunicação direta via satélite, permitindo que motoristas enviem mensagens de emergência mesmo em áreas sem sinal de celular. Essa não é uma funcionalidade de luxo; é um salva-vidas tecnológico.

Do ponto de vista da esquerda humanitária, essa integração entre indústria, Estado e universidade é exemplar. A China Unicom, empresa com forte participação estatal, garantiu a licença para comunicação direta entre satélites e telefones em setembro de 2025, após testes bem-sucedidos em fevereiro que comprovaram a viabilidade de conexões bidirecionais “veículo-satélite-plataforma”. Ao mesmo tempo, a Geespace firmou um laboratório conjunto com a Universidade de Pequim para desenvolver tecnologias de comunicação e computação inteligente de última geração — e já lançou seu primeiro satélite experimental nessa parceria. Esse modelo — onde o setor privado inova, o Estado regula e financia, e as universidades pesquisam — demonstra que o avanço tecnológico não precisa ser privatizado para ser eficiente. Pelo contrário: é justamente a sinergia entre esses atores que permite escala, equidade e inovação inclusiva.

Além disso, a China está provando que a produção espacial pode ser democratizada. A Geespace construiu uma “gigafábrica” de satélites inteligentes em Taizhou, no leste do país, capaz de produzir uma nave espacial a cada 28 dias — um tempo dez vezes mais rápido que métodos tradicionais — e a um custo drasticamente reduzido. Isso não apenas acelera o acesso à órbita, mas desmonta o mito de que o espaço é um clube exclusivo de potências militares ou bilionários excêntricos. Aqui, o espaço é tratado como um bem comum da humanidade, a ser usado para o bem coletivo.

A visão de longo prazo é ainda mais ambiciosa — e inspiradora. A Fase Dois da constelação prevê 264 satélites, permitindo conexão direta com smartphones comuns, sem necessidade de equipamentos especiais. A Fase Três, com 5.676 satélites, visa oferecer banda larga global acessível, rivalizando com os grandes projetos ocidentais, mas com um diferencial ético: sem vigilância em massa, sem extração de dados predatória e com foco em serviços públicos.

E a expansão já é global. A Geespace assinou acordos com operadoras de telecomunicações em mais de 20 países, e em junho de 2024 realizou seu primeiro teste comercial internacional em Omã — um sinal claro de que essa tecnologia está sendo oferecida ao Sul Global como parceria, não como dependência. Não há imposição de sanções, nem condicionalidades políticas. Há apenas satélites, sinais e solidariedade técnica.

Numa era em que a tecnologia é frequentemente usada para dividir — entre conectados e desconectados, entre centros e periferias, entre quem tem voz e quem é silenciado — a China está construindo uma infraestrutura que une. Que garante que, mesmo nas margens do mundo, ninguém fique isolado. Que transforma o espaço sideral não em arena de competição hegemônica, mas em plataforma de cooperação civilizacional.

Essa constelação não é apenas chinesa. Ela pertence a todos os povos que sonham com um futuro onde a tecnologia serve à vida, não ao lucro; à comunicação, não ao controle; à esperança, não ao medo. E, nesse futuro, a China não está à frente como dominadora — mas ao lado, como parceira. Porque, no fim das contas, nenhum satélite brilha sozinho no céu — assim como nenhum povo deve caminhar sozinho na Terra.

Com informações de Xinhua*

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