Crise de Milei se aprofunda: escândalos, derrotas e economia estagnada colocam governo em xeque mesmo com apoio dos EUA

O governo argentino foi abalado por denúncias de corrupção que atingem Karina Milei, irmã do presidente e secretária-geral da Presidência. Áudios vazados apontam que ela e aliados estariam envolvidos em um esquema de cobrança de propinas de empresas farmacêuticas em troca de contratos públicos. O caso ainda envolve a Agência Nacional de Pessoas com Deficiência, comandada até agosto por Diego Spagnuolo, advogado próximo ao presidente.

As acusações são particularmente danosas porque Karina é considerada a figura mais influente do círculo íntimo de Milei, chamada por ele de “a chefe”. Durante a campanha e no início do mandato, o presidente reforçou que ela tinha grande influência em suas decisões. Isso transformou a denúncia em um golpe direto ao discurso da “motosserra” contra a corrupção e à retórica de enfrentamento à chamada “casta política”.

O episódio afetou a imagem pública do presidente e provocou turbulência no mercado financeiro. Além disso, abriu espaço para a oposição intensificar críticas, reforçando a narrativa de que o governo não se diferencia dos anteriores.

Apoio dos Estados Unidos

Diante das incertezas, Milei buscou respaldo internacional. No fim de setembro, Donald Trump declarou apoio explícito à sua reeleição, descrevendo-o como um “líder fantástico”. Na mesma linha, o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, anunciou um pacote de ajuda financeira de US$ 20 bilhões para a Argentina, classificando o país como “um aliado estratégico na América Latina”.

O anúncio trouxe um alívio momentâneo ao mercado, mas ainda carece de detalhes sobre prazos e condições. Para analistas, o socorro evitou um “naufrágio imediato”, mas não garante a recuperação da economia argentina nem resolve a insatisfação popular. A percepção geral é de que o gesto tem mais peso político do que efeito prático a curto prazo.

Na Argentina, as declarações de Trump e Bessent não parecem influenciar o eleitorado. Pesquisadores apontam que os cidadãos seguem preocupados com a estagnação da economia e a dificuldade em manter o consumo. Nesse sentido, o apoio americano funciona mais como um fôlego para a gestão de Milei atravessar o processo eleitoral legislativo do que como um fator capaz de reverter sua queda de popularidade.

Derrotas eleitorais e queda de popularidade

Outro ponto crítico para Milei foi a derrota expressiva de seu partido, A Liberdade Avança, nas eleições legislativas da província de Buenos Aires, que concentra quase 40% do eleitorado argentino. O resultado fortaleceu o kirchnerismo, liderado pelo governador Axel Kicillof, e evidenciou a dificuldade do presidente em expandir sua base política fora das redes sociais e de setores específicos da população.

Após a derrota, Milei adotou um tom mais conciliador em discursos, chegando a abrir mão de seus bordões agressivos. No entanto, pesquisas de opinião revelam queda significativa em sua aprovação: mais da metade da população desaprova sua gestão, e o apoio caiu cerca de 10 pontos percentuais em dois meses. O cansaço do eleitorado com seu estilo confrontador é apontado como uma das principais razões para essa tendência.

Além das urnas, Milei sofreu derrotas no Congresso, onde perdeu votações importantes sobre orçamento para universidades e hospitais pediátricos. Com apenas 37 deputados e seis senadores, sua legenda depende de alianças que se mostram cada vez mais frágeis. Isso ampliou a percepção de isolamento político do presidente e reforçou especulações de que ele poderá enfrentar dificuldades para concluir o mandato até 2027.

Lucas Allabi: Jornalista em formação pela PUC-SP e apaixonado pelo Sul Global. Escreve principalmente sobre política e economia. Instagram: @lu.allab
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