Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, diz sobre escândalo que matou três pessoas que só se preocuparia quando ‘começassem a falsificar Coca-Cola’
O governador abstêmio de São Paulo, Tarcísio de Freitas, foi forçado a se desculpar após responder a uma crise mortal de envenenamento por metanol brincando que ele só começaria a se preocupar quando os contrabandistas começassem a fabricar Coca-Cola falsa.
Freitas, aliado próximo do ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, fez o comentário durante uma coletiva de imprensa sobre sua resposta a um escândalo de contaminação por álcool em seu estado, que matou pelo menos três pessoas. Entre as vítimas está uma mãe de 30 anos que morreu após beber um coquetel de vodca com suco de frutas em uma festa.
O ministro da Saúde do Brasil, Alexandre Padilha, médico, pediu aos cidadãos que evitem bebidas brancas, como vodca e gim, até que as autoridades descubram a origem das bebidas contaminadas. “Não estamos falando de um produto essencial na vida das pessoas”, disse Padilha na semana passada.
Na segunda-feira, Freitas pareceu amenizar a situação ao descrever as preocupações de fabricantes de bebidas alcoólicas como Jack Daniel’s e Johnnie Walker com a falsificação ilegal de seus produtos. “[Álcool] não é minha praia”, disse o candidato à presidência.
“O dia em que começarem a falsificar Coca-Cola é o dia em que vou me preocupar. Ainda bem que não chegaram a esse ponto”, acrescentou Freitas com um sorriso sem graça.
O comentário se tornou viral e desencadeou uma torrente de críticas, com muitos comparando-o à resposta insensível e incompetente de Bolsonaro à Covid, que matou mais de 700.000 brasileiros.
“E daí? Desculpe. O que você quer que eu faça?”, perguntou Bolsonaro a um repórter em abril de 2020, quando questionado sobre o rápido aumento do número de mortes. Um ano depois, com mais de 260.000 mortos, Bolsonaro pediu aos cidadãos que parassem de “choramingar”.
Freitas — que espera herdar o movimento político de Bolsonaro após a recente condenação de seu mentor a 27 anos de prisão por planejar um golpe militar — lamentou seus comentários na terça-feira.
Ele admitiu ter “feito uma piada” para descontrair, mas afirmou que suas palavras foram “muito mal interpretadas”.
“Peço perdão às famílias que estão sofrendo após perder entes queridos [e] aos empresários cujos negócios estão sofrendo”, disse Freitas, que muitos esperam que desafie o atual presidente de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, pela presidência nas eleições do ano que vem.
Publicado originalmente pelo The Guardian em 08/10/2025
Por Tom Phillips no Rio de Janeiro