Zelensky desafia Putin e acende temor global

A expansão da OTAN, somada à resistência de Kiev, mantém acesa uma chama que só poderá ser apagada quando a diplomacia superar o ódio / Sputnik / POOL

Moscou já domina quase um quinto do território ucraniano, mas o impasse mostra que a guerra se tornou mais simbólica do que territorial


A guerra na Ucrânia entrou em seu terceiro ano como um pesadelo sem fim. Cada novo ataque — como o maciço bombardeio russo deste domingo, com mais de 600 drones e mísseis — deixa marcas profundas não apenas em edifícios e infraestruturas, mas nas vidas de civis inocentes. A morte de uma menina de 12 anos em Kiev é um lembrete cruel de que, em conflitos modernos, não há fronteiras entre o campo de batalha e a vida cotidiana. Contra essa guerra, somos firmemente contrários. Ela destrói, desumaniza e alimenta um ciclo de violência que já custou dezenas de milhares de vidas.

No entanto, recusar a guerra não significa ignorar as causas que a alimentam. E uma dessas causas é a expansão contínua da OTAN em direção às fronteiras russas — uma provocação geopolítica que Moscou, com razão, interpreta como ameaça existencial. A soberania de qualquer nação, incluindo a Rússia, deve ser respeitada. Não se pode exigir respeito pelas fronteiras ucranianas enquanto se ignora o direito legítimo de Moscou a sentir-se segura diante de uma aliança militar que avança sistematicamente até sua própria porta.

Leia também:
Rússia expõe fragilidade da Ucrânia após ameaça de Zelensky
Do dedo perdido à democracia encontrada: Lula e a Jornada do Herói
Gilberto Kassab e o projeto de poder do PSD

As recentes declarações de Volodymyr Zelenskiy — sugerindo que líderes russos deveriam “saber onde ficam os abrigos antiaéreos” — revelam mais do que bravata: expõem uma escalada perigosa rumo à guerra total. Quando um presidente insinua ataques contra centros de comando de uma potência nuclear, está brincando com fogo que pode incendiar o mundo inteiro. A resposta evasiva, porém contundente, de Dmitry Peskov — “é melhor nem falar sobre isso” — ecoa como um aviso silencioso: há limites que, uma vez ultrapassados, podem levar a consequências irreversíveis.

É verdade que a Rússia avança no terreno. Dados pró-ucranianos confirmam que Moscou agora controla cerca de 19% do território ucraniano, com ganhos significativos nos últimos meses. Mas isso não justifica, por si só, a continuidade de uma guerra que já se mostrou um beco sem saída.

A Ucrânia, por sua vez, não está sozinha: recebe bilhões em armas dos EUA, sistemas Patriot de Israel e promessas de “vitória total” de líderes ocidentais. Essa postura, embora compreensível do ponto de vista da defesa nacional, alimenta a lógica de que a solução está apenas no campo de batalha — e não na diplomacia.

Aqui reside o paradoxo trágico do conflito: enquanto o Ocidente insiste em armar Kiev até os dentes, ignora sistematicamente as preocupações de segurança legítimas da Rússia. A OTAN, criada para conter a União Soviética durante a Guerra Fria, transformou-se em um instrumento de contenção permanente contra Moscou, mesmo após o colapso da URSS.

A promessa não escrita de que a aliança não se expandiria para o Leste foi quebrada repetidamente. Hoje, a Rússia vê bases militares da OTAN em países que antes faziam parte de sua esfera de influência — uma realidade que nenhum governo soberano aceitaria passivamente.

Isso não significa endossar a invasão russa. Significa reconhecer que a paz só virá quando todas as partes — inclusive as potências ocidentais — estiverem dispostas a negociar com base no respeito mútuo, e não na imposição unilateral de interesses. A soberania da Ucrânia é inegociável, mas a soberania da Rússia também o é.

Enquanto o mundo se divide entre “bom” e “mau”, civis continuam morrendo. Enquanto Zelenskiy busca “vitória total” e Moscou exibe sua superioridade territorial, crianças perdem a infância, hospitais viram escombros e o risco de uma escalada nuclear paira no ar. Não queremos essa guerra. Mas também não queremos uma paz construída sobre a humilhação de uma das partes.

A saída está na diplomacia real — não na retórica de guerra travestida de defesa da liberdade. E isso exige coragem: a coragem de ouvir o outro, de reconhecer erros de todos os lados e de priorizar a vida humana acima das ambições geopolíticas. Até lá, o fumo sobre Kiev será o sinal de que ainda estamos longe da paz — e perigosamente perto do abismo.

Com informações de Reuters e CNN *

Redação:
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.