O cientista político Adam Przeworski, professor emérito da Universidade de Nova York, afirmou em entrevista que conceder uma anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro representaria um grave risco institucional: “seria um desastre e encorajaria novos golpes”.
Para Przeworski, a condenação de Bolsonaro, somada à responsabilização de militares de alto escalão, indica que as instituições brasileiras estão fortes e atuantes. Ele ressaltou que é incomum ver réus de alta patente militar e política sendo julgados em democracias emergentes .
Segundo ele, passar a mão em líderes antidemocráticos pode criar “licença para agir” no futuro: “A lição de uma anistia seria clara: pode-se levar a cabo ações criminosas contra a democracia e sair impune.”
O debate ganhou destaque nas últimas semanas no Congresso, onde circulam projetos de lei que propõem perdão amplo a envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. Entre os que defendem a anistia está o senador Flávio Bolsonaro, que tem feito pressão para que ela inclua o próprio ex-presidente.
Przeworski também alertou que a concessão de perdão amplo enfraqueceria a responsabilização, alimentando ciclos de impunidade. Ele citou exemplos históricos latino-americanos em que anistias mal formuladas contribuíram para desmanches institucionais.
Além disso, o professor abordou o contexto internacional: ele apontou que os EUA, sob Donald Trump, voltaram a demonstrar apoio aberto a Bolsonaro, mas considera que essa postura possa acionar reações nacionalistas dentro do Brasil. Przeworski observou que interferências externas tendem a reforçar a narrativa de soberania e resistência doméstica.