O Brasil e a China anunciaram a criação de um fundo de investimento de US$ 1 bilhão voltado para infraestrutura, energia limpa, agricultura, mineração e inteligência artificial (IA). O acordo, assinado em setembro de 2025, marca a primeira iniciativa bilateral desse porte entre os dois países e abre um novo capítulo na cooperação econômica sino-brasileira.
O projeto será liderado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e pelo Banco de Exportação e Importação da China (CEXIM). O BNDES contribuirá com US$ 400 milhões, enquanto o banco chinês aportará US$ 600 milhões.
Segundo o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, a iniciativa “representa uma oportunidade histórica de financiar o desenvolvimento com sustentabilidade e inovação tecnológica”.
Um fundo para impulsionar o desenvolvimento verde e digital
De acordo com o termo de compromisso firmado entre as instituições, o fundo será formado por investimentos diretos em empresas e projetos brasileiros, preferencialmente em moeda nacional, reduzindo a exposição cambial e fortalecendo a economia interna.
O foco recairá sobre setores estratégicos como transporte, energia renovável, digitalização industrial e agricultura de precisão. As aplicações serão realizadas por meio de fundos de investimento no mercado de capitais, com prioridade para ativos de longo prazo e impacto social e econômico direto.
A previsão é que o mecanismo comece a operar em 2026, após o período de estruturação e aprovação regulatória.
O BNDES destaca que o fundo reforça sua missão de atuar como âncora de projetos sustentáveis e inovadores, alinhados às metas globais de descarbonização e transição digital.
O papel central do BNDES na cooperação com a China
Com esse fundo, o BNDES assume um papel de protagonista na nova etapa da cooperação econômica entre Brasil e China. Tradicionalmente conhecido por financiar obras de infraestrutura e modernização industrial, o banco agora se posiciona como ponte estratégica com a segunda maior economia do planeta.
O BNDES tem longa experiência em hidrelétricas, ferrovias, rodovias, energia renovável e inovação tecnológica, o que o habilita a avaliar a viabilidade e o impacto social dos projetos financiados.
O aporte inicial de US$ 400 milhões sinaliza a disposição do Brasil em liderar a estratégia de aplicação dos recursos, garantindo que os investimentos estejam voltados a benefícios de longo prazo para o país.
“A cooperação com o CEXIM é um passo decisivo para financiar o desenvolvimento sustentável com base em tecnologia e inovação”, afirmou Mercadante.
Energia limpa e inteligência artificial entre as prioridades
O fundo priorizará três frentes: infraestrutura física e digital, energia renovável e inteligência artificial aplicada à indústria e à agricultura.
Na prática, os recursos poderão ser direcionados para projetos de ferrovias, portos, estradas, redes elétricas inteligentes, parques eólicos e solares, além de soluções digitais para cidades inteligentes e automação de processos produtivos.
Em IA, o foco será a agricultura de precisão — com uso de sensores, big data e aprendizado de máquina para monitorar safras, prever condições climáticas e otimizar o uso de recursos naturais.
Também estão previstos investimentos em modernização de redes elétricas, com sistemas inteligentes de controle e eficiência energética, além do apoio a startups e centros de pesquisa que atuem em áreas de tecnologia verde.
Impactos esperados para o Brasil
Economistas avaliam que o fundo tem potencial para mover diversos setores da economia e gerar um novo ciclo de crescimento sustentável.
Entre os impactos esperados:
Modernização da infraestrutura logística, reduzindo custos e ampliando a integração regional.
Acesso ampliado a crédito de longo prazo para a indústria nacional.
Aceleração da transição energética, com criação de empregos verdes e fortalecimento de cadeias renováveis.
Fomento à inovação tecnológica, estimulando startups e pesquisas aplicadas.
Desenvolvimento regional, promovendo a interiorização do crescimento.
Analistas comparam o potencial da iniciativa ao ciclo de grandes investimentos dos anos 2000, mas com ênfase em sustentabilidade, eficiência e tecnologia — uma combinação considerada essencial para o reposicionamento do Brasil na economia global.
Desafios e riscos
Apesar do otimismo, especialistas alertam para desafios de governança e transparência na seleção dos projetos, que precisarão demonstrar impacto econômico e ambiental real.
Outro ponto sensível é a dependência tecnológica da China em áreas como inteligência artificial, telecomunicações e equipamentos industriais. O sucesso do fundo dependerá de políticas claras de transferência de tecnologia e capacitação local, evitando a criação de novas dependências externas.
Além disso, mudanças políticas ou tensões geopolíticas internacionais podem afetar o ritmo de execução e os fluxos de investimento, especialmente em um cenário de disputas comerciais globais.
“O desafio é garantir que o fundo priorize projetos estratégicos, com benefícios permanentes para o Brasil, e não apenas aplicações de curto prazo”, afirmou um economista ligado ao BNDES.
Perspectivas futuras
O fundo sino-brasileiro deverá abrir espaço para novas parcerias público-privadas, concessões de obras e investimentos conjuntos entre empresas dos dois países.
Para Pequim, o Brasil é visto como aliado estratégico de longo prazo, com forte capacidade agrícola, energética e logística. Já para Brasília, a aproximação com a China representa uma oportunidade de atrair tecnologia, diversificar a matriz produtiva e fortalecer o papel do país nas cadeias globais de valor.
O BNDES, ao assumir o protagonismo do projeto, reforça sua imagem como uma instituição moderna e estratégica, capaz de liderar o financiamento de uma nova economia verde e digital, sem abrir mão do compromisso social e regional que marca sua atuação histórica.
📊 Resumo do Fundo Brasil–China:
Valor total: US$ 1 bilhão
Participação: BNDES (US$ 400 milhões) e CEXIM (US$ 600 milhões)
Assinatura: setembro de 2025
Início de operação: previsto para 2026
Setores prioritários: infraestrutura, energia limpa, agricultura, mineração e inteligência artificial
Formato: investimentos diretos e fundos de longo prazo
Objetivo: financiar projetos sustentáveis e tecnológicos no Brasil