Surra histórica!

Breno Altman e Paulo Bilynskyj durante o debate no podcast Três Irmãos, marcado por embates duros e pela derrota acachapante do bolsonarista.

Breno Altman enfrentou Paulo Bilynskyj no podcast Três Irmãos, e a fragilidade política do bolsonarismo mais uma vez ficou exposta.

O debate entre Breno Altman, jornalista e editor do Opera Mundi, e o deputado federal Paulo Bilynskyj (PL-SP), presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara, foi mais do que um embate de argumentos: revelou como o bolsonarismo está perdendo espaço nas ruas, nas redes e agora também nos podcasts.

O parlamentar tentou abrir vantagem explorando sua suposta especialidade em segurança pública. Apresentou números de homicídios nos últimos governos, sugerindo que o período Bolsonaro havia registrado os menores índices. Altman rebateu de imediato, lembrando que a queda coincidiu com a pandemia de covid-19, que reduziu drasticamente a circulação de pessoas e, por consequência, os crimes em todo o mundo. A tentativa de usar os dados como trunfo se transformou em derrota retórica logo no início.

Quando o debate avançou para a questão da soberania nacional, a fragilidade do bolsonarismo ficou mais evidente. Altman questionou a relação submissa do bolsonarismo com os Estados Unidos, citando episódios emblemáticos: Bolsonaro prestando continência à bandeira norte-americana, a bandeira gigante dos EUA erguida por manifestantes bolsonaristas na Avenida Paulista e a atuação de Eduardo Bolsonaro no exterior contra os interesses nacionais. Bilynskyj respondeu que os EUA eram guardiões da democracia, o que abriu espaço para Altman lembrar que Washington sempre apoiou ditaduras pelo mundo e atuou para derrubar governos democraticamente eleitos, inclusive na América Latina.

Em seguida, o deputado buscou associar Lula e a esquerda ao crime organizado. Citou um ato público em que o então presidente teria dividido o palco com uma mulher acusada de ter ligação com o PCC. Mais tarde, exagerou, afirmando que se tratava de uma “líder do PCC”. A acusação era tão pueril, mentirosa e absurda que Altman simplesmente a ignorou. O episódio acabou revelando a lógica preconceituosa da retórica bolsonarista: se fosse levado a sério, implicaria que lideranças políticas não poderiam entrar em comunidades pobres pelo simples fato de ali existir criminalidade organizada. Aplicada de forma coerente, essa lógica significaria também que ninguém poderia entrar na Faria Lima, reduto do grande capital, onde também há empresas ligadas ao PCC.

Bilynskyj acusou a esquerda de incoerência por defender a anistia ao final da ditadura militar e criticar a ideia de anistiar os golpistas de 8 de janeiro. Altman rejeitou a comparação, ressaltando que se tratava de situações incomparáveis: de um lado, quem resistiu a uma ditadura; de outro, quem tentou instaurar um novo regime autoritário.

O deputado tentou desestabilizar o debate acusando Altman de receber instruções de assessores via celular. O jornalista negou a acusação e disse que apenas enviava mensagens para organizar a alimentação de seus cachorros. A cena voltou-se contra Bilynskyj quando, minutos depois, ele próprio chamou seu assessor em frente às câmeras para checar uma alegação sobre a execução de um embaixador britânico pela esquerda durante a ditadura. O auxiliar confirmou que a informação era falsa e o próprio parlamentar foi obrigado a admiti-lo perto do final, depois de ser pressionado por Breno Altman.

Um dos momentos mais fortes do debate ocorreu quando Altman lembrou, com emoção, que a ditadura que o Brasil viveu de fato foi entre 1964 e 1985. Nesse período, não havia julgamentos transparentes para quem se opunha ao regime, as pessoas simplesmente desapareciam e até hoje muitas famílias não sabem onde estão os corpos de seus parentes. Havia tortura, censura à imprensa e repressão política, em nada comparáveis à realidade atual.

No encerramento, Altman trouxe à tona a história familiar de ambos. Recordou que o avô de Bilynskyj havia integrado o Batalhão Galícia, uma tropa ucraniana criada em 1943 e comandada por generais nazistas da Alemanha e da Áustria, subordinada diretamente a Hitler. Essa divisão foi responsável por massacres de civis na Polônia, episódio no qual uma tia-avó de Altman, judia, foi assassinada. O próprio deputado já havia se manifestado em redes sociais sobre esse passado, dizendo-se orgulhoso do avô e negando, diante de um comentário de um internauta, que o batalhão fosse nazista.

Sem respostas consistentes, Bilynskyj partiu para a vitimização. Alegou estar decepcionado com o debate e a audiência, o que fez o próprio âncora do podcast intervir, lembrando que o encontro havia sido marcado com mais de um mês de antecedência e que o deputado poderia ter mobilizado mais suas próprias bases para participar.

Na sequência, o parlamentar apelou para a diferença de idade, afirmando ter 38 anos e que Altman poderia ser seu pai. A cena soou patética, como se pedisse para ser tratado como um filho em vez de um adversário político. Terminou o debate em fuga, reforçando a impressão de que não apenas havia sido derrotado, mas que também não soube perder com elegância, mesmo ocupando a posição de deputado federal diante de um jornalista.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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