PIB dispara em agosto em meio ao crescimento da indústria

A produção industrial brasileira registrou alta de 0,8% em agosto, comparada a julho, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) divulgada nesta sexta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O avanço põe fim a uma série de quatro meses consecutivos de retração, iniciada em abril, quando as perdas acumuladas somaram 1,2%. Apesar da reação, o nível atual de atividade permanece 14,4% abaixo do recorde histórico alcançado em maio de 2011, embora esteja 2,9% acima do patamar pré-pandemia, medido em fevereiro de 2020.

No comparativo anual, frente a agosto de 2024, houve queda de 0,7%. No acumulado de janeiro a agosto de 2025, a indústria nacional apresenta crescimento de 0,9%, enquanto o resultado dos últimos 12 meses é de alta de 1,6%.

Recuperação pontual impulsionada por setores específicos

Segundo André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE, parte do desempenho de agosto pode ser explicada pela base de comparação enfraquecida. “Para o resultado desse mês, a base de comparação depreciada é um fator importante para entendermos não só a expansão de 0,8%, o maior avanço desde março de 2025 (1,7%), mas também o perfil disseminado de taxas positivas, uma vez que três das quatro grandes categorias econômicas e 16 das 25 atividades industriais pesquisadas apontaram avanço na produção”, afirmou.

Entre os setores que mais contribuíram para o crescimento, o destaque foi para produtos farmoquímicos e farmacêuticos, com alta de 13,4% em agosto e 28,6% de expansão acumulada nos últimos quatro meses. Também tiveram influência relevante coque, derivados de petróleo e biocombustíveis (1,8%) e alimentos (1,3%), ambos registrando dois meses seguidos de aumento.

Por outro lado, nove atividades apresentaram retração no período. O setor químico recuou 1,6% após três meses consecutivos de crescimento. Já máquinas e equipamentos caíram 2,2%, enquanto produtos de madeira tiveram queda expressiva de 8,6%.

Desempenho das grandes categorias econômicas

Entre as quatro categorias econômicas pesquisadas pelo IBGE, três apresentaram avanço em agosto:

  • Bens intermediários: +1,0%
  • Bens de consumo semi e não duráveis: +0,9%
  • Bens de consumo duráveis: +0,6%

A única exceção foram os bens de capital, que caíram 1,4%, ampliando as perdas registradas em julho. Mesmo com a reação do mês, o saldo dos últimos cinco meses ainda é negativo: queda acumulada de 0,4%.

Comparação com agosto de 2024 aponta retração anual

Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a produção industrial caiu 0,7%. O resultado foi influenciado por reduções em 15 dos 25 ramos analisados. Um dos principais fatores foi a menor produção de álcool etílico, que impactou diretamente a categoria de derivados de petróleo e biocombustíveis, com queda de 4,0%.

De acordo com André Macedo, essa redução está ligada a decisões estratégicas das usinas do setor sucroalcooleiro. “O recuo observado nesse item pode estar associado à estratégia de alocação do processamento da cana-de-açúcar, que nesse período foi direcionado em maior proporção para a produção de açúcar, em detrimento da produção de álcool”, explicou.

Outros segmentos também exerceram influência negativa, como:

  • Produtos de metal: -7,9%
  • Madeira: -18,4%
  • Equipamentos eletrônicos: -8,8%
  • Calçados e artigos de couro: -9,6%
  • Veículos: -2,2%

Setores que impulsionaram a atividade no comparativo anual

Alguns ramos se destacaram positivamente na comparação com agosto de 2024. As indústrias extrativas cresceram 4,8%, impulsionadas principalmente pela produção de petróleo bruto. Também tiveram alta expressiva:

  • Fumo: +30,9%
  • Produtos têxteis: +7,2%
  • Celulose e papel: +5,2%

Esses setores ajudaram a compensar parte das quedas em outros segmentos industriais, embora não tenham revertido a queda geral registrada no indicador anual.

Perspectivas e desafios para a indústria

Apesar da recuperação de agosto, especialistas apontam que a trajetória da indústria ainda depende de fatores como a demanda interna, o nível de juros e o desempenho das exportações. A recente alta de tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros também é vista como um ponto de atenção para a competitividade do setor.

O IBGE destacou que o comportamento positivo de agosto teve forte relação com a base comparativa enfraquecida após meses de retração, o que significa que a retomada pode não ser suficiente para garantir tendência de crescimento sustentado nos próximos meses. Além disso, o resultado reflete desigualdade entre setores, já que alguns ramos ainda enfrentam demanda fraca e estoques elevados.

Enquanto o desempenho de segmentos como o farmacêutico e o de combustíveis sinaliza capacidade de recuperação, outras áreas, especialmente as ligadas à produção de bens de capital, permanecem pressionadas pela falta de investimentos e pelas condições de crédito mais restritivas.

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