Em um ato político pouco convencional, o presidente da Argentina Javier Milei subiu ao palco na noite de segunda-feira (6) em Buenos Aires para cantar clássicos do rock argentino, como músicas de Charly García e Los Ratones Paranoicos. Vestido com jaqueta de couro e cercado por fogos de artifício, o presidente declarou ao final: “Vou tomar banho e me vestir de presidente.”
O evento, apresentado como lançamento do livro A Construção do Milagre, ocorreu em meio a forte desgaste político e econômico do governo. A Argentina enfrenta inflação alta, queda na popularidade presidencial e novos escândalos de corrupção envolvendo aliados de Milei e sua irmã, Karina Milei, secretária-geral da Presidência.
Nos últimos dias, José Luis Espert, principal candidato governista a deputado por Buenos Aires, renunciou após suspeitas de ligação com um empresário acusado de tráfico de drogas nos EUA. O episódio ocorre enquanto o ministro da Economia, Luis Caputo, negocia em Washington um pacote de ajuda financeira americana para conter a crise.
Analistas veem o show como uma tentativa de Milei de “recuperar a mística” que o levou ao poder em 2023, especialmente entre jovens eleitores. “Foi um gesto para reforçar o núcleo mais fiel de apoiadores, num momento de perda de fôlego político”, avaliou Lara Goyburu, da consultoria Management & Fit.
Pesquisas recentes indicam que 53,7% dos argentinos desaprovam o governo, o pior índice desde a posse. Apesar da queda da inflação — projetada em 28% para 2025 —, salários seguem estagnados, o custo de vida dispara e o desemprego preocupa.
Críticos, como o ex-ministro Ricardo López Murphy, acusaram Milei de insensibilidade. “Volte ao planeta Terra, presidente. O país precisa do senhor aqui”, escreveu nas redes sociais.