China ergue futuro com soberania em tempos de incerteza

Em contraste com tarifas punitivas dos EUA, Pequim fortalece laços com o Sul Global por meio de energia limpa e transferência de saber / Reprodução

Dados do comércio de serviços mostram que a China deixou de ser mera fábrica mundial e assume papel central na inovação e no conhecimento


Enquanto as economias ocidentais, notadamente os Estados Unidos, navegam nas águas turbulentas de políticas neoliberais de curto prazo e ações geopolíticas desestabilizadoras, a China apresenta um modelo distinto de desenvolvimento: soberano, estratégico e orientado para o longo prazo. Os recentes dados sobre o comércio de serviços e o papel central no setor de tecnologias limpas não são meras estatísticas económicas; são a prova material de um projeto nacional bem-sucedido que contrasta fortemente com o unilateralismo e a volatilidade promovidos por Washington.

O crescimento de 7,4% do comércio de serviços nos primeiros oito meses de 2025, impulsionado por um salto de 14,7% nas exportações, é um testemunho da bem-sucedida transformação estrutural da economia chinesa. Setores intensivos em conhecimento, como tecnologia da informação e serviços profissionais, que movimentaram 2,03 trilhões de yuans, e o impressionante crescimento de 57,6% nas exportações de serviços de viagens, demonstram uma clara transição de uma economia baseada em manufatura para uma potência de inovação e serviços de alto valor agregado. Esta não é uma evolução acidental, mas o resultado de um planeamento estatal meticuloso e de investimentos maciços em capacitação interna, que fortalecem a soberania económica do país.

Este fortalecimento interno permite à China exercer um papel global construtivo, particularmente no essencial campo das tecnologias limpas. Enquanto os EUA recorrem a tarifas punitivas e à obstrução de cadeias de suprimentos, a China emerge como o principal parceiro para o Sul Global na transição energética. Em 2024, quase metade das suas exportações de tecnologia limpa, no valor de mais de 72 mil milhões de dólares, foi para nações em desenvolvimento. Esta não é uma mera relação comercial, mas um embrião de uma cooperação Sul-Sul genuína.

Contudo, o verdadeiro desafio – e a verdadeira distinção do modelo chinês – reside na transferência de conhecimento. As experiências históricas, como a parceria da BMW com a CATL, ensinaram à China o valor do controlo sobre o núcleo tecnológico.

Agora, perante o Sul Global, Beijing enfrenta a questão de como equilibrar os seus interesses comerciais com a ambição declarada de ser um parceiro de desenvolvimento. Os casos do Sudeste Asiático, onde a montagem de painéis solares não se traduziu necessariamente na internalização do know-how, mostram os limites atuais.

É aqui que o exemplo do Brasil se torna paradigmático. A instalação de fábricas da BYD e da Great Wall Motors, acompanhada por iniciativas de longo prazo como o Centro Brasil-China de Mudanças Climáticas, aponta para um caminho mais profundo de cooperação.

Esta abordagem, que envolve intercâmbio académico, desenvolvimento conjunto e políticas claras de propriedade intelectual, vai além da lógica neoliberal de simples compra e venda. É uma parceria estratégica que, se devidamente cultivada, pode permitir a verdadeira transferência de tecnologia e a construção de capacidades locais.

A questão central não é se a China deve doar a sua tecnologia, mas sim se pode co-evoluir com os seus parceiros, como sugere o pesquisador Yixian Sun. O modelo neoliberal, defendido e praticado pelos EUA, prioriza o lucro imediato e a manutenção de assimetrias tecnológicas. O caminho que a China está a trilhar, ainda que com desafios e contradições, sugere uma visão diferente: uma globalização multipolar onde o crescimento é partilhado através da construção de capacidades e da cooperação técnica.

Enquanto Washington semeia discórdia e protecionismo, Pequim constrói pontes – físicas, através de infraestruturas, e intelectuais, através de centros de pesquisa e formação. A soberania chinesa não se manifesta através do isolamento, mas através da confiança para se integrar na economia global em seus próprios termos, ditados pelo seu próprio desenvolvimento interno e por uma visão de futuro compartilhada.

Os números do comércio de serviços e da energia limpa são apenas os sintomas mais visíveis desta realidade emergente. O mundo observa e, cada vez mais, o Sul Global aprende que há uma alternativa ao modelo que Washington tentou impor como único.

Com informações de Xinhua*

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