China amplia rede de energia de ultratensão e consolida liderança global na transição para fontes renováveis

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A China tem se consolidado como protagonista na transição energética global ao expandir de forma acelerada sua infraestrutura de transmissão elétrica e o uso de energias renováveis. O país já opera mais de 3,2 mil quilômetros de linhas de energia de ultratensão, capazes de transportar grandes volumes de eletricidade de regiões remotas do oeste e norte — onde estão concentradas as usinas solares e eólicas — até os centros urbanos e industriais do sudeste.

Segundo reportagem do The New York Times, repercutida pela Folha de S. Paulo, esse sistema de transmissão é mais eficiente do que os modelos adotados em outros países e tem sido fundamental para sustentar o crescimento econômico e tecnológico da China. A iniciativa representa um avanço estratégico na transição para uma economia de baixo carbono, baseada em inovação e sustentabilidade.

Expansão acelerada das energias limpas

Em abril deste ano, mais de um quarto da eletricidade gerada na China veio de fontes renováveis, incluindo energia solar, eólica e hidrelétrica — uma marca alcançada por poucos países. O ritmo de expansão é tão elevado que nem mesmo os planejadores energéticos de Pequim conseguiram prever a velocidade da adoção dessas tecnologias.

Com o aumento da demanda doméstica — a China já consome duas vezes mais eletricidade que os Estados Unidos —, o governo central projeta triplicar a rede de ultratensão até 2050, conectando regiões distantes e garantindo o fornecimento contínuo para as áreas mais populosas e industrializadas.

O sistema de ultratensão, baseado em tecnologia de corrente contínua (HVDC), permite o transporte de energia a longas distâncias com perdas mínimas. Essa tecnologia é considerada um dos pilares da transição energética chinesa, viabilizando o uso pleno das usinas renováveis localizadas em áreas desérticas e montanhosas, distantes dos centros consumidores.

Avanços e desafios locais

Apesar dos benefícios ambientais e econômicos, o avanço das linhas de ultratensão tem gerado preocupações em algumas comunidades rurais. Em Anhui, onde passa a linha de energia mais longa do país, moradores relatam desconfortos relacionados à eletricidade estática.

Senti faíscas saindo de um guarda-chuva na chuva”, contou Xu Shicai, morador da vila de Xuchong, descrevendo também a sensação de dormência nas mãos ao pescar próximo aos cabos de alta tensão. Embora parte da população aceite a presença da infraestrutura como símbolo de progresso nacional, há resistência à expansão. “Estou acostumado agora, mas, honestamente, não queremos mais linhas construídas aqui”, afirmou Xu.

Autoridades chinesas reconhecem que a implementação de grandes projetos energéticos exige equilíbrio entre crescimento e impacto social. O país tem reforçado programas de compensação financeira e de monitoramento ambiental em áreas afetadas.

Redução de emissões e melhora na qualidade de vida

Os efeitos positivos da transição energética são evidentes. Desde 2014, a poluição do ar na China caiu 41%, segundo dados de pesquisas ambientais internacionais. Essa redução tem contribuído para aumentar a expectativa de vida da população e para consolidar o país como o maior investidor global em energia limpa.

A substituição gradual do carvão por fontes renováveis tem sido o principal fator por trás dessa melhoria. O governo chinês também vem incentivando o uso de carros elétricos, trens de alta velocidade e sistemas de transporte movidos a energia limpa, integrando a política energética às metas de neutralidade de carbono.

A China mantém o compromisso de atingir o pico de emissões de gases de efeito estufa antes de 2030 e alcançar a neutralidade climática até 2060, metas que exigem investimentos contínuos em geração, transmissão e armazenamento de energia sustentável.

Comparações com os Estados Unidos

Enquanto a China avança na consolidação de sua infraestrutura elétrica, projetos semelhantes nos Estados Unidos enfrentam obstáculos políticos e regulatórios. O exemplo mais notório é o “Grain Belt Express”, linha de transmissão planejada para levar energia eólica do Kansas até Illinois e Indiana. O projeto foi interrompido após forte oposição de legisladores locais e de proprietários rurais, que contestam o uso de terras privadas.

Nos EUA, a fragmentação regulatória e o embate entre interesses estaduais e federais têm atrasado a modernização da rede elétrica. Especialistas apontam que o modelo de planejamento centralizado da China — em que decisões estratégicas são tomadas e executadas de forma coordenada — permite avanços mais rápidos em infraestrutura de larga escala.

Modelo de transição e influência global

A expansão da rede de ultratensão transformou a China em referência mundial em infraestrutura elétrica e inovação tecnológica. O país exporta suas soluções de transmissão para mercados da Ásia, África e América Latina, consolidando influência no setor energético global.

Além de reduzir a dependência do carvão, o modelo chinês combina planejamento estatal, investimento em pesquisa e integração de políticas públicas, demonstrando que o desenvolvimento sustentável pode ser acelerado com coordenação e escala.

Analistas avaliam que a estratégia chinesa também tem implicações geopolíticas. Ao dominar tecnologias de energia limpa e garantir segurança energética interna, o país amplia seu poder de negociação internacional em um cenário global cada vez mais voltado à descarbonização.

Perspectiva para as próximas décadas

A meta de triplicar a rede de ultratensão até 2050 deverá consolidar a China como o maior exportador e consumidor de energia renovável do planeta. O plano inclui novas rotas de transmissão conectando Xinjiang, Mongólia Interior e Gansu — regiões com vasto potencial solar e eólico — aos centros industriais de Xangai, Guangzhou e Shenzhen.

Apesar dos desafios locais, a trajetória da China mostra que políticas de longo prazo, combinadas a investimentos robustos em tecnologia e infraestrutura, podem redefinir o papel de um país no combate às mudanças climáticas.

O caso chinês serve como um exemplo de como a integração entre inovação, planejamento estatal e sustentabilidade pode acelerar a transição global para uma economia de baixo carbono — uma transição que, em outros lugares, ainda avança em ritmo muito mais lento.

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